A propósito da pouco sensata isenção de IVA das actividades relacionadas com as ditas “medicinas alternativas”, pela mensagem de justificção oficial que proporciona, voltou a discussão sobre a homeopatia.
Que a homepatia exista e haja pessoas que a pratiquem e acreditem nela, além de existirem interesses económicos envolvidos, não é um argumento é uma evidência. Mas isso não demonstra a eficácia da homeopatia. Também a astrologia e as máquinas de movimento perpétuo (agora com argumentos quânticos de “extração de energia” do ponto zero), ou os supostos mas impossíveis carros movidos apenas a água como combustível (máquinas ainda mais impossíveis que as perpétuas), têm os seus cultores e admiradores, mas isso não faz que sejam aceites pela grande maioria da comunidade científica – e digo grande maioria pois há sempre outliers em todas as comunidades. A astrologia já ninguém procura justificar em termos científicos, sendo vista como uma actividade cultural, e as propostas de máquinas de movimento perpétuo há muito deixaram de ser analisadas pelos gabinetes de patentes.
Misturei
a homeopatia com a astrologia pois pode argumentar-se de forma lógica
contra a eficácia destas duas práticas sem ser necessário fazer
estudos científicos, os quais de resto só têm mostrado que estas
não têm eficácia para além do acaso, da ilusão e do efeito
placebo. De facto, embora sejam artes bastante antigas, a homeopatia
ainda não tinha sido inventado ao tempo de Santo Agostinho, o qual,
com argumentos lógicos na “Cidade de Deus”, demonstra que a
astrologia não pode ser válida. Não sabemos que argumentos Santo
Agostinho usaria no caso da homeopatia, mas a proposta de “aumento
de potência” com a diluição escapa a qualquer lógica. Isso
transformaria toda a água na terra em medicamentos ou venenos e
quanto menor contacto tivessem (maior diluição), mais eficazes
seriam. Também a proposta de “agitações especiais” não colhe,
uma vez que havendo tanta água em tantas condições, muita dela
estaria exposta essas agitações. E poderíamos continuar por aqui,
sem qualquer necessidade de estudos clínicos (e um só aparentemente
positivo não chega – é preciso fazer a meta-análises de centenas
de estudos para termos certezas), que como é conhecido - volto a
repetir - não confirmam a eficácia da homeopatia.
A
homeopatia já tem alguns séculos. E a sua refutação tem sido
feita desde há muto tempo, mas há sempre quem queira iludir-se ou
veja nela um bom negócio. Isso não quer dizer que a homeopatia
não tenha interesse histórico para a medicina. Quanto apareceu foi
uma bênção, pois dava atenção a cada doente em particular e
recusava as sangrias e outros tratamentos perigosos. Mais do que
isso, deu a maior atenção aos testes clínicos ou pessoais, à
pureza dos princípios activos e às concentrações nas formulações.
A descoberta da eficácia da trinitrogliceria na angina de peito e
provavelmente de outros tratamentos é divida ao zelo de alguns
médicos homeopatas. Mas
isso é agora irrelevante em termos de medicamentos pois cedo a
homeopatica se afastou da lógica científica.
Como os estudos científicos não parecem convencer os crentes na homeopatia, julgo que devemos seguir a via de Santo Agostinho e atentar no alcance de argumentos ad absurdum como o de Camilo Castelo Branco,
Como os estudos científicos não parecem convencer os crentes na homeopatia, julgo que devemos seguir a via de Santo Agostinho e atentar no alcance de argumentos ad absurdum como o de Camilo Castelo Branco,
[...]
dez gotas de nux lançadas das Berlengas ao mar podiam
converter o oceano num remédio bom para as dores de estômago, de
cabeça e outras.
Os
mares da Terra têm 1,338x1018 metros cúbicos de água,
1338 seguido de dezoito zeros, ou seja 1 338 000 000 000 000 000 000
metros cúbicos. Deitando dez gotas (cerca de 0.5 mL) de nux ao mar,
estas ficariam diluidas para 7.5 x10-18
gotas de nux por litro de água, ficando com a diluição de
3.7 x10-28 em volume. Nem
vale apena argumentar que assim não teremos uma única molécula de
estricnina (o composto activo da nux) por litro de água. O
medicamento seria água do mar e podemos imaginar que em muitos
pontos do globo múltiplos venenos em inúmeros ocasiões entraram em
contacto com a água!
