sexta-feira, 19 de março de 2010

Fórum Inovação e Futuro em Leiria


Com a devida vénia trancrevemos o relato do Fórum Inovação e Futuro promovido anteontem pelo "Jornal de Leiria" e que contou com a participação de Paulo Ferreira da Silva (Renova), Elvira Fortunato (Universidade Nova de Lisboa), Edmundo Nobre (YDreams), Guta Moura Guedes (Experimenta Design) e Carlos Fiolhais (Universidade de Coimbra), para além do autor norte-americano Daniel Pink:

Maior ligação entre ciência e cultura estimula inovação

A criatividade e a inovação devem ser encaradas como um “paradigma nacional” e a relação entre cultura e ciência pode ser um aliado na luta contra a crise. Estas foram algumas das conclusões do Fórum Inovação e Futuro, promovido pelo JORNAL DE LEIRIA, que ontem encheu por completo o auditório da ESTG. O encontro, que será repetido no próximo ano, contou com a presença Daniel Pink, guru da gestão organizacional.

Uma maior aproximação e comunicação entre os mundos da ciência e da cultura pode funcionar como uma alavanca “altamente transformadora” da sociedade, porque são áreas com uma capacidade “brutal” para produzir inovação e desenvolvimento. Estas foram algumas das ideias-chave defendidas durante o painel O papel da inovação e da criatividade no desenvolvimento – aproximação ao futuro, inserido no fórum promovido pelo JORNAL DE LEIRIA.

Para Guta Moura Guedes, directora da Experimenta Design, é preciso “reformular estratégias”, invertendo a tendência actual da generalidade dos Estados e das empresas, que “não vê a cultura como um vector de desenvolvimento estratégico”. “Estamos a desperdiçar um potencial enorme, que reside na interligação entre a cultura, a criatividade e a ciência.”

Também a investigadora Elvira Fortunato considera que “tem de haver uma aproximação muito maior entre os artistas e os cientistas”, com a criação de equipas multifacetadas, com diversas formações e origens culturais. “A inovação parte dessa transversalidade”, defende a directora do Centro de Investigação de Materiais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que conta com um artista na sua equipa de investigadores.

Socorrendo-se de uma citação de Einstein, que dizia que “a imaginação é mais importante do que o conhecimento, porque o conhecimento é limitado e a imaginação dá a volta ao mundo”, Carlos Fiolhais destaca a importância da criatividade na aquisição de conhecimento. “O mais importante não é o que se sabe, mas a forma como se sabe”, diz o físico, para quem a “imaginação é a arma do saber”, fundamental nas actividades criativas e na ciência.

A importância do contexto e do ambiente na capacidade inovadora das pessoas foi outro dos temas abordados pelos oradores. “Nascemos inovadores, mas educa-se também para a inovação”, defende Carlos Fiolhais, afirmando, no entanto, que “não há receitas, nem cursos para a inovação” e que esta surge, sobretudo, da obsessão em resolver problemas.

“A inovação é não fazer mais do mesmo. É o valor acrescentado da criatividade
”, acrescenta Elvira Fortunato, que reconhece que “o contexto poder fazer a diferença, mas não é determinante”. Perante a “incapacidade de Portugal de competir com os grandes”, Guta Moura Guedes diz que a solução passa por “descobrir caminhos ainda em aberto”. Até porque, como ironiza Carlos Fiolhais, “o cérebro português não tem nenhuma inferioridade em relação aos outros”.

Inovação quer-se “sexy e glamorosa”

Conhecido pelo carácter inovador que tem imprimido à Renova, Paulo Pereira da Silva, presidente do Conselho de Administração, defende que, para uma inovação ser viável, “tem de fazer sentido, ser desejada pelas pessoas, ser glamorosa, sexy, bem vendida e competitiva do ponto de vista dos custos”. O empresário lamenta a falta de cultura científica em Portugal, mas ressalva o salto dado nos últimos anos, com o aumento do investimento das empresas em inovação e em criatividade. “A nossa sobrevivência como empresas vai depender disso mesmo.”

José Ribeiro Vieira, director do JORNAL DE LEIRIA, explica que o fórum pretendeu “sensibilizar os empresários e agentes económicos para as novas formas de abordagem e de análise do mundo”, promovendo a reflexão sobre a inovação, com “o intuito de caminhar para um futuro melhor”.

Sociedade e ensino ´turvam´ céu das crianças

Para Edmundo Nobre, o problema da inovação e da criatividade não se resolve apenas com maior investimento, mas sim com alterações ao nível da educação e na “maneira da sociedade se organizar em torno” dos mais novos. “Para uma criança, o céu é o limite, mas durante o seu percurso até à faculdade os seus horizontes vão sendo progressivamente nublados”, constata o administrador da Ydreams. No seu entender, o investimento em inovação “será muito mais eficaz se se começar a tentar garantir, desde cedo, que o céu das crianças não fique nublado”, criando estímulos que ajudem a contrariar a “aversão ao risco”. Guta Moura Guedes defende também mudanças no sistema de ensino, lamentando que os alunos do 1º ciclo não tenham qualquer contacto com áreas artísticas e a inexistência, na generalidade das escolas, de “uma contaminação cultural, tão determinante e transformadora” nas sociedades actuais.

Maria Anabela Silva com Elisabete Cruz

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