Em complemento o texto do Prof. Arnaldo Dias da Silva aqui publicado sobre a avaliação das ciências agrárias:
DOIS
DESTAQUES
1. Num dos documentos que a actual directora do CECAV da UTAD,
Rita Payan, me fez favor de me enviar, pode ler-se na 1.ª página, “...o
Centro (CECAV) não publica em revistas científicas de cariz
generalista...”
Francamente não
entendo; se calhar sou eu mesmo que não consigo atingir. Não deveria ser
exactamente ao contrário? Não foi isso que nos pregaram durante tantos anos?
Estava errado quem defendia a publicação
dos resultados da nossa investigação
agrária em revistas internacionais especializadas e altamente cotadas? Ou esta recomendação pode considerar-se um acto falhado
dos avaliodres em todo este lamentável processo?
2.No ponto 2 desta página vem aquilo que
considero uma pequena pérola. Transcrevo
na íntegra “Na área da Ciência Animal e Veterinária concorreram 5 UI. Passaram
à 2.ª fase as duas unidades que trabalharam mais intensamente em temáticas de
saúde humana e que se localizam em Lisboa e Porto” Muito bem: por absurdo aceitemos que seja assim. E
se fosse uma Comissão de peritos designada para avaliar Centros de ID que tratassem da
saúde humana? Dar-se-ia preferência aqueles que tratassem mais intensamente de
Ciência Animal ou de Medicina Veterinária?
NOTA FINAL
Num
dia de grande calor do passado mês de Junho, fui visitar a vacaria do senhor
Balazeiro em Sobrado, Rio Mau, a dois passos de minha actual residência em Vila
do Conde.
Hoje, o senhor Balazeiro tem, com legítimo orgulho, uma das melhores vacarias do país na sua categoria. Possui cerca de 150 vacas em ordenha e a produção média por vaca ao fim de 305 dias deve situar-se um pouco acima de 11 000 litros. Seria bonito para ele e para o país se assim fosse. Aguardo os livros do contraste leiteiro de 2013 para poder confirmar.
O senhor Balazeiro recebe o apoio de dois engenheiros zootécnicos formados na UTAD e de médicos veterinários, também formados na UTAD, todos a trabalhar para a Cooperativa Agrícola de Vila do Conde. Essencialmente estes técnicos tratam de estabelecer os regimes alimentares cientificamente mais adequados para os animais, e prestam apoio técnico rigoroso noutros serviços como o melhoramento genético dos animais, a reprodução e a gestão do efectivo leiteiro.
Hoje, a senhor Balazeiro tem a ordenha robotizada – dois robots LELY Astronaut a trabalhar em contínuo, evidentemente, excepto um curto período de manutenção das máquinas cada 24 horas. A remoção das fezes e urinas que as vacas vão fazendo, realiza-se ao longo do comprimento da nave onde as vacas estão alojadas para fora da vacaria com um dispositivo mecânico situado atrás das vacas em movimento quase permanente. Todos os animais dispõem de confortáveis camas de borracha ou de material equivalente. O alimento completo é oferecido ad libitum com reboque apropriado, no estado fresco várias vezes por dia e empurrado mecânica e regularmente de forma a estar sempre ao alcance das vacas. A ventilação da nave pareceu-me bem adequada pelas aberturas e pelos ventiladores nela instalados. A cobertura da nave tinha recebido na sua face interna uma pulverização de poliuretano que a tornava mais resistente à passagem do calor. O ambiente era francamente confortável dentro da ampla nave para os trabalhadores e para os animais. As vacas dispunham ainda da possibilidade de se coçarem plenamente à vontade no dorso com escovas verticais em plástico montadas em equipamento apropriado. O direito ao bem estar das vacas, mais do que respeitado, era estimulado. Finalmente, verifiquei àquela hora (eram quase cinco da tarde) que a produção média de leite registada no computador era já de 38 litros de leite por vaca ordenhada.
