sexta-feira, 25 de junho de 2010

Veneno ou alimento?

Com a devida vénia, transcrevemos crónica de J.L. Pio Abreu no "Destak" de hoje:

Houve um tempo em que não existia oxigénio na atmosfera terrestre. Aliás, o oxigénio era tóxico para os organismos então existentes.

Mas houve um deles – a bactéria azul – que, além de resistir ao oxigénio, produzia-o em resultado do seu metabolismo. Na verdade, foi a precursora das árvores e plantas actuais, que expulsam o oxigénio como detrito do seu alimento.

Nessa altura, porém, existiu uma guerra de morte: todos os organismos sensíveis à toxicidade do oxigénio acabaram envenenados. Durante mil milhões de anos, a Terra ficou exclusivamente coberta pela bactéria azul.

Os outros organismos tentavam reproduzir-se, por vezes escondendo-se na água. À superfície da Terra só sobreviveram os que resistiam ao oxigénio. Mas o maior êxito foi daqueles que, para além disso, começaram a usar o oxigénio em seu proveito.

O veneno passou a ser alimento. Os seres vivos diversificaram-se, ganharam autonomia, povoaram a Terra e deram origem aos humanos. O oxigénio já fazia parte da atmosfera.

Os humanos lá foram evoluindo, adaptando-se a todas as contingências, Trocavam bens entre si até produzirem dinheiro. O dinheiro, a princípio, apenas substituía os bens. Mas depois autonomizou-se e correu à volta do mundo.

No seu caminho, já provocou desastres e foi venenoso, embora beneficiasse quem se alimentava dele. Hoje, faz parte da atmosfera dos humanos, e é produzido sem cessar pelos Bancos Centrais, a nova bactéria azul. Se é veneno ou alimento, depende do modo como nos adaptamos a ele.

José Luís Pio de Abreu

3 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Em termos biológicos, julgo conveniente não considerar o oxigénio um alimento. Nem mesmo em sentido figurado. É, isso sim, um comburente muito eficaz na oxidação total de compostos orgânicos - o verdadeiro alimento - no metabolismo celular, com a consequente libertação faseada de grandes quantidades de energia, continuamente transferida para as indispensáveis moléculas de adenosina trifosfato (ATP).
O dinheiro é um "comburente" social? Ou, mais do que isso, tornou-se o próprio "alimento"? Alimento não é certamente, mas a ganância humana o faz muito mais do que isso...
Aparecerá algum novo Cristo ou algum novo Karl Marx que nos ilumine sobre como resistir à toxicidade do dinheiro?
Ou seremos vítimas (objecto?) de uma selecção socio-biológica (ainda) não teorizada?
Nada sei, é o que digo. E no entanto, digo...

Anónimo disse...

E ainda bem que diz, porque assim podemos ouvir...

Anónimo disse...

BACTÉRIA AZUL

Vista do céu, a terra que habitamos
parece toda azul, da cor do mar
nos dias em que o ar que respiramos
límpido está, sem nada o macular.

Nasceu azul a vida, sabe-se hoje,
há biliões de séculos atrás,
essa divina cor que ora nos foge
ora em diversas outras se desfaz.

Bactéria azul: foi dela que partiu
a vida no universo, dando origem
ao ser humano... que a desiludiu.

Quando olho para trás, dá-me vertigem
considerando as formas que tomou
até chegar àquilo que hoje sou!

JOÃO DE CASTRO NUNES

NO AUGE DA CRISE

Por A. Galopim de Carvalho Julgo ser evidente que Portugal atravessa uma deplorável crise, não do foro económico, financeiro ou social, mas...