sábado, 6 de março de 2010

A propósito do "bullying" - Passatempo com prémio


A PROPÓSITO
do - agora tão falado - bullying, e no seguimento das crónicas que Rui Baptista publicou no DRN acerca desse assunto [aqui e aqui], este blogue, mais uma vez em colaboração com o Sorumbático, propõe aos seus leitores a discussão desse problema.

Será atribuído um exemplar do livro cuja capa aqui se vê ao melhor comentário que seja feito - aqui - até às 24h do próximo dia 8, segunda-feira.
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Actualização (9Mar 10/22h19m): O De Rerum Natura e o Sorumbático decidiram atribuir a seguinte classificação: 1.º: GMaciel; 2.º e 3.º (ex-aequo): Luis Ferreira e Rui Guimarães.
Os três têm, a partir de agora, 24h para escreverem para premiosdepassatempos@iol.pt indicando 3 dos 4 livros disponíveis (por ordem decrescente de preferência - ver [aqui]) e morada para envio.

24 comentários:

Anónimo disse...

Olá a todos,

Desde os meus tenros momentos de convivência escolar ( já lá vão uns anitos), lembro-me de sempre existir este tipo de violência entre colegas, agora fica bem chamar a isso " Bullying" e toda a gente fica chocada e estupefacta com estas ocorrências,antigamente ninguem ligava a isso, e nós, miúdos,sozinhos, tínhamos que nos safar sozinhos, era o começo da grande lição de vida, a lei da sobrevivência, e era assim que aprendíamos a crescer.
Natacha

Helena Serrão disse...

as escolas são territórios cruéis, há agressões e agressões, as piores as que me parecem mesmo com consequências mais nefastas são os insultos tipo: maricas!, na idade da puberdade é fatal. mas é preciso distinguir nem toda a agressão é bullying (a propósito porque não arranjamos a nossa própria palavra?perseguição na escola)

Carlos Medina Ribeiro disse...

Escolheu-se, para prémio, um dos livros do "Menino Nicolau" porque toda a colecção descreve, abundantemente, o ambiente numa escola francesa (por sinal, em termos arquitectónicos, muito semelhante a outras portuguesas) da 1ª metade do século passado.

Nessas histórias, os fenómenos de 'bullying' são frequentemente referidos (há o "mau", o "eternamente gozado", a "vítima preferencial", o "marrão", etc.; mas há, também, algo que, por cá, escasseia: a existência de vigilantes com autoridade para meter na ordem os putos, com a consequente aplicação de punições adequadas. No fundo, o que também havia por cá quando os mais velhos de nós andavam na escola.
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NOTA: Como pode haver quem ache que um livro humorístico (como o que se anunciou como prémio) não se coaduna com a gravidade do tema, haverá alternativas, à escolha:

«As Boas Consciências», de Lydie Salvayre (em homenagem aos que acham que está tudo bem); «Justiça», de Friedrich Duerrenmatt (tendo em conta que, em Portugal, os crimes raramente têm consequências para quem os pratica)
e «Juventude», de Joseph Conrad (por motivos evidentes)

Luís Ferreira disse...

Não é pelo livro do menino Nicolau, mas por não deixar o assunto sem comentário.
Sou professor há vinte anos. Não conheço os estudos psicológicos sobre o fenómeno, mas creio que devem existir e bons.
Sei umas poucas coisas. Tentarei descrevê-las sucintamente, sabendo-se que são assuntos com causalidades complexas.
1) Fenómenos de violência entre jovens sempre existiram, o problema é que hoje existe um problema de autoridade e de impunidade, nas famílias e nas escolas.
2) A impunidade e falta de autoridade na escola têm contribuído, nos últimos anos, para o aumento exponencial da pequena indisciplina, algo que mina todas as relações, entre professores e alunos e entre alunos.
3) As direcções das escolas, preocupadas com os casos de grave indisciplina ou violência, têm descurado e até desvalorizado a pequena indisciplina e violência.
4) Os currículos, os programas, a falta de condições, os professores mal preparados e mal supervisionados, os vários anacronismos da escola... têm contribuído para a indisciplina geral no contexto da sala de aula.
5) O espaço escolar, lugar de um duplo apartar das crianças do convívio dos adultos, favorece toda a sorte de micro-territórios onde as sociabilidades são regidas pelas lógicas de variadas psicologias adolescentes.
Este último aspecto tem ocupado as minhas observações e preocupações. Vejo escolas culturalmente pobres, onde nada acontece cultural ou socialmente relevante, onde o único contacto que as crianças têm com um mundo dos adultos é através de situações em que aquelas estão numa situação de passividade e alvo de desconfiança. É, claramente, a caricatura real das escolas que são autênticos depósitos assistencialistas de crianças.

