segunda-feira, 17 de maio de 2010

Filosofia a sério

"Meus estudos em filosofia especulativa, metafísica e ciência podem ser resumidos na imagem de um rato chamado homem que entra e sai dos orifícios que encontra no cosmo em busca do Queijo Absoluto."

Benjamim Decasseres (1873-1945)

Num comentário ao meu último post, A história de um cão e a avaliação do desempenho, é feito o seguinte reparo: "A Filosofia a sério está a fazer uma tremenda falta nas nossas escolas".

Este é o tema que mereceu a minha atenção no meu primeiro post publicado neste blogue, intitulado O exame nacional de filosofia (23/07/2007).

Pela oportunidade da evocação desse comentário sobre o importante papel que deveria merecer no nosso sistema educativo a Filosofia, que é havida como parente pobre do conhecimento científico, como se ela não fosse a matriz desse próprio conhecimento, entendi ter agora interesse a reprodução desse meu post. Transcrevo-o integralmente:

O exame nacional de filosofia

Artigo de Rui Baptista originalmente publicado no Diário de Coimbra (13/2/2006) e que infelizmente não perdeu actualidade.

"O fascínio tecnicista e cientista é um sinal dos tempos,
cujas repercussões se fazem sentir na organização, ou antes, na
desorganização do sistema de ensino, a todos os níveis."

Georges Gusdorf

Abel Salazar foi professor universitário de Medicina, em inícios e meados do século passado, com um notável e eclético saber nos diversos domínios científicos e culturais: médico, escritor, pintor, escultor e filósofo, tendo-se doutorado, em 1915, com 20 valores com a tese Ensaio de Psicologia Filosófica. Com conhecimento de causa, sentenciou ele: “Um médico que só sabe de medicina nem isso sabe!”

Hoje, numa época em que os responsáveis pela tutela da Educação – em nome de uma deplorável facilidade no acesso ao ensino superior, ou (apenas) como tal plasmado na lei! – em boa hora arrepiaram caminho na decisão em acabar com o exame nacional de Literatura Portuguesa, mas persistem em manter essa decisão no que se reporta à Filosofia, uma questão se levanta. Deverá a Filosofia ser valorizada no âmbito dos cursos de humanidades e subalternizada no domínio das ciências naturais?

A questão nem sequer é nova! Segundo Georges Gusdorf, “na Primavera de 1964, assistiu-se ao facto de os decanos da Faculdade de Medicina e da Faculdade de Ciências da Universidade de Paris proclamarem que a Medicina é doravante uma ciência; ninguém poderá pretender ser iniciado se não for geómetra, se não possuir noções de base como as de função, logaritmo, derivadas. A formação médica pressupõe uma escolaridade secundária que passa pelas classes terminais de ciências e de matemática dos liceus” (Da História das Ciências à História do Pensamento, Editores Livreiros, Ldª, Lisboa, 1988, p. 9).

Ainda segundo este autor, “os distintos decanos preveniam os interessados e as famílias contra a deplorável perda de tempo e de inteligência que representaria um estágio na classe de Filosofia. Um jornalista foi, então, perguntar a estudantes de Medicina, escolhidos ao acaso, o que pensavam desta declaração. Responderam-lhe que lhes parecia, pelo menos, impensada. O conhecimento dos logaritmos é talvez útil ao médico, mas o conhecimento do homem e da condição humana é primordial; é deplorável que não entre em linha de conta na aprendizagem médica. Os estudantes tinham cem vezes razão em denunciar esta forma particularmente nociva de obscurantismo contemporâneo, que existe entre os potentados universitários como no homem da rua” (id., ibid.)

Este descabido, ridículo e insolente ataque à matriz de todas as ciências é tanto mais insólito quando nomes grados da Ciência se distinguiram no frutuoso deambular pelos caminhos de um Conhecimento sem fronteiras. Três exemplos, de entre muitos: Max Planck, físico e Prémio Nobel da Física (1918), preocupado com a relação entre a ciência e religião ; Ernest Krestchemer, médico psiquiatra alemão, doutor honoris causa em Filosofia pelas Universidades de Wurzburgo e Católica do Chile; e Bertrand Russell, matemático e sociólogo britânico, Prémio Nobel da Literatura em 1950. E isto para não falar já em Albert Einstein, presença obrigatória em diversos manuais de Filosofia!

