Considerando os gastos de toda a ordem que as Provas de Aferição do Ensino Básico envolvem (ver, por exemplo, aqui e aqui) e os propósitos que lhe são atribuídos pela tutela (ver aqui), seria de esperar que elas permitissem medir o que efectivamente se propõem, ou deveriam propôr, medir: a aquisição de conhecimentos e competências definidas no Currículo Nacional (2001) e nos Programas (de Matemática e de Língua Portuguesa).
Ora, fazendo um paralelismo entre a complexidade desses dois documentos e o sobejamente denunciado (por entidades credenciadas) baixo nível de dificuldade das Provas, percebe-se que estas estão longe de traduzir o que está definido naqueles, não permitindo, portanto, informarem, com a clareza que o Ministério da Educação insinua, acerca da qualidade do currículo nacional.
Por outro lado, e na sequência do parágrafo anterior, afirma-se na lei que, com as ditas Provas, pretende-se perceber a conformidade das práticas lectivas e pedagógicas de escolas e, obviamente, do desempenho dos professores. Além de se recordar que os resultados escolares não dependem apenas dessas práticas, é de se ficar deveras preocupado se essa “conformidade” se vier a verificar, ou seja se se apurar que as escolas e os professores do nosso país trabalham com os alunos no patamar de dificuldade patente nas Provas.
Não se me afigurando, então, que as Provas de Aferição sirvam para aquilo que a tutela afirma que servem, para que servem elas, então?
Procurando encontrar uma resposta e não me afastando da lei, devo confessar que há passagens nela que considero verdadeiramente inquietantes. De facto, aí afirma-se que se espera:
- que a reflexão “colectiva e individual” a empreender em meio escolar, decorrente do processo de avaliação “contribua para alterar práticas em sala de aula, que assim podem e devem ser ajustadas de modo sustentado". Tendo em conta o acima referido baixo nível de dificuldade em que muitos parecem estar de acordo, incluindo os alunos, devemos, pois, como sociedade, temer que os professores, afiram as suas práticas de sala de aula a partir dos enunciados das Provas e dos seus resultados;
- que as Provas permitam “melhorias significativas nos resultados dos alunos”. Curiosamente, não se usa aqui a palavra “aprendizagens”, mas sim “resultados”. Dirão alguns que se trata de um preciosismo, mas, acontece, que em certas matérias, o seu esclarecimento pode fazer toda a diferença. É o caso. Na verdade, o que um sistema educativo se deve propor melhorar são as aprendizagens que se traduzem em resultados e não os resultados em si.
Se a estas considerações se acrescentar o enigmático e sempre presente slogan da tutela - "Os alunos têm direito ao sucesso" -, que uma Directora Regional da Educação repetiu a propósito das Provas de Aferição de 2008, a dúvida explorada neste texto não pode deixar de persistir.
(Continua)
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6 comentários:
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Casa do Povo de Alqueidão da Serra
As provas de aferição servem para o Ministério fingir que na educação portuguesa há avaliação externa sem fazer o indispensável: exames nacionais rigorosos e exigentes, com peso na classificação final dos alunos, no final de cada Ciclo e a diversas disciplinas.
Todavia, a culpa não é só do Ministério. É também de muitos professores e das instituições que os representam (nomeadamente os Sindicatos e Movimentos e as Associações de cada disciplina). Com efeito, à excepção da Sociedade Portuguesa de Matemática, não se ouvem vozes a reclamar exames nacionais nas suas disciplinas ou, caso já existam, a reclamar que sejam mais exigentes e feitos também noutros níveis de ensino.
Pela minha parte: sou professor de Filosofia e gostaria que existisse exame nacional de filosofia obrigatório. E, uma vez que desejar não custa, gostaria também que o programa da disciplina fosse modificado (para melhor!).
Cara Professora,
veja aqui:
http://paideia-idalinajorge.blogspot.com/search?q=para+que+servem+afinal
e aqui:
http://paideia-idalinajorge.blogspot.com/search?q=%C3%89+para+isto+que+servem+as+provas+de+aferi%C3%A7%C3%A3o%3F
Cumprimentos,
Ana Tiago
Se muitos alunos chegam ao 4º ano sem saber ler ou a ler com grande dificuldade, como podemos considerar fáceis provas com uma 1ª parte muito grande, com dois textos em que têm de mergulhar e instruções de trabalho que descodificam com custo?
Nenhuma prova resolve o problema de os meninos não aprenderem a pensar, a falar, a ler, a escrever e a contar/calcular durante o 1º ciclo. E esse é o problema que é urgente resolver. Perceber o que se passa e encontrar as saídas deste buraco.
Há muita gente a viver às custas do trabalho dos professores e da ignorância das famílias. A grande maioria dessas pessoas sabe muito bem que o sistema por elas criado está completa e absolutamente falido, mas para garantirem o seu emprego vão atirando com areia para os olhos das pessoas e vão desbaratando o dinheiro do contribuinte; e assim continua o reino da ideológica-burocrática-pedagógica revolução em curso!
Há uns dias vínhamos a falar sobre a ma preparação nas escolas para a universidade. Estou ciente de que me espera uma grande dificuldade quanto às discrepâncias do nível de exigência da universidade e do ensino básico. A conversa veio porque sou finalista e como tal preocupo-me com esta questão... Ora, o grande problema está nos programas que o Ministério da Educação impões aos professores, por sorte, até tive dois professores na área de ciência que se preocuparam em alargar algo mais os nossos horizontes mas mesmo assim sinto-me mal preparada para a universidade... Pelo que vejo, o Ministério quer continuar a baixar os níveis de exigência... ainda mais???
-eu pensava que já tinham reparado que até nós, alunos, nos sentimos gozados pelo menos falo por mim, eu acho uma barbaridade o facto de até ao 9º ano ser apenas necessário estudar na véspera e mesmo assim conseguirem-se excelentes resultados. Conclusão: vamos muitíssimo mal preparados para um secundário. Depois chegamos ao secundário, e, sem saber estudar, o primeiro ano corre-nos mal... as coisas vão melhorando pois habituamo-nos a algum ritmo de trabalho...mas e na universidade? quando cerca de 50 páginas são dadas numa aula? bem, eu faço um apelo ao Ministério, preparem-nos bem melhor! Mas o que quer o ministério? ah, ter melhores notas nos exames nacionais e provas de aferição. Boa! Até nós o queremos! mas não com provas cagatórias e sem um pingo de exigência! Se querem boas notas, preparem melhor os alunos e estimulem-nos desde o 1º ciclo, aumentando o grau de exigência, eles não morrem por isso, não, cresceriam, sim, com as suas capacidades mais desenvolvidas, com um sentido mais apurado, com sentidos críticos mais apurados e mais proveitosos. Investir na educação não roubaria os cofres do estado, enriqueceria já que a população seria mais activa.
Poxa, com provas assim, não vamos longe!
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