Catarina disse...

A lei da sobrevivência a que a Natasha se refere já não é bem assim. Os métodos de intimidação já se modernizaram também e tornaram-se mais abrangentes. As crianças que são alvo desta intimidação são de natureza passiva.
“Perseguição” para “bullying” talvez também não englobe tudo aquilo a que o “bullying” se refere - as tais práticas de intimidação – chamar nomes, humilhar, tiranizar, assediar, bater, agredir, roubar, empurrar, intimidar, aterrorizar, e todas as práticas ao alcance do “bully” para, de forma sistemática, fazer sofrer – fisicamente e psicologicamente – a vítima. E não esquecer o “bullying” através da net.
Hoje em dia, ninguém – nem pais, nem professores – deverão classificar determinados incidentes como “brincadeiras de crianças”.
Estudos feitos indicam que estes “bullies” vem de um seio familiar que já se desintregrou, onde não há demonstrações afectivas, onde há pouca supervisão.
Tem que haver políticas bem definidas e que se devem implementar relativamente a estas práticas.
Na América do Norte, por exemplo, em casos de agressão física, álcool ou droga, a polícia intervem logo. O aluno é suspenso de imediato. Esta suspensão imediata é a penalidade mínima quando há por parte dos alunos ameaças de qualquer tipo, actos de vandalismo, posse de drogas; os alunos são logo suspensos se proferirem obscenidades aos professores e as outras pessoas em cargos de autoridade. Portanto, há um código de conduta que deve ser observado por todos os intervenientes no sistema de educação: alunos, pais, voluntários, docentes e não docentes. E isto acontece tanto no espaço escola, como nos autocarros escolares ou em quaisquer actividades escolares. “Zero tolerância” relativamente a violência e posse de armas ou de drogas é a política em vigor.

GMaciel disse...

O bullying não é um fenómeno de hoje, muito menos se circunscreve a escolas periféricas - as chamadas problemáticas - ou a escalões sociais mais baixos. A minha experiência de mãe, presente e activa, mostra-me que o nível de formação parental e/ou social não são impeditivos, apesar dos psicólogos insistirem na exclusão como fonte principal das ocorrências. Tenho assistido a pais aflitos que garantem já tudo ter tentado para controlar o seu “petiz” e nada ter resultado, a outros que, arrogantemente, negam qualquer veracidade às queixas alegando que o professor apenas colocou o seu filho “de ponta”, etc, etc, etc.

No meu tempo, os autores da humilhação restringiam-se a um pequeno grupo ostracizado por todos os outros alunos, limitando, dessa forma, a sua actuação. Hoje em dia e confirmando o velho adágio, se não os podes vencer, junta-te a eles, esse grupo alargou-se e tornou-se popular entre a comunidade escolar.

A perda de valores, ou a sua substituição pelo fútil, a demissão sistemática dos pais na educação dos seus filhos, a perda gradual da autoridade das escolas e seus docentes, são as razões predominantes do caos no qual as escolas se tornaram. A degeneração da escola como instituição chegou ao cúmulo de se verem admoestados os professores que interferem em situações de bullying. E posso garanti-lo porque conheço uma professora que viu a sua avaliação sofrer pelo facto de o fazer sempre que se depara com “coisas de miúdos” – eufemismo generalizado.

Cabe à escola mudar o paradigma, com ou sem o patrocínio do ministério – que, duvido, se manifeste em tempo útil e sem a pressão da escola e dos encarregados de educação. Tudo o mais é conversa e perda de tempo.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Quando eu andava no liceu era o mais novo da turma, com as consequências habituais nesses casos - embora a violência entre jovens, nessa época, não passasse de umas caneladas ou de uns murros.

De qualquer forma, esse meu problema de inferioridade física só se resolveu quando, farto de levar "porrada", resolvi aprender defesa pessoal!
Eu e outro jovem nas mesmas circunstâncias dirigimo-nos ao ATENEU, e quisemos inscrever-nos no judo. Era, no entanto, necessário comprar um quimono, e não tínhamos dinheiro para ele!

