Novo texto do médico psiquiatra Nuno Pereira:
Há uma relação recíproca entre a motivação
e a aprendizagem. O aluno motivado quer e pode atingir objetivos que satisfazem
as suas necessidades pessoais.
O objetivo principal de longo prazo,
traduzido em competências amplas no fim da formação, deve ser desdobrado em
objetivos operacionais de curto prazo, formulados em termos de desempenho
observáveis, mensuráveis e desafiantes com resposta imediata. Os objetivos são considerados
motivadores desde que os resultados sejam rápidos e revelem o progresso.
Atente-se no poder da retroação dos jogos de vídeo.
O estudo deve ser agradável e útil.
Primeiro, porque o aluno gosta da própria atividade, ou seja, é motivado intrinsecamente;
segundo, porque o que faz é recompensado, obrigatório, importante e com
sentido, ou seja, motivado por fatores exteriores à própria tarefa. As ações
motivadas extrinsecamente (obter notas altas, valorização social, ingresso no
curso desejado, diploma, bom emprego) podem ser internalizadas, passando o
aluno a adotá-las como próprias. Há assim motivação intrínseca e internalizada.
Muitas vezes a matéria não é interessante, mas está ligada a consequências que
satisfazem necessidades de existência, de relacionamento e de realização.
O estudo torna-se uma experiência
gratificante, quando a dificuldade da tarefa corresponde à capacidade do aluno.
Se a dificuldade ultrapassar a competência pessoal, surge a frustração, mas,
quando a tarefa não representa um desafio, instala-se o tédio.
Se o aluno atribui o seu insucesso a uma
causa interna e estável como a falta de capacidade, a sua crença de
autoeficácia á significativamente afetada. Estimular a confiança na capacidade
fomenta a motivação, pelo que proporcionar experiências de êxito faculta
informação valiosa para prosseguir com sucesso. O domínio duma atividade
desafiadora cria expetativas positivas, que por sua vez melhoram os níveis de
desempenho.
Para despertar o interesse e o esforço intenso e persistente não basta
estabelecer objetivos desafiadores, oferecer pronto feedback e tornar a matéria interessante e com benefício presente e
futuro. É necessário demonstrar ao aluno de que é capaz de cumprir os objetivos
propostos. Em particular, nos 2º e 3º Ciclos, o professor pode proceder a
experiências impressivas. Por exemplo, convida o melhor aluno – visto, em
geral, como mais inteligente e de superior memória – a prestar um teste de
memória, perante a turma. Passa a ler-lhe espaçadamente uma lista de quinze
objetos, que ele, após ouvir, vai procurar repetir, primeiro, pela ordem, e,
depois, ao contrário. Certamente, não irá conseguir concluir com exatidão a
tarefa por esquecer vários itens e não respeitar a sequência. De seguida, chama
o pior aluno e ensina uma técnica mnemónica (afamada na antiguidade) que
consiste em visualizar e localizar os objetos, isto é, em associar cada imagem
a um lugar dum itinerário previamente fixado. Lê-lhe então de modo lento uma
nova lista de igual número e ele irá, muito provavelmente, executar uma prova
ótima. Trata-se duma simples e convincente demonstração de que de modo adequado
se pode potenciar a capacidade da memória para níveis extraordinários.
Sem estudo eficiente, não há consolidação
da matéria da aula. Daí que o professor deva transmitir o conteúdo disciplinar
junto com o método que permita ao aluno assimilar e consolidar a matéria e
plasmar o produto do estudo no caderno diário a apresentar na aula seguinte e
que o professor monitorizará aleatoriamente. O estudante aprende
progressivamente como rever apontamentos, compreender textos informativos,
organizar informações, memorizar e aplicar conhecimentos. Esse estudo metódico
e autónomo no próprio dia difere claramente dos habituais trabalhos para casa, tantas
vezes desfasados do assunto acabado de ministrar ou focados em partes do mesmo.
A missão de transmitir o conteúdo disciplinar associado ao método de estudo
pertence ao próprio professor e não a qualquer explicador ou tutor estranho,
que não pode controlar todo o processo. Será tão difícil formar os professores
coordenadores de grupo para que estes preparem os colegas da disciplina no
sentido de utilizarem essa metodologia integrada, fator de êxito que
influenciará fortemente a motivação para o estudo?
Nuno Pereira (psiquiatra)
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