Poder-se-á objectar que a disciplina de Filosofia continua a fazer parte do currículo do ensino secundário, mas... o facto de não ser avaliada em exames nacionais coloca-a numa posição que é, no mínimo, insólita. E não me venham com a teoria de que os exames nacionais são uma forma menos válida ou justa de avaliar os alunos. O mal não está nos exames, mas na forma da respectiva elaboração!

A facilitação em deixar passar os alunos sem testar os conhecimentos adquiridos em exames nacionais nos diversos graus de ensino conduziu a população escolar portuguesa à crítica demolidora de Vasco Pulido Valente: “Um ensino, em particular ensino superior, ineficiente e caótico e, além disso, irreformável”.

Na verdade, chegou-se a níveis de ignorância que campeiam entre os próprios diplomados do ensino superior e que não são escamoteáveis por mais tempo, pese embora, como escreve Mario Perniola, professor de Estética da Universidade “Tor Vergata” de Roma, “haver sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as tolices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista, que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.

Numa altura em que novas (e, ainda mais, facilitadoras!) formas de acesso a escolas de ensino superior se divisam no futuro prenunciando técnicos despojados de uma necessária formação cultural - a que a leitura constante de textos literários e a reflexão filosófica conduzem - e em que a quantidade de diplomados pelo ensino superior supera em muito a sua qualidade, os claustros universitários devem manter-se como guardiães esforçados da Cultura Humanística, do Conhecimento Científico e da Investigação Pura e Aplicada. Num contexto de elevada qualidade e numa tradição multissecular na formação de elites!

18 comentários:

Anónimo disse...

Deus o ouça, já que o Sinédrio tem os ouvidos entupidos! JCN

joão boaventura disse...

Numa entrevista lida num diário há muitos anos, Abel Salazar gostava muito de pintar quadros no campo. Um dia, um lavrador que o via a usar os pinceis, perguntou-lhe se sabia pintar, ao que Abel Salazar respondeu positivamente.

Chegados aqui o lavrador disse-lhe que calhava bem tê-lo encontrado porque precisava de quem lhe pintasse a cerca e não encontrava quem o soubesse fazer.

Abel Salazar não se fez rogado, perguntou-lhe de que cor a queria, e no dia seguinte, dedicou-lhe as horas da pintura para atender aquela alma simples do campo.

Ofereceu-lhe a tinta e o trabalho.

Flávio Gonçalves disse...

Discordo completamente! Como aluno do ensino secundário, lamento apenas a forma como a Filosofia está disposta no nosso sistema de ensino. O facto de ser bienal e de ser leccionada no 10º e no 11º anos é, no mínimo, ridículo! Para mim a Filosofia teria que se adaptar desde o Ensino Primário (sim, 1º ano, basta ver os estudos sobre Filosofia para crianças) até o fim do Secundário, sem as merdas (perdoem-me o termo, mas não há outro para descrever a estupidez que são) dos Exames Nacionais. Os alunos querem lá saber dos estúpidos exames. Creio que é preciso incutir neles o gosto pelo saber, pela curiosidade, pela crítica... agora a avaliação por um exame? Não, isso não. Essa coisa a que chamam de exame tornou-se a mais diabólica e estúpida forma de julgar a capacidade de um aluno, ainda para mais sobre os seus conhecimentos de uma disciplina cujo saber ultrapassa a gnose livresca. Se me pusessem um desses à frente eu poria: «MAS PORQUÊ?», a ver se me davam nota máxima.

Anónimo disse...

E por outro lado a filosofia também se encostou ao que hoje são as ditas ciências sociais e humanas, recusando também o filosofo a ter conhecimentos de matemática por exemplo e depois dando origem aos pensamentos vazios que tão bem Sokal nos revelou, Kunh, Kriteva, Lacan, Derrida, são pensamentos áridos mas grandes nomes, andam nos ismos todos, do construtivismo ao pós modernismo e a maior parte do discurso é oco, não se aproveita nada!
Quando é que os filósofos deixam de dizer o que os outros dizem para produzirem conhecimento novo, algo útil? creio que a filosofia deve ser estimulada, mas deve ser sempre exercitada junto com outra ciência não na solidão, senão dá origem a sistemas de pensamentos assentes em areias movediças!
Os filósofos não podem ser opinion makers que se deliciam com masturbações intelectuais!

Anónimo disse...

Haverá, nos dias de hoje, pessoas... que mereçam um Abel Salazar? A gente simples... virou gente lorpa! THAT IS THE QUESTION. JCN

Rui Baptista disse...