Fomos, então, encaminhados para a luta greco-romana (!), onde se podia usar uma roupa qualquer.

Nem sabíamos onde nos estávamos a meter!
Depois da primeira sessão de treino, ficámos de cama sem nos podermos mexer, com distensões em todo o corpo.
Mas, depois de recuperarmos, voltámos lá... e acabou por valer a pena: em pouco tempo, os músculos cresceram, a auto-confiança também, e nunca mais levámos "porrada" dos outros...

Ah!, e também não demos!

Carlos Medina Ribeiro disse...

Já agora, uma aspecto importante:

A quase totalidade das cenas de violência entre jovens davam-se FORA da escola.
Se fossem no interior dela, havia, infalivelmente, uma ida ao "Director de Ciclo" ou - pior ainda! - ao Reitor, e uma repreensão (eventualmente "registada") ou uma suspensão, que eram punições temidas.
Havia ainda o caso-limite da expulsão, evidentemente, mas era relativamente raro.

Acresce que tudo isso se passava numa época em que os pais, sabendo desses castigos, os "reforçavam", em casa, com umas boas lambadas...

José Batista da Ascenção disse...

Esta coisa do "bulingue" faz-me lembrar "bulir".
Quem sabe se é por os pais bulirem pouco com os seus (poucos) filhos (eles dão trabalho, e agora andamos todos muito ocupados com as carreiras, e com as avaliações que fazemos uns aos outros, por isso é melhor entregá-los às televisões e à lixeira da internet...), que os filhos começaram a bulir indevidamente com os próprios pais, com os avós e com os professores, para além de com os próprios colegas, como nós também fazíamos (dando ou levando), mas agora com uma insensibilidade que parece crescer desmesuradamente? Poderão as emissões televisivas actuais e a pornografia incontrolável da internet tornar-se fábricas massiças de nazismo entre os nossos (relativamente) poucos jovens?
Abrenúncio! Credo! Cruzes!

platero disse...

PERGUNTA
:
todo o percurso pessoal de Sócrates não será um caso paradigmático de Bullying político?

FS disse...

O desagravamento e a preferencial extinção do fenómeno recorrente na escola (pública) conhecido como 'bullying', exige a acção de diversos intervenientes: primeiro, do Estado (e suas políticas educativas) que deve promover a equidade de tratamento entre alunos; segundo, das direcções de escola (que têm a responsabilidade de desenvolver regulamentos que promovam comportamento escolar adequado e sancionem condutas reprováveis, como a que se aborda aqui); e, por último, dos pais (que são os principais educadores e potenciadores de formas de agir e pensar civilizacionais nos seus filhos).

Filipe J. Sousa

FS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
j disse...

Estas bulinguices dão-me cabo da paciência. De tal modo que até me saiu "massiças" por (obviamente)maciças (ver meu comentário anterior). É horrível, se me lembro de que algum aluno meu leia, tremo de pavor, se me recordo da minha avó tremo de pensar como ela resolvia facilmente certos problemas. Que eu saiba, perto dela nunca nenhum petiz ou graúdo "bulingou" quem quer que fosse...
Agora é o que se vê: baixámo-nos demasiado, e como as vestes sócio-comportamentais são as que são, ficam as nossas "vergonhas" miserandamente expostas.
E mais não digo, que me sinto desconfortável...

Rui P. Guimaraes disse...