Que
é que isto tem que ver com as diluições da homeopatia? Sigamos a
produção de um “medicamento” homeopático de tipo 20X, 30X, 30C
ou 200C. O primeiro caso corresponde a 20 diluições de 1:10
(tira-se 1 mL da solução anterior para 10 mL de água vinte vezes,
agitando de uma “forma especial”) e isso corresponde a uma
diluição 1 x10-20. Se avançarmos no sentido
da “maior potência” (no jargão homeopático) para 30X obtemos
uma diluição de 1 x10-30 e vemos assim que a
proposta de Camilo era da ordem de um medicamento 28X. Já as
diluições 30C ou 200C envolvem, respectivamente, 30 diluições
1:100 e 200 diluições 1:100 que correspondem às diluições 1
x10-60 e 1 x10-400. É
revelador que estas concentrações sejam milhões de vezes
inferiores às que se conseguem para a pureza na água destilada!
Finalmente,
este números podem parecer muito díficeis de perceber por serem muito
pequenos ou grandes, mas os volumes envolvidos na prática são
modestos. Comecemos com 1 mL da solução de nux e juntamos-lhe água
destilada para fazer 10 mL de solução (vamos em 1X). De seguida
tiramos 1mL de solução 1X e juntamos-lhe água destilada até fazer
10 mL (vamos em 2X). De seguida tiramos 1mL de solução 2X e
juntamos-lhe água destilada até fazer 10 mL (vamos em 3X). Vamos
repetindo até chegarmos a 30X, tendo sido gastos menos de 30 vezes
10 mL de água ou seja menos de 300 mL de água e ficado com 10 mL de
uma solução 30X (relembre-se que tem diluição 1 x10-30),
9 mL de solução 29X, etc. Com esta solução 29X podemos ainda
fazer 90 mL de solução 30X, mas se de toda a solução inicial
quisessemos fazer soluções 30X, precisaríamos de quase o dobro da
água toda da terra para as fazer. Por aqui se vê que, mesmo sendo
ditas “mais potentes”, as concentrações mais baixas têm de ser
produzidas em menor quantidade (e são assim vendidas mais caro e só
devem ser “usadas por especialistas”, um argumento de autoridade
que nos conduz à vigarice), não dispensando a existência das
concentrações mais altas para ser vender com bom lucro todo o
stock de soluções quase só com água, ou mesmo, em termos
químicos, só com água.
Tudo
isto é ilógico e contrário aos mais elementares princípios da
ciência. A potência de um medicamento não pode aumentar de forma
geral com a diluição nem a forma como é feita a diluição tem
qualquer efeito. Se isso fosse verdade toda a ciência como hoje a
conhecemos estava errada. E como para grandes afirmações precisamos
de grandes provas, não são apenas uns resultados positivos ou
testemunhos que levantam dúvidas e não resistem à análise
comparativa ou mesmo interna que provam a eficácia da homeopatia. É
que mesmo que algum dia um cavalo tenha voado (algo muito pouco
provável), é preciso provar que os cavalos em geral voam e não
apenas continuar a dizer que temos de continuar a procurar cavalos
que voam, pois alguém diz que viu um.
O
que a homeopatia afirma é demasiado geral e violador da lógica da
natureza para se confirmar com provas tão fracas e ligeiras. Nesse
aspecto, volto a repetir, a homeopatia é como a astrologia: têm
lógica interna, e até podem ter interesse cultural, mas não têm
possibilidade de validação científica, sem que se ponha abaixo
toda a estrutura lógica da ciência cmo a conhecemos hoje. Ora como isso é muito pouco
provável, em especial com provas tão fracas, a homeopatia e a
astrologia não têm possibilidade de validação científica. Mas
todavia existem, não como cavalos que voam, mas como pessoas que
acreditam nisso e até fazem dessa procura um modo de vida, podendo,
por isso, ter interesse cultural e histórico. Mas não funcionam como os seus cultores acreditam ou querem fazer crer.
Posto
isto, não resta mais nenhuma explicação para os resultados
modestos da homeopatia do que a ilusão e o efeito placebo (ponho por agora de parte a possibilidade de fraude). Ora o
negócio da homeopatia, que talvez envolva interesses bem maiores do
que possa parecer - nomeadamente das farmacêuticas que procuram
todas as oportunidades de lucro - depende de forma crítica da
ilusão, caso contrário as pessoas não estariam dispostas a pagar
caríssimo por uma coisa que é água “agitada de forma especial”.
A homeopatia tem na minha opinião as mesmas características dos
artigos de luxo que as pessoas compram e ficam contentes com isso
devido a erros cognitivo bem conhecidos, nomeadamente a tendência
para seguir modas e as opiniões de figuras públicas que marcam a
moda (é curioso como as estelas de cinema são tão dadas a
medicinas alternativas ao mesmo tempo que aparecem em anúcios de
perfumes e jóias), a dificuldade das pessoas em aceitarem que foram
enganadas ou que compraram algo que não serve para nada, a visão
cor-de-rosa retrospectiva e, finalmente, a ilusão de liberdade de
escolha da publicidade.
