sexta-feira, 26 de março de 2010

O ESTUDO DAS ÁGUAS MINERAIS EM PORTUGAL


Post convidado do historiador de ciência António José Leonardo, que já aqui tem dado outras contribuições (na figura, antigo Hospital Termal das Caldas da Rainha, em gravura do século XVIII:

As primeiras estâncias termais existentes em Portugal remontam ao período romano, existindo desde a antiguidade. Jacob Castro Sarmento (1691-1762), no seu livro Matéria médica (1735), abordou as águas minerais, descrevendo algumas de Inglaterra, Alemanha e Portugal, e referiu ser muito antiga a sua aplicação mas “sobre os seus princípios não encontramos mais do que especulações imaginárias, fantasias fabulosas” . Em 1758, o Marquês de Pombal enviou um questionário aos párocos onde os interrogava “Se há no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?”

As primeiras análises químicas a águas minerais em Portugal terão sido realizadas no Laboratório Chimico da Universidade de Coimbra (UC) nas últimas décadas do século XVIII, sob a orientação de Domingos Vandelli (1739-1816), um italiano trazido de Pádua pelo Marquês de Pombal. Vandelli e os seus discípulos, nomeadamente José Martins da Cunha Pessoa e João Nunes Gago, efectuaram entre 1775 e 1781 análises das águas do Estoril e das Caldas da Rainha . Todavia, os processos adoptados eram muito imperfeitos, revelando algum atraso no que respeita à química uma vez que as ideias de Lavoisier só se tornaram conhecidas em Portugal após a publicação dos Elementos de Chimica de Vicente Coelho de Seabra Silva Telles (1764-1804), entre 1788 e 1790.

Em Portugal, o estudo das águas minerais sofreu um grande impulso ainda na primeira metade do século XIX suscitado pelo reconhecimento “que Portugal era talvez o país da Europa onde proporcionalmente ao seu território havia maior quantidade de águas minerais” apesar da ignorância das suas propriedades, aplicações e mesmo da sua localização. O valor deste recurso natural conduziu à deliberação pelo parlamento, em 1822, que se procedesse a um inventário rigoroso das águas minerais do reino, tendo-se constatado que apenas existia uma catálogo elaborado em 1726 por Francisco da Fonseca Henriques, médico do rei D. João V, com o título de Aquilegio Medicinal (do Dr. Mirandela – como ficou conhecido Fonseca Henriques, natural desta localidade). Este inventário pouco rigoroso foi reformulado, em 1810, por Francisco Tavares e editado num livro, tendo o autor eliminado as águas sem virtudes curativas e acrescentadas outras entretanto descobertas. Descreveu também, de forma mais exacta, os seus efeitos terapêuticos e as suas qualidades físicas e químicas, ao mesmo tempo que refutou os argumentos menos científicos e as qualidades milagrosas que eram atribuídas pela credulidade popular a alguma águas. Foi também citado nesta publicação o estudo das águas das Caldas da Rainha, realizado em 1793 por Guilherme Withering, um sócio da Academia Real de Ciências de Lisboa e da Sociedade Real de Londres . Este trabalho foi considerado “a primeira e verdadeiramente scientifica analyse que se fez das aguas mineraes portuguezas”. A 22 de Julho de 1822, o Barão de Mollelos apresentou numa sessão das cortes uma proposta para que procedesse a um inventário definitivo das águas minerais do reino, que incluísse análises químicas que colmatassem as deficiências dos trabalhos anteriores. Embora o governo de então tenha prontamente aceitado esta proposta e ordenado aos corregedores das comarcas que procedessem às diligências necessárias, a escassez de pessoas habilitadas e as turvações políticas que se faziam sentir impediram a conclusão desta empreitada. No Jornal da Sociedade Farmacêutica Lusitana foram publicadas em 1839 análises de várias águas em consequência de uma portaria de 16 de Agosto do mesmo ano que mandatou esta sociedade no estudo das águas minerais do reino.

António José Leonardo

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