A violência, física ou psicológica, nas escolas sempre existiu e, sendo um reflexo da sociedade, sempre existirá. Antes de tomar quaisquer medidas para combater este fenómeno interessa compreender a sua natureza neste contexto.
Há escola exige-se uma politica de disciplina clara que sirva de referencia igual para todos e à vista de todos. Uma constituição, com direitos bem patentes, e um livro de regulamentos disciplinares onde as diferentes infracções e as suas penalizações são previstas. Que fiquem registados os casos de indisciplina e que se acabe com a visão que “andar à porrada” é brincadeira de crianças. No outro lado, como educação civil, procurem-se penalizações que ajudem os alunos a encontrar os valores sociais que ignoraram. Em casos de “bullying”, não lhes tirem o subsidio escolar, que, não só não educa nada, como obrigará os pais a tirar os filhos da escola em muitas das situações. Primeiro, obrigue-se o aluno a repensar a infracção que foi feita aos valores defendidos pela tal constituição. Segundo, incentive-se uma penalização que envolva esses mesmos valores. Dêem aos alunos uma oportunidade de ganhar estes valores antes de passar a castigos mais pesados. Poderá ser por acções de carácter civil como limpar parte da escola ou organizar a biblioteca. Mas também poderá ser pela alteração do programa escolar daquele aluno em particular, obrigando-o, por exemplo, a ter disciplinas extra de carácter moral. Nada melhor que o desporto escolar para aplicar estes princípios. Não se ensine simplesmente a técnica mas acima de tudo as virtudes do desportivismo. Um “bully” poderá, por exemplo, ser obrigado a frequentar um desporto cujo treino ocorra todos os dias e onde se ensine a importância da colectividade. Não só perdia muito da energia para o “bullying” como passava a adquirir valores inerentes ao desporto.
Lembro-me perfeitamente do terrível Lourenço da minha primária. Mais do que partir vidros e roubar bolas de futebol, era conhecido por ser um feroz combatente. Afastava-me normalmente dele e um dia veio para a minha beira brincar. Passado o nervosismo inicial achei-o um miúdo como os outros. O que dava ao “cigano” para se tornar tão violento não sei. Mas entre castigos e expulsões nunca ninguém procurou descobrir. Lembro-me de um colega na secundária, o André, que me costumava oferecer porrada. Não lhe respondia às provocações e nunca aconteceu nada. Um dia contei a um amigo que ficou espantado sobre a atitude do André pois este era o maior “santinho” à beira dos pais. E contou-me então como o André era espancado sempre que fazia algo de errado e realmente cheguei a ver uma série de pontapés que levou do pai. Não admira portanto que o André oferecesse o mesmo tratamento aos colegas de quem não gostava. De resto, quando crescemos, até nos tornamos amigos. Contaram-me a certa altura que a minha turma nem era das piores. Na do meu colega, alguém tinha atirado a cadeira ao “prof”. O aluno conhecia bem o carro do “prof” que não só teve medo de impor o respeito como ainda veio pedir desculpa ao aluno. Os poucos processos disciplinares eram reservados a casos muito graves que de resto até podiam ser respondidos pela polícia. Não interessava minimamente se o Professor tinha autoridade ou não. Pouco lhe valia quando lhe fizessem a “esperinha” fora da escola. Havia demasiado medo dos vários bairros sociais ali há volta. Mais do que não haver recursos humanos não havia uma estrutura escolar prevista para combater a indisciplina. Cabia a cada professor que, isolado, quando queria, lá fazia o que podia. É necessário criar um estrutura escolar devidamente definida que combata o bullying e a indisciplina em geral. Que reflicta já a estrutura da sociedade que construímos, segundo os valores que apadrinhamos e que, colectivamente com pais e professores, accione com claridade os dispositivos educativos necessários para transformar a atitude do aluno. Não serve ignorar, não chega castigar, é preciso educar.
(excerto do meu blog: http://murmuriosdolonge.blogspot.com/2010/03/o-bullying-e-um-fenomeno-natural.html)

Mg disse...

Um fenómeno que preocupa ou um sinal (para não lhe chamar moda) dos tempos modernos?

Sempre houve, há e haverá alguém, que na escola, no trabalho ou em casa sofre algum tipo de pressão.

O problema reside, hoje, na pressão da sociedade. Porque todos tem de ser doutores, todos têm de ter um telemóvel à nascença, todos tem de usar roupa de marca, e andar no judo, no karaté e no Inglês. Todos, também, têm de ser super-homens e estar sempre à altura de se defender de um ou outro colega maior ou com tique de super-estrela de novela das 7 da TVI.

Já não há lugar para mariquinhas! Antigamente, andávamos à porrada na escola, e chegávamos a casa rotos ou pisados. Invariavelmente, perguntavam-nos o que andamos a fazer e lá se contava a história.
- “Amanhã, apanha-o desprevenido e dá-lhe 2 sopapos valentes. Vais ver que não se volta a meter contigo.” era a resposta habitual e a “receita”, regra geral, resultava.

Hoje não. Hoje é bullying e a criança lá terá de ir para o psicólogo.