Caro Flávio Gonçalves (1):

Como é belo ser jovem, entrar de rompante –“discordo completamente” - , não ter dúvidas, só certezas, e sonhar com um mundo perfeito em que não seja necessário avaliar nada por a pessoa se avaliar a si própria com toda a lisura e honestidade na prolixidade dos seus interesses culturais por si declarados, Flávio, em consulta ao seu blogger: cinema, literatura música. filosofia, fotografia, teatro, história, psicologia, sociologia, internet, 37 realizadores de cinema favoritos e 16 escritores que vão de Baudelaire a Saramago, de Dostoievski a Marguerite Yourcenar, etc.

Um mundo utópico, (in)atingível?, em que não houvesse regras e nem quem as fizesse cumprir, como defendeu Proudon quando defende, ao contrário do que se possa pensar, que “a anarquia é a ordem”.

Eu, com a desesperança de uma vida em que os autodidactas, por vezes, como escreveu alguém, não passam de ignorantes por conta própria, tenho dificuldade em acreditar numa utopia que possa esconder a realidade da ignorância de alguns jovens, mesmo universitários, que quando chamados a dar respostas a perguntas simples tentam esconder a ignorância sob o manto cómodo de dizer (sem provar) que sabem a resposta, mas não respondem para não se sujeitarem à opressão burguesa de serem avaliados.

Sejamos realistas, a ausência de exames nacionais tem dado como resultado que os alunos acedam a novos patamares de conhecimento, a exemplo de um arranha-céus que se constrói com os caboucos de uma casa térrea e em que a derrocada se torna mais que previsível.

E como as excepções confirmam a regra, não me custa acreditar que a sua cultura geral seja uma excepção que confirme a regra da desnecessidade de exames. Não, não estou a falar de exames do tipo de cruzinhas do totobola que são muito úteis para abreviar a tarefa dos respectivos correctores mesmo que se trate de matérias como, por exemplo, a Língua Portuguesa. Mas de exames nacionais elaborados por gente capaz que vista com as mesmas roupagens quer o aluno rico, quer o pobre, quer aquele que venha de uma escola permissiva que inflacione as classificações ou de uma outra exigente que as deflacione, quer tenha feito os seus estudos num colégio ou numa escola oficial.

(Continua)

Rui Baptista disse...

Caro Flávio Gonçalves (2):

Mas o assunto é demasiado sério para estar dependente de simples opiniões como as nossas, as minhas e as suas, ou, infelizmente, do próprio, ministério da Educação que quis fazer crer o êxito do sistema educativo nacional pela ausência de exames ou com exames em que a facilidade das perguntas é um atentado à inteligência dos alunos e à própria dignidade do esforço dispendido, por uns tantos, nas suas aprendizagens.

Bem eu sei que para se dizer, simplesmente, se está um radioso dia de sol ou um triste dia de chuva não são precisos estudos avançados de meteorologia ou a consulta de complexa aparelhagem, barómetros, higrómetros e sei eu lá que mais! Mas se estou doente devo recorrer a um médico, mesmo na descrença de Proust quando escreve que “crer na medicina é suprema loucura, se não crer nela não fosse loucura maior”.

Deixemos, pois, quem perceba destas questões, por formação académica - mas que, apesar disso, não são tão simples que mereçam consenso dos próprios especialistas - pronunciarem-se sobre a matéria das avaliações.

Mas, quase a terminar, pior que a "gnose livresca" que critica (e logo o Flávio quando apresenta uma extensa lista de escritores seus favoritos que multiplicadas pelas suas obras dão páginas a necessitar de uma máquina de calcular para as contar) parece-me ser a gnose da navegação na Net e a muleta do corrector de erros dos computadores que não evita que em documentos manuscritos em meia dúzia de palavras possa ocorrer, como ocorre, um erro ortográfico.

Lá virá o tempo em que os alunos exijam que as provas de exames sejam redigidas no teclado dos computadores…e que para não sobrecarregarem a memória com coisas inúteis que a tradição lhes quer inculcar possam fazer consultas nessas máquinas que em segundos dão a resposta de quem foi o primeiro rei de Portugal, sem a laboriosa consulta de livros que podem ir de um volumoso compêndio de história a um simples livrinho de história da antiga 4.ª classe do ensino primário.

