Em 17 de Março de 2014, a Deco Proteste publicava: «Em Portugal, entre 2007 e 2012, morreram 218 pessoas vítimas de mesotelioma, um cancro provocado pela exposição ao amianto, 40 das quais só em 2012. O amianto tornou-se uma ameaça à saúde pública, pelo que a sua remoção deve seguir regras de segurança apertadas».
Esta relação causa/efeito não é dos dias de hoje. Já em finais do século XIX, os efeitos malignos do pó de amianto eram preocupação do Parlamento britânico. Nos Estados Unidos da América, no primeiro quartel do século XX, demonstrava-se a ocorrência de mortes prematuras entre trabalhadores da indústria deste minério.
Diz-se que em Portugal se contam por centenas de milhar o número dos edifícios com cobertura de placas onduladas de fibrocimento [1], um composto de cimento com 10 a 15% de fibra de amianto. Proibido na União Europeia, desde 2005, sabemos que, entre nós, continua presente em coberturas de telhados, estuques, condutas para escoamento de efluentes, cisternas e depósitos de água, entre outros.
Numa recomendação do Parlamento ao Governo, em 2003, pedia-se que, no prazo de um ano, se procedesse ao inventário dos edifícios públicos com amianto, tarefa ainda muito longe de conclusão. Um levantamento realizado pelo Ministério da Educação revelou que mais de setecentas escolas públicas tinham coberturas de fibrocimento, das quais apenas uma centena tinha procedido à respectiva remoção.
As muitas notícias, felizmente, vindas a público sobre os malefícios deste produto natural alertam o cidadão para a sua perigosidade e essa perigosidade, que não é pequena, reside na sua constituição por feixes de fibras extremamente finas e longas (houve quem lhe chamasse seda natural) facilmente separáveis umas das outras, libertando uma poeira de agulhas micrométricas que flutuam no ar. Facilmente inaladas ou deglutidas por quem vive o dia a dia na sua estreita proximidade, causam graves problemas de saúde, nomeadamente, a asbestose e a referida neoplasia, pelo que o comércio de amianto foi restringido ou proibido em muitos países.
Crisólito |
O amianto reúne um conjunto de minerais fibrosos, sobretudo, o crisótilo, uma serpentina, e algumas anfíbolas [2], nomeadamente a actinolite e a tremolite, sendo estas mais resistente aos ácidos mas menos resistente ao fogo do que o crisótilo, este, de longe, o de mais vasta aplicação.
A combustão do gás aquece a camisa de amianto (crisótilo) tornando-a incandescente |
Além do fibrocimento, o crisótilo tem sido largamente utilizado em portas contra incêndios, vestuário à prova de fogo, camisas de petromaxes e muitos outros artigos que utilizam o seu carácter fibroso e a sua incombustibilidade.
Notas:
[1] O fibrocimento representa cerca de 85% do consumo mundial de amianto.
[2] Em Portugal explorou-se amianto de anfíbola (actinolite e tremolite) até aos anos 70 do século passado, na Mina de Arado do Castanheiro, em Santana (Portel), no Alentejo.
[3] ophiolite (ofiolito, na versão portuguesa), nome obsoleto do crisótilo, designa hoje uma associação de rochas ígneas básicas e ultrabásicas (gabros, basaltos, peridotitos) mais ou menos serpentinizados, correspondente a porções de crosta e de manto superior, na sequência de importantes deformações tectónicas em orógenos ou em processos de obducção, isto é, cavalgamentos de crosta ou de litosfera oceânica sobre crosta continental.
A. Galopim de Carvalho
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