Com a devida vénia publicamos artigo de Miguel Copetto saído no Diário Económico de ontem:
Neste
início de Setembro, foram divulgados dois números que, conjugados, merecem
alguma reflexão. Por um lado, os 42.408 alunos que se candidataram à 1ª fase do
concurso nacional de acesso ao ensino superior, enquanto, por outro lado, se
candidatavam mais de 100.000 jovens à quinta edição do programa televisivo
“Casa dos Segredos”.
Ainda
que a utilidade do objecto de cada uma das candidaturas não seja comparável,
não deixa de transparecer, nesta confrontação, o maior interesse por parte dos
jovens em aderir a um reality show de
“duvidosa” exposição mediática, onde a boçalidade é sinónimo de fama imediata.
É
certo que o nível de desemprego de jovens licenciados atinge valores
inusitados, que o mercado de trabalho é incerto e que as formações deixaram de
ser para a vida para passarem a ter de ser alimentadas ao longo da vida. É
certo, também, que os muitos casos mediáticos
de corrupção e enriquecimento ilícito por parte de políticos, e CEO’s de
grandes empresas, ajudaram a esbater a ideia da nobreza de certas carreiras,
formações, deontologia profissional e que o trabalho árduo (mas honesto) é o
(único) caminho para o sucesso e reconhecimento. Porém, o valor
intrínseco da educação, do conhecimento e das aprendizagens formais não pode
ser posto em causa.
Esta geração que tudo parece obter à distância de
um click e que foi “educada” numa
certa cultura de facilitismo, com poucas regras e numa lógica de consumo
imediato, acaba por ter dificuldade em discernir modelos de vida: entre o momento,
o curto prazo e a vida como um jogo, onde aparentemente nada se sacrifica e se
tem sucesso sem trabalho… e o longo prazo, que é um amanhã longínquo, incerto, trabalhoso
e sem garantia de êxito.
Nesta
era digital, a escola e a universidade têm vindo a sofrer uma desvalorização do
seu papel social, não só resultante, em parte, do anteriormente exposto, como
devido à perda do monopólio no acesso ao saber, à sua massificação sem ganhos
de qualidade e a políticas educativas casuísticas, sem visão nem alcance.
Na
dicotomia entre aqueles dois números iniciais a pergunta que fica é: no caminho
que cada um escolher, quem vão ser, como pessoas, daqui a 10 ou 20 anos?
Miguel Copetto
In Diário Económico de 22.09.2014
10 comentários:
Bem, a associação é muito simplista e redutora.
O universo de potenciais candidatos ao ensino superior é muito inferior ao universo de potenciais candidatos à caso dos "degredos". No primeiro, 90% dos candidatos serão da faixa etária dos 18-20 anos, no segundo caso a faixa etária irá dos 18 em diante...
Claro. É uma parva comparação. Mas são assim os nossos comentadores e cronistas. Já agora poderiam juntar um outro número para a fogueira dos desenganos: 120 mil inscritos nas primárias do PS. O que isto revelaria nestas leituras epidérmicas, quase pilosas? Que somos um povo muito interessado na participação política activa, mais do que em "reality shows"?
Caro anónimo, não é uma comparação parva, longe disso.
Repare que é necessário existir um valor que nos dê a ideia de quão grande é o numero de inscritos na casa dos segredos. Para o efeito até podia ser o numero de nascimentos num ano, ou o total da população portuguesa, e percebia-se tal é a dimensão da depravação... mas, por razões óbvias, é melhor o numero de candidatos ao ensino superior.
Comparar o número de nascimentos num ano com o número de pessoas maiores de 18 anos que se candidatam a algo é igualmente parvo. São os tais alhos e bugalhos que tanta trapalhada deram no ministério da educação...
A única coisa que aqui parece minimamente óbvia é que alguém quis fazer uma comparação entre dois conjuntos não comparáveis directamente apenas para fazer um número opinião de taberna. Mas isto é um povo de taberna desde a sua origem...
Quase parece a anedota da relação entre o número de patas de uma pulga e a sua capacidade auditiva.
Caro anónimo, pode dizer aqui qual é o índice de comparação, não parvo, que o senhor consideraria, para concluir da grandeza relativa do numero (mais de 100.000) de inscrições da casa dos segredos?
Tenho a certeza que não sabe, e por isso não o vai dizer. Enfim, coisas de taberna, como refere...
É fácil: compare um conjunto em condições similares (neste caso, etário). Até já lhe tinha dado um exemplo: "número de inscritos nas primárias do PS". Não tinha percebido?
Com maior ou menor pertinência, mas sem o efeito populistazinho e moralista da classe operária, deixo-lhe aqui outros exemplos.
Número de cidadãos com mais de 18 anos; número de votantes; número de pessoas que se candidata a outros concursos de televisão.
É tão simples.
Se quiser - pois o que gosta mesmo é de fazer relações com universitários - pode comparar o número de candidatos a este concurso dentro da faixa etária dos candidatos ao ensino superior, com os candidatos ao ensino superior. E pode até comparar ambos com a tal faixa etária em número absoluto. Enfim.
Desde o inicio que o anónimo está "refém" das faixas etárias... um corte às fatias e estanque da realidade.
Não se trata estar refém das faixas etárias; trata-se de comparar o que é comparável. É um ditame da razão. Aliás - como não conseguiu notar - em algumas destas comparações a faixa etária em causa é...maiores de 18. Não é uma faixa etária, é a autoestrada da vida.
Mas é claro que pode continuar livre dessas agruras da razão e seguir contente.
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