Dois Poemas de Carlos Poças Falcão, extraídos do livro “O
Número Perfeito”, editado na década de 80. Alguns poemas do poeta estão também
no livro “Verbo — Deus como interrogação na poesia portuguesa”,
editado recentemente pela Assírio e Alvim.
A obra do aedo está, em grande parte, reunida em "Arte Nenhuma", livro que tem a chancela da Opera Omnia. O amor, a religião e a ciência são temas basilares na sua arte.
Alguém se aproxima, alguém me vai falar.
Procuro as formas de me dar. Que sabemos
das duplas estrelas? Que sabemos
de toda a gravitação? Nem a luz
podemos ver de outro cérebro, nem
a cintilação interior de outro olhar.
Dois cofres de pele. Nós os dois. Um abismo
atmosférico. Palavras rápidas a abrir
uma úlcera no ar, Uma voragem.
Eis o verbo abrir. Eis o verbo fechar.
2
Pesar-me. Ter sessenta quilos
e perguntar porquê. Silêncio de balança.
Porque sinto o peso daquilo que me cansa
o mundo que se expande na cabeça
os dias adiados, longos anos
a lentidão que avança com os anos
a respiração, o esforço de viver
para cima quando tudo está a ceder.
Porque dentro peso muito. E ao contrário
da força de atracção do corpo pela terra.
1 comentário:
Bonitos poemas.
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