Meu artigo hoje na Visão on-line:
http://visao.sapo.pt/opiniao/2016-11-12-GPS---Cientistas-Portugueses-no-Mundo?utm_source=newsletter&utm_medium=mail&utm_campaign=newsletter&utm_content=2016-11-12
O Padre António Vieira escreveu que os portugueses tinham “para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra. Para nascer, Portugal; para morrer, o mundo”. Desconhecidos ou famosos sempre os portugueses procuraram outras terras, onde muitas vezes se fixaram. Portugal, começou no século XV a ser o sítio de partida para “correr as sete partidas do mundo”. Vieira passou parte da sua vida no Brasil, uma meta onde os portugueses chegaram e não tiveram dúvidas em ficar. Mas já antes de Vieira Luís de Camões e Garcia da Orta, expoentes um da literatura e o outro da ciência, estiveram na Índia. Mais tarde, no século XVIII, tivemos os estrangeirados: entre outros, Luís António Verney, em Itália, e António Ribeiro Sanches, na Holanda, na Rússia e na França. No século XX um outro expoente da literatura fez a sua formação no estrangeiro: Fernando Pessoa estudou na África do Sul. Nos nossos dias, numerosos são os artistas e os cientistas portugueses que estão espalhados pelo mundo. Basta pensarmos na pintora Paula Rego, no Reino Unido, ou no neurocientista António Damásio, nos Estados Unidos. Podemos, com toda a propriedade, falar de diáspora portuguesa. Ela é feita, na sua maioria, de gente trabalhadora e anónima, que mostra grande capacidade de integração, mas também alguns, como os nomes indicados (outros podem ser acrescentados), merecedores de notoriedade mundial.
Na ciência, depois de um crescimento enorme nos anos 80 e 90 do século passado que se prolongou para este século – e não é demais realçar o papel de José Mariano Gago, que estudou em França e na Suíça e que sempre pugnou pela internacionalização da ciência portuguesa –, muitos têm sido os jovens que se formaram ou buscaram um complemento de formação lá fora. Uns voltam e outros não. É, por isso, que se fala em “fuga de cérebros”, um problema de resto comum a outros países fora dos grandes centros de conhecimento. Principalmente nos últimos anos e devido à famigerada crise, muitos jovens altamente qualificados formados em Portugal viram-se obrigados a demandar outras paragens para obter um emprego ou uma remuneração decente, encontrando enquadramento para as suas capacidades e gostos. Os dados sobre este fenómeno não abundam, mas não será errado afirmar que o saldo de saídas e entradas em Portugal de investigadores ou, mais em geral, de profissionais científica ou tecnicamente qualificados nos é bastante desfavorável.
O GPS – Global Portuguese Scientists – ou rede de Cientistas Portugueses no Mundo é um projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), realizado em parceria com a Ciência Viva, a Universidade de Aveiro e a Altice e que conta com a colaboração das associações de cientistas portugueses em vários países (Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha), que visa colocar no mapa os cientistas portugueses que estão lá fora. O sítio abriu a 7 de Novembro, dia que coincidiu com a abertura da Websummit em Lisboa, e ao fim de três dias já contava com quase mil registos. A inscrição é simples: basta ir ao portal gps.pt e indicar poucos dados: nome, idade, área de trabalho, sítios e períodos onde esteve ou está. Um cientista GPS – e a palavra cientista inclui obviamente todas as áreas do vasto conhecimento humano e não apenas as chamadas “ciência duras” – tem de ter pelo menos uma estada de três meses lá fora. Os outros, cientistas ou não, também se podem inscrever, pare entrarem em contacto com os cientistas GPS ou simplesmente para conhecer a rede de investigadores lusos.
Os dois objectivos principais do GPS são, por um lado, recensear os investigadores portugueses residentes no estrangeiro de modo a responder às perguntas - Onde estão? O que fazem? Há ou não fuga de cérebros? - e, por outro lado, fomentar o contacto dos investigadores entre si e entre os investigadores e os cidadãos interessados pela ciência, promovendo a divulgação da sua actividade científica, tecnológica e cultural. O GPS permitirá fazer estudos sobre a circulação de cérebros e a globalização da ciência portuguesa, respondendo a questões, como por exemplo: Em que períodos se deu a maior internacionalização? Em que domínios ela é maior? O novo instrumento permitirá, de resto, acompanhar os movimentos de cientistas em directo e, acima de tudo, aproveitar, o enorme potencial criativo dos cientistas portugueses.
A nossa maior riqueza está em boa parte nos nossos cérebros, os GPS. A rede GPS, que vai ser lançada oficialmente no dia 22 de Novembro no auditório José Mariano Gago, no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa, durante o “Mês da Ciência” da FFMS, conta com eles. A sigla GPS é intuitiva: são os GPS que nos podem ajudar a encontrar os caminhos do futuro.
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