Antigamente, rompíamos os joelhos a andar de bicicleta e duas bisnagadas de mercúrio resolviam a coisa, a tal ponto que, no dia seguinte, já se podiam arrancar as crostas, mesmo que isso doesse.
Hoje, já são necessárias 2573 vacinas e o antibiótico da praxe, sem contar com a visita à urgência do Hospital.

Trabalhava-se e descontava-se a partir dos 13/14 anos. Hoje entra-se na escola e só se sai de lá doutor, nem que seja aos 50!

Brincava-se na rua, até ser noite escura. Hoje, tem de se estar em casa antes do pôr-do-sol, quanto mais não seja para nos rodearmos de tecnologia. Sim, porque o ar puro (ou ar livre) é coisa de antigamente e de gente velha e ignorante.

Há televisão (e em vez de 2 ou 4 canais, são 2 ou 4… mil), consolas, Internet e um sem número de actividades extracurrriculares. Antigamente, faziam-se bolas de futebol com meias e conduziam-se carrinhos de rolamentos, ideais para dar uns trambolhões.

Crescia-se, forte e saudável como hoje. Talvez até mais.

Havia gripes, e, inclusivamente, alguns morriam doentes. Hoje, inventam-se nomes pomposos de Gripes A (talvez seja gripe para “anjinhos”) e, morrendo alguns, como dantes, louvam-se as farmacêuticas por nos terem “dado” a milagrosa vacina.

São os tempos. E os tempos são diferentes.

Não sei até que ponto este fenómeno é tão grave e preocupante quanto isso. Existiu, existe e existirá. A propaganda é que é maior e a triste necessidade que a sociedade de hoje tem de se alimentar de tristezas e misérias só serve para empolar fenómenos que sempre existiram e que sempre (de uma forma ou de outra), se resolveram.

Suicidou-se uma criança. Lamento. Por ela e pelos pais, principalmente.

Mas quem me garante que esse infeliz episódio não foi, apenas e só, a ponta de um iceberg gigantesco que se mantém, ainda, dissimulado?

A pressão da sociedade, numa época onde tudo anda a 200 à hora, a obrigatoriedade de termos de ser super-heróis e sobredotados, o tempo que falta para os pais (ou que falta por parte dos próprios pais), para a família, para as brincadeiras de rua, simples e genuínas, a falta da liberdade do antigamente e da despreocupação (saudável) perante o futuro é algo que gera, forçosamente, desequilíbrios.

Se lhe querem chamar bullying e fazer disso a raiz dos problemas de tantas e tantas crianças, tudo bem.

O problema, porém, é bem mais vasto e transversal. E isso, muita gente ainda não viu, ou não quer ver.

Mas isso sou eu a dizer. E, bem vistas as coisas, que raio sei eu, que usei mercúrio na minha infância sendo certo e seguro que isso é coisa que dá cabo da cabecinha e nos tolhe o raciocínio?

José Batista da Ascenção disse...

Ele há dias em que não se deve mexer no teclado.
Pois não é que julgo inadmissível alguém não se identificar neste sítio com o seu verdadeiro nome, como é pedido, e eu próprio, sem saber como, deixei o meu segundo comentário a este "post" assinado apenas com a primeira letra do meu nome, em minúsculas, um "j".
Não acredito em bruxas, mas não volto mais aos comentários deste post. É a minha auto-penitência.

Rui Baptista disse...

Caro Rui P. Guimarães:

Apreciei o seu post. Se me permite, apenas um reparo: "andar à porrada na escola", não incluo, propriamente, no fenómeno bullying. Pressupõe uma agressão a que se responde com outra agressão.

Sem capacidade física ou psíquica de resposta, no bullying é-se agredido, gozado, vítima de chacota para gáudio de colegas boçais que assistem ou mesmo secundam.

De certo modo (embora conceda não ser a melhor), é uma forma de iniciação do jovem para vida adulta onde se deparará com situações em que "la vie en rose" só existe na canção lamecha da Edith Piaff.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Embora, quem quiser - evidentemente! -, possa continuar a abordar aqui o assunto, para efeitos do passatempo o prazo terminou às 24h de ontem.

Quando for conhecido o nome do vencedor, tal será indicado numa "actualização" a afixar no próprio 'post'.

Fartinho da Silva disse...