Longe vão os tempos em que Mao Tse-Tung defendeu (cito de memória) que “um caminho demasiado plano não desenvolve os músculos das pernas”! Mas, meu caro Flávio, até concedo que as nossas posições possam ser o choque de uma ou duas gerações. Ou, mesmo, que eu esteja a tomar a nuvem por Juno!Estarei?

Finalmente, para mim foi como um banho de juventude trocar estas impressões consigo. Sinceramente!

Cumprimentos cordiais.
Rui Baptista

Flávio Gonçalves disse...

Olá... obrigado pela resposta, Rui, reli-a duas vezes. Esse choque de que fala no final só é positivo. Se calhar fui mesmo eu que tomei a nuvem por Juno... sei que parecerei ridículo dizê-lo e mudar o discurso, não sei, mas fez-me realmente repensar a minha posição.
De facto, tem que haver um instrumento que avalie os conhecimentos, específicos e básicos, de qualquer matéria, como é o caso da Filosofia. O exame nacional parecerá assim boa ideia, contudo, aflige-me muito que este esteja disposto com as maiores facilidades do mundo (o exame de espanhol que fiz ano passado envergonhou-me), como bem diz. Culpa do sistema, a meu ver, da lei do menor esforço generalizado que nunca em caso algum defendi no meu primeiro comentário. Mas é incompatível haver essa atitude na forma de ensino e, depois, a existência destes exames, não lhe parece?
Também queria esclarecer que não me dá aversão o conhecimento que os livros proporcionam (tal como o oferecido pela Internet, importante, ainda que menos), apenas falei dele para mostrar a superioridade de todas as matérias de disciplina, que estão em contínua reflexão e que, portanto, não seriam passíveis de ser julgadas. Reconsiderei este último aspecto e cheguei à conclusão de que, como inicio esta resposta, seriam objecto de avaliação conhecimentos concretos, baseados na história e conceitos próprios da Filosofia.
Continuo a achá-la, no entanto, a mais importante e relevante disciplina de todas e, portanto, devia haver mais reformas que a implementação de um simples exame nacional, entende...?
Obrigado uma vez mais pelo comentário muito simpático, guardá-lo-ei bem.

Rui Baptista disse...

Caro Flávio e bom amigo:

Foi com um prazer enorme e não menor orgulho, como calculará, que recebi o seu comentário. Por ele verifiquei quão errado estava eu ao evocar um possível choque de gerações.

Verifiquei agora que, “ad contrario” (e aqui a minha idade vem à tona no apelo que acabo de fazer aos estudos liceais de Latim do meu tempo), se verificou um encontro de gerações com ideias diferentes no início mas convergentes no final.

De tudo isto, para já, tirei a lição de que a Juventude, a sua juventude, ou mesmo a” minha”, se não se deve aferir por simples números da data de nascimento no B.I. (agora Cartão do Cidadão, que finalmente passei a sê-lo por ter substituído o BI perdido por um pequeno rectângulo plastificado), convivem em harmonia uma com a outra pelo respeito que nos devem merecer as nossas opiniões pessoais sem ser a mando do poder de tiranetes ou vinculadas a qualquer espécie de coacção de quem quer que seja, a não ser a nossa própria consciência.

Recordo a propósito um escritor português do séculoXIX (cujo nome não me ocorre de momento, e aqui a idade chama-me à realidade de uma memória que se vai perdendo com os anos), que cito de memória pela lição que as suas palavras para mim encerram: “Não respeito as suas ideias, respeito-o a si”.

O Flávio comigo concordará ou me desdirá: no nosso caso respeitámos as nossas ideias e as nossas pessoas. Nem outra coisa seria de esperar, dada a sua maturidade intelectual e o seu amor pela Cultura, essa sim, que exames nacionais não são capazes de avaliar. Pior do que isso, nem lhes interessa avaliar num país de vaidoso pavões ou repetitivos papagaios.

Um abraço fraterno,
Rui

Rui Baptista disse...

Errata: No 3.º §, 2.ª linha., do meu comentário anterior deverá ser emendado "se não se deve" para se não deve.

Rui Baptista disse...

Caro anónimo (17 maio, 23:29):

Seria ingratidão (aliás, que eu julgo não ser partilhada por si) esquecermo-no que a Filosofia foi a matriz de todo o conhecimento científico pelas perguntas que fez e a que os cientistas foram respondendo, e continuam a responder.

