Meu artigo no "Sol" de ontem:
A ciência foi internacional desde
o seu início. Em 1609 Galileu olhou para o céu pela primeira vez com a ajuda de
um telescópio, tendo feito descobertas sensacionais: montanhas na Lua, manchas
no Sol e satélites de Júpiter. Galileu convidou todos a espreitar pelo óculo,
partilhando assim as suas descobertas. Em 1613 já existiam telescópios no
Japão, levados até lá por missionários portugueses ou estrangeiros que passavam
por Portugal, pois Lisboa era o único porto de partida para o Extremo Oriente. Foi
um jesuíta português, Luís Almeida, que levou a medicina ocidental no país do
Sol Nascente, ao fundar um hospital na cidade de Oita. Na história da ciência
mundial, Portugal desempenhou um papel essencial ao levar a ciência,
recém-nascida na Europa, a pontos remotos do globo. Se hoje o Japão, a China, a
Coreia do Sul são potências mundiais, numa economia baseada na ciência, é bom
lembrar que a ciência foi lá semeada a partir daqui.
Nas últimas duas desenas de anos
a ciência cresceu entre nós para atingir uma dimensão e uma qualidade nunca
vista. Houve uma expansão enorme de novos doutores e de novos artigos
científicos. Sendo a ciência global, não admira que muitos cientistas
portugueses se tenham espalhado pelo planeta. O seu talento permitiu-lhes
encontrar oportunidades em inúmeras instituições internacionais. Se é verdade
que o país era pequeno para eles, não é menos certo que o país não soube
aproveitar da melhor maneira a sua indiscutível criatividade. Sendo hoje o
conhecimento a riqueza das nações, Portugal poderá ser mais rico se conseguir
recolher os frutos da qualificação que proporcionou a uma geração na flor da
idade.
Mas onde estão hoje os cientistas
portugueses? Até agora não se sabia. Dizia-se simplesmente que havia muitos e
que estavam em muitos sítios, alguns há muito tempo. Agora há o GPS – sigla de “Global
Portuguese Scientists”, um portal da Internet, criado pela Fundação Francisco
Manuel dos Santos com a Ciência Viva, a Universidade de Aveiro e a Altice Labs,
em colaboração com as associações de graduados portugueses no estrangeiro, que recenseia os cientistas portugueses no mundo, colocando uma bandeirinha no mapa do Google nos sítios onde trabalham. E, olhando para o mapa – o leitor clique gps.pt
- veja como o mapa está salpicado de marcas, bem mais de mil. O maior número
está no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Alemanha e na França. Mas, focando
o olhar sobre o Extremo Oriente, encontramos cientistas portugueses no Japão,
na China e na Coreia do Sul. Os registos estão a crescer à medida que o conhecimento
do GPS se vai espalhando. Por exemplo, a Ana Veríssimo, já se registou: está na
Universidade de Saga, no Japão, perto de Nagasaki, onde os primeiros
missionários chegaram, a trabalhar em bioimpressão 3D de vasos sanguíneos
artificiais para utilizações clínicas. Eu não sabia e com um simples clique no
GPS fiquei a saber. E fiquei a saber também que a Ana, que eu não conheço de
lado nenhum a não ser do GPS, é da Tocha, Cantanhede, e que antes de emigrar
para o Japão esteve nas Universidades de Birmingham e Leicester, no Reino
Unido. Ela está longe, muito longe, mas a partir de agora qualquer cientista,
ou qualquer interessado na ciência, em Portugal ou noutro sítio saberá onde a
encontrar.
O futuro do país só pode ter por
base o conhecimento, o conhecimento que é diariamente acrescentado pelos
cientistas espalhados pelo mundo, o conhecimento de que são exemplo as novas
técnicas de impressão de vasos sanguíneos. O novo GPS diz-nos como encontrar o
rumo.
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