Num texto que aqui publiquei há quase um ano defendi a ideia de que o Ministério da Educação não é o único nem, talvez, o principal responsável pelo mau, ou péssimo, estado em que a educação escolar se encontra: somos todos responsáveis. Defendi, de modo complementar, que nos devemos interrogar sobre a nossa capacidade para educar as novas gerações.
E nomeei, para além dos políticos, encarregados de educação e pais, professores, autarcas, formadores de professores, especialistas em educação (onde me incluo), associações científicas e profissionais, protectores de menores, programadores do ensino, directores de escolas, pessoas com interesses económicos e outros...
Volto a defender essa ideia a propósito da inexplicável medida recentemente tomada, por despacho da tutela, que permite a passagem de alunos com um percurso académico problemático do 8.º para o 1o.º ano, que dois juristas consideraram DUPLAMENTE inconstitucional.
Ora, tanto quanto me foi dado saber DUAS entidades de grande importância - a Associação Nacional de Professores e o Conselho de Escolas - reconhecidas como parceiros educativos...
"... consideram que a medida não terá grandes efeitos práticos, frisando que dificilmente um aluno, já com um historial de insucesso, conseguirá ter um bom resultado em exames sem ter frequentado as aulas" (in jornal Público).
Não percebem estas duas entidades, sempre ouvidas nestas circunstâncias, que a questão não se prende com a quantidade de alunos que abrange, mas com o PRINCÍPIO que lhe está subjacente?
Bastaria que se aplicasse a UM aluno para não ser correcta.
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3 comentários:
"... consideram que a medida não terá grandes efeitos práticos, frisando que dificilmente um aluno, já com um historial de insucesso, conseguirá ter um bom resultado em exames sem ter frequentado as aulas"
Esta afirmação teria cabimento se não tivéssemos assistido ao assalto à iniquidade e ao vale tudo, porque o que lhe subjaz é a mesma doutrina que imperou no aproveitamento revolucionário do 25 de Abril para se fazerem passagens administrativas nas universidades.
É a mesma doutrina que alimentava as passagens administrativas na instrução primária para os jogadores de futebol que o Estado Novo obrigava a saberem ler e escrever, o que levou as elites, nas direcções dos clubes, a mexerem as suas capacidades políticas para os rapazes poderem continuar a jogar.
E continuaram a saber ler e escrever no relvado.
Exactamente como os do 8.º ano darão um salto para o 10.º, para os rapazes poderem continuar com os conhecimentos do 7.º, com a ajuda das elites ministeriais, e com a bênção do governo.
Quem é que disse que "a medida não terá grandes efeitos práticos" ?
Os rapazes passarão porque o Governo instituiu a vergonha e a desfaçatez como armas poderosas que o poder lhes outorga com a complacência do Presidente da República, dos deputados, e dos eleitores.
A República festeja os cem anos da vergonha da 1.ª República, porque a mantém. E a Constituição é um documento igual aos horários dos comboios, e aos boletins meteorológicos: a primeira, para saber quais os itens que não se cumprem descaradamente; os segundos, para saber de quanto tempo está o comboio atrasado; e os terceiros, para saber onde os meteorologistas erraram.
Concordo em absoluto com a análise da Cara Helena Damião e o texto do Caro João Boaventura é lindo! Considero deveras importante que se comece a comparar esta terceira república com a primeira. É que as semelhanças são tantas e tão evidentes que se torna insensato não as comparar...
Ah! Doutor João Boaventura:
Perdoe-me por exclamar, e voltar a exclamar: Obrigado! Mil vezes obrigado!
Que raça de gente somos nós, que parecemos escolher as palavras para esconder o que deve ser dito?
Mas aqui não. Aqui não é assim.
Como eu os prezo. E lhes fico devedor. Para sempre.
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