Mais barato é as pessoas procurarem ser
menos auto-centradas e egoístas nos seus sintomas difusos, reconhecerem as suas angústias e medos, recorrerem à filosofia, terem um
sentido e uma narrativa para as suas vidas, procurarem a humanização
do outro, praticarem o altruismo, fazerem meditação e conversarem e ouvirem quem os rodeia, fazer passeios no campo e voluntariado, ter um
sentido de pertença a uma comunidade, aceitar e dar amor e carinho à
família e amigos e, já agora, viver a fé e a espiritualidade, para
quem tiver essas graças.
Imagem:
https://sciencebasedpharmacy.wordpress.com/tag/natural-health-products-directorate/
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10 comentários:
E no entanto a ciência afirma que o efeito placebo cura sem diluição ou solução. Coisa mais estranha e contrário ao efeito das moléculas!
Citou Agostinho, que acreditava na vida sem matéria, logo sem moléculas, uma diluição total! Tome lá esta de Agostinho: "Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que nós sabemos sobre a natureza."
Muito obrigado pelo seu comentário. Não conheço muito bem o que escreveu Santo Agostinho, mas calhou que tivesse lido recentemente a sua argumentação contra a astrologia que me pareceu muito adequada referir a propósito da homeopatia.
O efeito placebo "cura" (ou minora sintomas de doenças benignas) sem moléculas do princípio activo do "medicamento placebo", mas não cura sem moléculas. As moléculas que curam são as do corpo (neurotransmissores, anti-corpos, endorfinas, etc) de quem o tomou. E isso não é contrário à ideia de milagre (uma "luz" que nos maravilha) que é muito mais do que simples efeito placebo (uma pequena "luzita" que mal se vê). Essa citação de Santo Agostinho sobre os milagre é muito interessante e desafiante. E não é contrária à ciência: o que sabemos sobre a natureza é sempre limitado e aquilo que nos possa parecer um milagre por ser contrário ao conhecimento que temos, não é uma excepção, mas algo que não conhecíamos sobre a natureza. Tenho de ler o contexto dessa citação, mas, na minha opinião, um milagre não precisa de moléculas, precisa de fé, pois é algo subjectivo e pessoal.
A aldrabice chamada homeopatia não paga IVA? É extraordinário - e também me custa engolir uns anúncios que chamam "medicamento" a uma aldrabice de águua pura...
Acho que este verbete lhe assenta muito bem:
A burrice da ciência, ou a ciência da burrice
http://algolminima.blogspot.pt/2016/11/a-burrice-da-ciencia-ou-ciencia-da.html
« Isso transformaria toda a água na terra em medicamentos ou venenos » - Parece que um dia irá engolir esse facto, porque a água, essa já a vai bebendo. A água transporta 'informação', não 'venenos'. A Química há muito que sabe deste fenómeno, mas o esquecimento é o melhor remédio para as consequências de tal realidade:
Memória da Água, a verdade incontornável da homeopatia
https://www.youtube.com/watch?v=xPM29iooUKo
A Astrologia e a homeopatia são um problema científico, no entanto, as relações impossíveis começam a parecer bem reais, como pode ouvir neste vídeo. Num Universo Eléctrico, a distância não é um problema:
Scientific Studies of Cosmic Effects on the Heart | Electricity of Life
https://www.youtube.com/watch?v=76VQW3QZXaY
Ainda noutro dia havia uma pessoa a queixar-se de haver comentários... Pois eis os resultados: os comentários inúteis de quem usa Youtube e Blogues como verdades absolutas contra estudos científicos... Porque sim. Ou melhor, porque não vêem, ou não querem ver o quão ridículo isso é. Enfim, se era para isto, mais valia o blogue continuar sem comentários.
Meu caro senhor, a Ciência não vos dá autoridade para serem estúpidos. Veja se aprende alguma coisa com gente como esta e deixe-se de tretas:
https://www.youtube.com/watch?v=ttkAOS4N-a0&list=UL
A homeopatia é uma realidade hoje, mesmo que só amanhã venha a ser reconhecida, pelos que são sempre os últimos a saber, os peritos:
Super Weak Electromagnetic Emissions (SWEME) of biologically active substances (BAS) via of communication lines
https://www.youtube.com/watch?v=_aPy7DTdBbA
Aqui temos mais exemplos do ridículo: chama estúpidos aos cientistas enquanto partilha ideias da treta que não têm apoio em área nenhuma, e por isso têm que se refugiar no Youtube, onde não é feito o mais pequeno escrutínio ao conteúdo das mensagens que são passadas. Bem vistas as coisas, você (ou vocês, não sei quantos são) de certeza que já sabe isso, mas há-de acabar o mundo antes de uma pessoa que vai em teorias da conspiração admitir estar errada.
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