O texto do Rui Guimarães é sintomático do que se passa na "escola" pública.

Diz o comentador que se deve criar uma constituição!!!! Uma carta de direitos!!!! Que se deve educar o aluno através de não sabe bem o quê!!!

Será que o Rui Guimarães não sabe que tudo aquilo que referiu já EXISTE????

E quais são os resultados???

A ignorância militante dos defensores do sistema actual é deveras surpreendente, estão sempre a oferecer como solução as "soluções" existentes! Se não sabem como está organizada a "escola" pública actual, informem-se!

Sinceramente, estou saturado de conversa fiada que não resolve nada de coisa nenhuma...

Mas, pensando bem, enquanto a "escola" pública continuar assim, o meu colégio privado continuará a encher todos os anos!

Rui Baptista disse...

Meu Caro Fartinho da Silva:

Muito resumidamente.

As escolas particulares com contratos de associação, regendo-se sob a batuta do ensino oficial, têm a vantagem satisfazer o ego de certos paizinhos que podem blasonar à mesa do café entre amigos: "Cá o(s) meus filho(s) não anda(m) em escolas oficiais, andam em colégios"! Fazem figura e não gastam dinheiro...

E assim, se contribui para que a prestigiada escola pública de anos atrás (os então chamados liceus) se arraste pelas ruas da amargura por sofrer de uma doença que um simples antibiótico não deixaria transformar numa septicemia de desfecho imprevisível...e, por vezes, fatal!

De Rerum Natura disse...

Ver "actualização" acabada de afixar, onde se indica a classificação atribuída e o que os vencedores deverão fazer para receberem os respectivos prémios. Obrigados a todos!

Rui P. Guimaraes disse...

Obrigado pelo premio, já nao me lembrava da ultima vez que tinha ganho alguma coisa...
O texto saiu mutilado. Foi "bullyiado" pelo sistema que, por muito que eu insistisse, nao deixava enviar a mensagem com mais de 4096 caracteres. Eu já ia com quase 8000 quando descobri esta limitacao.

Agora aqui, no "discurso" da recepcao do premio, vou aproveitar para responder a alguns comentarios que entretanto surgiram com referencia ao que escrevi:

Rui Baptista disse: ""andar à porrada na escola", não incluo, propriamente, no fenómeno bullying. "

O meu texto era sobre a indisciplina e violencia na escola em geral, do qual o "bullying" é apenas um fenomeno particular. É precisamente na parte geral que se devem tomar medidas. A porrada nao é uma iniciacao na vida. E toda a porrada comeca com um acto de "bullying". Uns defendem-se outros nao, seja por nao poderem seja por nao quererem. De resto a violencia é intoleravel na vida adulta e tal deve ser levado como intoleravel desde cedo.
Lembro de um míudo grandalhao na minha infancia que levava porrada todos os dias dos colegas. Era o dobro do tamanho da maioria dos miudos que adoravam dar lhe pontapes por este nao se defender. Lembro me de lhe dar um, incentivado por um amigo que já lhe estava a fazer o gosto, e sentir-me mal. Porque haveria eu de bater neste pobre coitado, um imbecil, que de resto era como bater em mortos? A certa altura o rapaz realmente aprendeu a defender-se. Quando percebeu que na verdade era mais forte que os outros miudos comecou a oferecer porrada também. A vitima passou a agressor. Nao acredito nessa ideia de que a violencia é necessaria para iniciar a vida. Apesar de ter andado à porrada quando era miudo, pois tinha que impor certos limites, acho que nao aprendi nada com esses episodios e vivieria feliz sem eles, se sentisse que havia alguem para impor justica que me assegurasse que a ameaca fisica nao se repeteria. A verdade é que nas escolas impera a lei da selva. Os funcionarios aparecem quando é já para levar alguém ao hospital. E nao há nada na escola a que se possa chamar justica. Já ouvi falar de alguem, que vendo os miudos à porrada, pegava neles, dava lhes umas luvas e punha os num ringue. Nao acho má ideia, se bem que dificilmente seria aceite pelos peritos em pedagogia. É que agora estamos a falar de competicao desportiva. Há regras, há uma competicao saudavel e há livre vontade. É exactamente num contexto como este que todos tecemos diários confrontos se bem que nao incluam uma componente tao fisica como o boxing. Uma coisa que também se ganha muitas vezes por quem pratica desporto regular é o respeito pelo adversário. Comecamos a descobrir que por muito forte que sejamos há sempre alguém mais forte. Daí sugerir um programa desportivo especifico para os indisciplinados.