Repare que ainda hoje com o avanço vertiginoso dos conhecimentos científicos, a cargo das derradeiras décadas do século passado e primórdios deste século, Filosofia e Ciência não estão antagonizadas pelo interesse que ambas, e em conjunto, continuam a despertar nos filósofos/cientistas ou vice-versa, mesmo da nossa contemporaneidade.

Respaldo-me na opinião de um matemático/filósofo inglês, ou vice-versa,Bertrand Russel:"A ciência é o que sabemos. A filosofia é o que não sabemos".

Milénios atrás, reconheceu-o, na modéstia de quem procura a Verdade, Sócrates (o filósofo!)qando disse: "Só sei que nada sei".

Mas a morte da Filosofia nunca poderá ser anunciada porque o homem quanto mais sabe mais quer conhecer aquilo que não sabe, assegurando, deste modo modo,com a sua curiosidade, o progresso da Humanidade. Infelizmente, conhecimento nem sempre acompanhado da necessária Ética.

Cordialmente,

Rui Baptista disse...

Julgo que bem a propósito, 3horas e 1/4 após a publicação do meu último comentário, neste blogue, são noticiadas 3 mesas redondas sobre “Os desafios éticos das neurociências”, a terem lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, no próximo dia 31 de Maio.

A respectiva sessão inaugural estará a cargo de Jean-Pierre Changeux, com longa e valiosa obra publicada neste domínio. De entre elas, destaco “O homem neuronal” muitas vezes por mim citado quando modestamente abordo esta temática em inúmeros “post’s” aqui publicados.

Neste encontro a Ética, ou filosofia moral, ocupa o lugar de destaque que lhe compete no campo insondável da mente humana, havendo uma comunhão entre a filosofia moral e uma ciência em busca de respostas para uma série de questões por resolver guardadas ciosamente pelo cérebro humano, na analogia poética do neurofisiologista Sherrington,"umm tear encantado".

Rui Baptista disse...

Meu caro João Boaventura:

Li em tempos, e passo a citar de memória (para a exercitar a exemplo do músculo esquelético que para não perder o tónus deve vencer cargas): "O que mais me impressiona é a alta consideração que têm por si próprias pessoas que nada valem". E se acham importantíssimas como certos políticos da nossa praça em risco de entrar na bancarrota. Dantes na praça havia as bancas do peixe, dos legumes, da fruta, mas estamos em plena época pós-moderna...

Disse alguém:"Hoje pavão, amanhã espanador". Na modéstia do seu alto e multifacetado valor, Abel Salazar, nunca foi pavão. Nunca será espanador!

Rui Baptista disse...

Meu Caro JCN:

Os últimos serão os primeiros. O sinédrio era formado por judeus cultos, ergo respeitadores da Filosofia. Hoje não há sinédrios, foram substituídos por assembleias ruidosas,e as pessoas cultas escasseiam cada vez mais. A política, de uma forma geral, quer vê-las bem à distância!

Cordialmente,
Rui Baptista

joão viegas disse...

Ola a todos,

Ainda não cheguei ao fim desta bela conversa e provavelmente venho tarde para o meu comentario ser lido.

Seja como fôr, as primeiras trocas sugerem-me 3 observações, que no fundo não passam de uma so.

1/ Obrigados, Rui Baptista pelo post, e João Boaventura pela magnifica metafora.

2/ Muito embora o comentario do primeiro anonimo e os comentarios do Flavio Gonçalves me pareçam escritos com intenções muito diferentes (e prefiro de longe estes ultimos), não deixam de merecer a mesma resposta. No fundo, a razão pela qual a aprendizagem da filosofia (ou alias de qualquer outra coisa) deve poder ser avaliada, é que ela não tem valor em absoluto, no abstrato e somente na medida em que nos da prazer. Filosofar não é encher a boca com palavras. Muito pelo contrario, é ajudarmo-nos com discernimento, e uso critico da razão (ora quem diz critico, diz também mensuravel, sujeito à apreciação pelo critério de outrem), a vivermos melhor no mundo que nos rodeia, cujas exigências não comandamos (ou pelo menos cujas exigências deixamos de comandar completamente a partir do momento em que a mama deixa de acorrer logo a seguir aos nossos berros). Esta razão é a mesma que faz com que a filosofia seja mais do que uma ciência. Isto não significa, de maneira nenhuma, que a filosofia possa apoiar-se em pseudo-ciencia, nem tão pouco que possa impunemente ignorar a ciência, e nesse aspecto subscrevo o livro de Sokal. Mas também não quer dizer que a filosofia seja zero, ou pura epistemologia, ou um sucedâneo da ciência. E significa ainda menos que a ciência, para ser bem feita, possa fazer-se sem filosofia. A frase do Abel Salazar sobre medicina aplica-se a todas as ciências, duras ou não, exactas ou humanas. Quem so sabe a ciencia de que se diz especialista, nem esta sabe.

