sexta-feira, 1 de agosto de 2025

"De um lado os rectos, do outro os crápulas"

Não tinha pensado voltar, nestes próximos tempos, à "educação para a cidadania" e muito menos à "educação sexual", a que ela parece estar reduzida na comunicação social

(e enquanto estamos distraídos ou não queremos saber, a "educação financeira" e a "educação para o empreendedorismo" ganham terreno), 

mas não posso deixar de dar atenção a uma sugestão de leitura deixada, em comentário, por Rui Ferreira, a quem agradeço: um artigo de Ana Cristina Leonardo com o título O novo padrão ocidental, saído hoje no Público que recorda coisas muito óbvias e põe a tónica num triste "sublinhado moralista", que se acentua nesta e noutras questões: "de um lado os rectos, do outro os crápulas".

Dou destaque a algumas das suas passagens.

Preliminarmente, julgo adivinhar uma certa candura naqueles que estão convencidos de que os jovens aprendem sobre sexo na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Depois, há que perguntar com frontalidade: se a educação sexual em Cidadania é tão indispensável e tem efeitos tão positivos, por que razão os resultados do inquérito conjunto da UMAR e da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género indicam um aumento no número de jovens que legitimam os comportamentos violentos no namoro? Ou ainda: como se explica o acréscimo de doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens (Expresso, 6/3/2025: “Casos entre os 15 e os 24 anos aumentaram mais de dez vezes na última década”)?

Não vale dizer-se que sem educação sexual na disciplina de Cidadania a situação seria pior. O argumento perde a lógica quando, apesar da educação sexual em Cidadania, a situação tem vindo a piorar. Baralhando as premissas, seria o mesmo que concluir que a situação não tem vindo a melhorar por obra e graça da disciplina de Cidadania. Nenhuma das formulações faz sentido. O que talvez possa fazer sentido é concluir-se que a educação sexual em Cidadania não aquece muito nem arrefece pouco. Outras soluções se impõem, sem esquecer que a escola é apenas uma das múltiplas realidades dos jovens. Numa sociedade violenta e onde o acesso à violência fica à distância de um clique, será ilusório imaginar-se poder a escola substituir-se à educação… da cidadania, precisamente (...).

As posições não têm de ser alicerçadas. Na verdade, elas servem apenas para sinalizar o lugar que se ocupa ou, melhor, o lugar que o outro ocupa. É a favor da educação sexual em Cidadania e Desenvolvimento? Se sim, é um progressista dos sete costados; se não, é um reaccionário dos pés à cabeça.

Mais coisa menos coisa, eis-nos encurralados entre aulas à Monty Python — caricaturadas com genialidade e profetismo em 1983 em O Sentido da Vida, filme onde, levando a pedagogia às últimas consequências, um professor dá uma aula de sexo ao vivo, enquanto alunos entediados lançam aviõezinhos de papel uns aos outros — e as teorias educacionais dos pais de Famalicão.

Sem comentários:

"De um lado os rectos, do outro os crápulas"

Não tinha pensado voltar, nestes próximos tempos, à "educação para a cidadania" e muito menos à "educação sexual", a que...