Novo texto de Nuno Pereira:
O êxito académico, nos 2.º e 3.º ciclos do
ensino básico, assenta predominantemente na capacidade lógico-matemática e na
linguística. Daí que muitas vezes sejam desvalorizados alunos com menor domínio
do raciocínio lógico e da linguagem, mas dotados doutras competências, como a
espacial, a musical, a cinestésica ou a emocional, importantes para o êxito em
determinadas profissões ligadas, por exemplo, às artes visuais, à música, ao
desporto ou à liderança, respetivamente. Mesmo num ensino centrado no aluno com
respeito pela pluralidade do intelecto, todos têm de saber responder a
questões, resolver problemas, produzir textos, compreender e expressar-se a
nível oral e escrito. Há porém frequentemente descontinuidade entre o
conhecimento da matéria e a sua utilização proficiente. Muitos jovens, quando
postos perante uma prova, bloqueiam ou saltam precipitadamente para conclusões
erradas por processamento defeituoso da informação fornecida, devido a ansiedade
excessiva e/ou falta de disciplina intelectual. Pensar de modo racional exige esforço
e controlo da atenção. O que é natural para uns não é para outros. Ora cumprir uma
série ordenada de etapas permite manter concentrada a atenção e corrigir
inconsequências.
Evidentemente, os alunos com dificuldades beneficiam
mais em utilizar estratégias simples de carácter geral, passíveis de aplicar a
muitas situações. Nas questões, por exemplo, de indicação, justificação,
relacionação ou determinação, adquirir o hábito de, primeiro, salientar o
pedido e os dados (se houver) e, depois, ligá-los à solução, num encadeamento
completo e com sentido. Também na produção de textos de tipologia variada,
nomeadamente descritivos, narrativos, argumentativos ou científicos, manter
presente a linha comum dos três passos clássicos – introdução, desenvolvimento
e conclusão. No caso particular duma língua estrangeira, desenvolver a
compreensão e a expressão orais e escritas, através dum programa acelerador da
aprendizagem e complementar das aulas, que sistematize todo o edifício da
língua e crie, por meio áudio, condições próximas da primeira socialização dos nativos,
baseada na imitação. Para tal, organizar um conjunto de lições compactadas, com
apresentação progressiva de uma parte estrutural (padrões lexicais) e outra
dinâmica (conversação), o que, mediante a leitura, a escrita, a audição e a
reprodução imediata ao ritmo de cada um, permita não só adquirir a pronúncia
correta, como interiorizar as regras gramaticais, sem recurso às reiteradas
explicações e aos penosos exercícios.
Aprender a refletir de modo disciplinado
torna a acumulação de conhecimentos num saber ativo. Porém, a simplicidade deve
constituir a pedra angular de todo o processo para haver melhoria do desempenho
com menor esforço.
Nuno Pereira (psiquiatra)
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