O Sr. Fartinho da Silva avisa-me que regulamentos e cartas de direitos já existem. Existir, existem mas sobre a indisciplina sao muito vagos. Lembro-me de ter participado na criacao do primeiro regulamento interno da minha escola secundária que seria depois distribuido pelos alunos. Até aí havia regulamentos mas eram feitos ao sabor dos acontecimentos. Basicamente, o que lá vem, é " o infractor será devidamente castigado". Sugiro que se comece por mudar esta situacao. Porque, quer goste quer nao, se principios e regras nao forem explicitamente declarados sao como se nao existissem. Definam as infracoes indisciplinares concretamente e as accoes que um conselho de disciplina possa tomar, nao só os castigos, mas as medidas educativas, se necessário alterando mesmo o programa escolar do aluno em falta. Registem a indisciplina e criem ferramentas especiais para os reincidentes. Criem estas estruturas e deem lhe mais margem de manobra, porque se querem realmente melhorar a sociedade, é exactamente nas relacoes interpessoais que tudo comeca.

Rui Baptista disse...

Caro Rui P. Guimarães:

Um abraço de parabéns.

Diz o povo que no "comer e no coçar o mal está no começar"... Espero que a roda da sorte que, finalmente, se virou para si o faça ganhar o Euromilhões deste fim-de-semana!

A sua referência ao box, trouxe-me à lembrança algo qure li em tempos.Em certas escolas inglesas questões as desavença entre estudantes são resolvidas com luvas de box com arbitagem de um professor. Box, um desporto com regras de gentleman. Por cá, estas questões terminam à rufia: ao pontapé, à cabeçada e, não poucas vezes, à dentada...

Mas como terá lido eu não defendo cenas de pancadaria (embora as não tenha como bullying na verdadeira acepção do conceito que lhe subjaz), assim como não defendo uma educação feita numa redoma de vidro que isole o jovem da vida que o espera em adulto. Como se defenderá ele de um indivíduo (sem ser daqueles de "naifa" na mão, que o insulta ou à família, tendo que passar, por vezes, a vias de facto? Dando-lhe lições de moral?

Já agora não resisto a contar a cena de um irmão de um colega meu de liceu, universitário na altura, que namorava uma jovem de fazer parar o trânsito. Farto de ouvir piropos nada inócuos que lhe eram dirigidos mesmo na sua presença resolveu aprender judo.Dito e feito!

Subia ele, um dia o Parque Eduardo VII, em Lisboa, de braço dado com a cachopa que era o seu ai Jesus…eis senão quando um ardina lhe dirige um piropo de fazer corar o carroceiro mais empedernido. Qual magriço lusitano em defesa da sua dama,dirige-se de peito feito ao ardina em atitude de desforço. Leva ,de imediato, uma cabeçada na boca que lhe partiu um dos dentes.

Quando o vi indaguei do sucedido. Lá me contou a sua odisseia que me mereceu a pergunta:“Então, o judo?”Pesaroso, respondeu-me: “Nem me fales nisso, quando estava a pensar na maneira de o agarrar pela camisola (como é óbvio, ele não levava quimono) levei com a cabeçada…”.Convém esclarecer que ele tinha feito a sua iniciação no judo,apenas, escassos meses atrás…

Seja como for, como escreveu Sá de Miranda, “tudo seus avessos tem”. A forma de fazer erradicar o bullying ou, na melhor das hipóteses, diminuir os seus efeitos está longe de surgir qual tónico capilar que cure a calvície.

Ainda hoje, meio estremunhado, ouvi ao longe na televisão que uma “doce” criancinha tinha atirado uma cadeira a um(a) professor(a). Até quando, meu Caro Rui P. Guimarães? Até quando, interrogo-me a mim próprio?

GMaciel disse...

Muito obrigada pelo prémio, não esperava e nem pensei nele quando aqui opinei.
Ontem mesmo, depois das 21:00 h, enviei o e-mail com o solicitado, mas parece que algo não correu bem, daí tê-lo reencaminhado há coisa de minutos. Espero não ter feito asneira desta vez.

:)

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...