sexta-feira, 12 de setembro de 2014

CRATO CADA VEZ PIOR


Nuno Crato diz numa entrevista à Visão, publicada ontem, em resposta a uma posição minha, que "não houve indicações para chumbar 50% [das unidades de investigação]". Diz que houve "uma estimativa, com base no histórico, que foi necessária para a ESF estimar os seus custos". Sei que um ministro é uma pessoa ocupada e só se pode supor que não teve tempo de ler as 53 páginas do contrato entre a FCT e a European Science Foundation - ESF, onde essa quota é referida claramente em três locais, dois dos quais nada têm a ver com custos. Escrever no plano de trabalhos de um contrato que a 1.ª fase deve produzir uma shortlist de metade das unidades a passar à 2.ª fase não é uma estimativa. É uma imposição. De resto, como previsão é demasiado certeira para percebermos que não foi disso que se tratou.

Mais à frente, Crato afirma ainda que "7 em cada 10 investigadores submetidos a este processo de avaliação passaram à 2.ª fase". Em rigor passaram 10257 de 15444 membros integrados, ou seja 66%. O corte no número de centros é de 48% e no número de investigadores é de 34%. Isto quer dizer uma coisa muito simples: um dos poucos critérios com alguma consistência foi a passagem dos centros maiores, com mais investigadores, à 2.ª fase. Tal é equivalente a fazer uma avaliação da venda a retalho e acabar com todas as lojas excepto os hipermercados. Não há nenhuma base racional para isto, porque os centros maiores não têm indicadores de produção melhores do que os mais pequenos. Se o critério foi o tamanho, para quê perder tempo e dinheiro com a avaliação da ESF? Como a FCT sabe o número de investigadores de cada centro, poderia ter obtido resultados muito semelhantes ao do rocambolesco processo de avaliação que contratou à ESF.

Crato afirma ainda que "só um em cada 10 investigadores é que ficou sem financiamento". Esta é uma matreira manobra de marketing político. A FCT inventou uma nova escala de avaliação, em que há uma discrepância total entre a designação da classificação "Bom" e o seu significado real. Na novilíngua da FCT, é o 4.º nível de uma escala com seis ou seja, é uma nota negativa. E o financiamento que lhe corresponde é ridículo. Os investigadores de centros que tiveram "Bom"  ficam, na prática, sem financiamento. E a migalha que lhes é atribuída representa apenas custos de marketing da FCT e do governo.

Mas há pior: a estimativa baseada no “histórico”, para além de comparar coisas em escalas diferentes, parte do princípio, errado, que teria de haver 50% de passagens à 2.ª fase quando, de facto, aceitando o argumento, havia 58% pois tem de se contar com os laboratórios associados. Ou seja, a direcção da FCT nem uma análise correcta dos seus próprios dados consegue fazer.

E há ainda pior: as regras da avaliação foram alteradas a meio do processo, diminuindo o número de avaliadores. E, já após o anúncio do “abate” de 50% das unidades, os números da produtividade científica foram emendados pela FCT de um factor de 2. Estamos muito melhor do que alguns avaliadores diziam.

 Esperava-se mais rigor de um matemático.

2 comentários:

Anónimo disse...

Na realidade é um economista metido a estatístico. Não é bem um matemático.....

Anónimo disse...

Professor: vá preparando o que em breve terá de dizer de Carlos Moedas.

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