Era inevitável a reflexão: empregando o Entre-Douro-e-Minho hoje largas dezenas de engenheiros zootécnicos e médicos veterinários graduados pela UTAD, não deveria, pelo menos em parte, o CECAV – entidade de investigação que pertence à rede científica e tecnológica nacional financiada pela FCT- dizer que necessidades de investigação esta produção leiteira determina? O que significa a grande dimensão da AGROS e da LACTOGAL com as instalações bem perto deste estábulo? Estudos de alimentação, reprodução, melhoramento genético, de doenças metabólicas e outros estudos, não deveriam ser realizados no CECAV e no CECA (outra unidade de ID agrário existente na Universidade do Porto; esta vai passar à 2.ª fase de avaliação - terá melhores indicadores ou há imperativos mais poderosos que explicam a sua passagem à 2.ª fase?) As duas unidades fazem parte do sistema científico e tecnológico nacional. Terá o país hoje unidades de ID de ciências agrárias na região Norte a mais ou com funções mal definidas?
A minha convicção desapaixonada é que os nossos problemas de investigação agrária só ganham em ser resolvidos regionalmente. Penso que seria tolo e até perverso afirmar o contrário.
Arnaldo Dias da Silva
O senhor Balazeiro recebe o apoio de dois engenheiros zootécnicos formados na UTAD e de médicos veterinários, também formados na UTAD, todos a trabalhar para a Cooperativa Agrícola de Vila do Conde. Essencialmente estes técnicos tratam de estabelecer os regimes alimentares cientificamente mais adequados para os animais, e prestam apoio técnico rigoroso noutros serviços como o melhoramento genético dos animais, a reprodução e a gestão do efectivo leiteiro.
Hoje, a senhor Balazeiro tem a ordenha robotizada – dois robots LELY Astronaut a trabalhar em contínuo, evidentemente, excepto um curto período de manutenção das máquinas cada 24 horas. A remoção das fezes e urinas que as vacas vão fazendo, realiza-se ao longo do comprimento da nave onde as vacas estão alojadas para fora da vacaria com um dispositivo mecânico situado atrás das vacas em movimento quase permanente. Todos os animais dispõem de confortáveis camas de borracha ou de material equivalente. O alimento completo é oferecido ad libitum com reboque apropriado, no estado fresco várias vezes por dia e empurrado mecânica e regularmente de forma a estar sempre ao alcance das vacas. A ventilação da nave pareceu-me bem adequada pelas aberturas e pelos ventiladores nela instalados. A cobertura da nave tinha recebido na sua face interna uma pulverização de poliuretano que a tornava mais resistente à passagem do calor. O ambiente era francamente confortável dentro da ampla nave para os trabalhadores e para os animais. As vacas dispunham ainda da possibilidade de se coçarem plenamente à vontade no dorso com escovas verticais em plástico montadas em equipamento apropriado. O direito ao bem estar das vacas, mais do que respeitado, era estimulado. Finalmente, verifiquei àquela hora (eram quase cinco da tarde) que a produção média de leite registada no computador era já de 38 litros de leite por vaca ordenhada.
Era inevitável a reflexão: empregando o Entre-Douro-e-Minho hoje largas dezenas de engenheiros zootécnicos e médicos veterinários graduados pela UTAD, não deveria, pelo menos em parte, o CECAV – entidade de investigação que pertence à rede científica e tecnológica nacional financiada pela FCT- dizer que necessidades de investigação esta produção leiteira determina? O que significa a grande dimensão da AGROS e da LACTOGAL com as instalações bem perto deste estábulo? Estudos de alimentação, reprodução, melhoramento genético, de doenças metabólicas e outros estudos, não deveriam ser realizados no CECAV e no CECA (outra unidade de ID agrário existente na Universidade do Porto; esta vai passar à 2.ª fase de avaliação - terá melhores indicadores ou há imperativos mais poderosos que explicam a sua passagem à 2.ª fase?) As duas unidades fazem parte do sistema científico e tecnológico nacional. Terá o país hoje unidades de ID de ciências agrárias na região Norte a mais ou com funções mal definidas?
A minha convicção desapaixonada é que os nossos problemas de investigação agrária só ganham em ser resolvidos regionalmente. Penso que seria tolo e até perverso afirmar o contrário.
Arnaldo Dias da Silva
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