3) O que eu tentei explicar aqui em cima ja foi dito ha muito tempo, muito melhor do que eu saberia fazê-lo, num livro de filosofia escrito por um grande homem que não era filosofo, apenas advogado e politico, mas que é hoje considerado por todos os especialistas sérios de filosofia antiga como um dos grandes autores da antiguidade. Quero falar de Cicero, que no livro segundo do seu tratado dos deveres, explica esta coisa simples, mas essencial, que responde aos anseios que vi expressos nos comentarios acima : o bom e o util convergem !

Felicidades a todos.

Rui Baptista disse...

Nada disso, meu caro João Viegas. Vem muito a tempo o seu comentário. Quaisquer perspectivas de discussão são sempre bem-vindas, até para aclarar pontos de vista que, aparentemente, discordantes, acabam por ter alguns pontos de contacto(poucos, muitos, assim e assim?) quando se não adoptam teimosias em que cada um se acoita a uma mera opinião pessoal, pesporrenta, sem admissão do contraditório.

Aliás, como escreveu Ortega y Gasset, “Cultura é frente ao dogma discussão permanente”. Mesmo a própria Ciência que já foi arrogante nas “verdades” de que se fazia portadora, hoje, depara-se com a refutabilidade do conhecimento científico anunciada por Karl Popper que a despojou de vestes que se lhe colavam ao corpo como uma segunda pele.

Por outro lado, a Filosofia sempre porfiou na busca da verdade sem nunca a anunciar como um dado adquirido confinando-se em fronteiras em que “o seu saber tem por objecto unificar num sistema harmónico os conhecimentos obtidos pelas várias ciências especiais, reduzir ideias básicas e métodos gerais da ciência”. Aliás, Peter Medawar (Prémio Nobel de Medicina, 1960) limita o campo da ciência ao escrever que “a ciência não pode responder à questões últimas sobre o sentido da vida”.

Mas de tudo isto não se infira que, de quando em vez, não haja confissões vindas de próprios filósofos como, por exemplo, esta de Delfim Santos, na década de 40: “No pensamento de cada filósofo há algo de vivo e algo de morto e o morto é quase sempre o científico”.

Isso mesmo nos diz, e exemplifica,
Jean-Pierre Changeux, que virá a Lisboa, no último dia deste mês, para proferir a conferência inicial intitulada “”A caminho de uma neurociência da pessoa humana” (vide, informação a este respeito recebida e publicada pelo “Rerum Natura”, em 19 de Maio último), quando nos diz que Aristóteles, tido, por muitos, como o pai da moderna biologia, “baralhou os espíritos durante séculos”. Na verdade este filósofo teve o cérebro como um sistema de arrefecimento do sangue e o coração como a sede dos sentimentos! Só no século XVII William Harvey, um cientista, destruiu estas falaciosas e especulativas teorias sobre o sistema circulatório.

Esta discussão continua em aberto até que os comentadores a encerrem.

Cumprimentos cordiais,
Rui Baptista

Felipe Alves disse...

Concordo plenamente, posso até citar um exemplo. UM dia meu professsor de história quis dá uma aula diferente pra nós, e ele pediu autorização da diretora, ela disse que não precisava, e que isso era besteira, depois de muita insistência ele conseguiu. Ele nos levo até a rua e pediu que nos concentrasemos por 5m em um determinada coisa, em vez disso todos os alunos ficaram fazendo tolices, com exeção minha e de um colega meu,já que estávamos olhando atentamente para o céu e nos perguntando como alguns filosofos tiveram a idéia de que tudo era feito a partir de um material básico, nosso professor no ensinou como foi o pensamento de cada filosofo.
FILOSOFA DEVE SER LEVADA A SÉRIO!

Valdecy Alves disse...

Vc está convidado a ler matéria em meu blog sobre como deve ser uma pessoa ideal, conforme Aristóteles e Nietzsche formularam. Como é o ser humano atual comparado com a formulação de cada um dos filósofos? Vc se encaixa nas formulações? Ler em: www.valdecyalves.blogspot.com

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