sábado, 20 de setembro de 2014

Um triângulo

Em resposta/comentário a comentários de dois leitores a um texto que publiquei ontem.

"A educação não deve ser um negócio ou estar dependente de um negócio", diz um leitor. Diz também que "não deve estar ideologicamente e unicamente dependente das orientações doutrinárias de um Estado, de uma política partidária ou de uma religião". Outro leitor diz que "são poucos os que não se deixam levar pelos seus verdadeiros interesses".

Estou de acordo. A educação de crianças e jovens é, antes de mais, um dever (altruísta) que as gerações mais velhas têm para com as novas gerações (como outras anteriores tiveram para com elas). Tornar humanas as pequenas pessoas que chegam ao mundo (pelo processo de apropriação do conhecimento da humanidade) é uma tarefa que tem valor em si e por si; não pode depender de interesses próprios nem de oportunidades ou de estratégias de mercado.

Isto é assim para as diversas vertentes da educação, incluindo a educação escolar. Esta vertente que, no Ocidente, durante algumas décadas, se pensou finalmente (e felizmente) assumida pelos Estados, tem sido neste início de século progressivamente transferida para particulares. Entre estes particulares estão grupos ideologicamente marcados e empresários à espreita de um bom negócio.

Nem tais grupos nem tais empresários entendem o que significa "dever de educar", "dever de humanizar" nem isso lhes interessa nada. Os grupos querem assegurar seguidores, os empresários querem assegurar lucros. Em ambos os casos as crianças e os jovens não são vistos como seres cujo destino deveria ser o (livre)pensamento.

Mas, mais uma vez, aqui o discurso "pedagógico" ajuda uns e outros: é o bem das crianças e jovens que apregoam; o bom funcionamento da sociedade que dizem procurar. Isto nas palavras mais sedutoras que técnicos, bem pagos, escolhem. Para que se acredite. E resulta.

Os políticos estão alheados? Não, de modo algum: consentem. Há um triângulo que se tem vindo a consolidar e expandir: grupos com interesses, empresários e políticos. É neste triângulo que se "fabrica" o currículo... que a sociedade aplaude.

4 comentários:

Anónimo disse...

Recente entrevista da Dr. Rauni Kilde e muitas revelações que gostaria de ver tratadas neste blogue, não temam nenhuma ferida na reputação, ocultar é que é crime.
https://www.youtube.com/watch?v=wYOokTR2sxI

Helena Damião disse...

Caro Anónimo
Não era essa interpretação que eu esperava que fosse tirada do meu texto. Trata-se de uma conclusão de análises objectivas que tenho feito. Qualquer pessoa, desde que use um método científico, pode chegar às mesmas conclusões.
Cordialmente,
Maria Helena Damião

Anónimo disse...

Diz no seu texto:
''Os políticos estão alheados? Não, de modo algum: consentem. Há um triângulo que se tem vindo a consolidar e expandir: grupos com interesses, empresários e políticos. É neste triângulo que se "fabrica" o currículo... que a sociedade aplaude.''

Sim, a sociedade aplaude através das suas acções e julgamentos, mas até que ponto é hoje válido estar a avaliar o espírito de uma sociedade, com o pressuposto de considerar uma sociedade num ambiente do séc. XIX, desprovido de tecnologias capazes de interferir com o cérebro e capazes de impôr uma realidade perceptiva alterada, ainda por cima sob a forma não consentida e sobre sujeitos expressamente desinformados?

Pode ter usado o método científico para chegar às suas conclusões, ainda assim, elas são mero lugar comum. Para quê usar o método científico para chegar a conclusões destas? É uma inutilidade e por isso, talvez seja boa ideia o corte sobre a (escusa) ciência que se faz em Portugal.

Anónimo disse...

¿O que é um intelectual?
http://algolminima.blogspot.pt/2014/09/o-que-e-um-intelectual.html

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