Carta de leitor publicada no "Público" de 3 de Agosto, em que ele faz uma curta recensão ao último livro do escritor Miguel Real (saído na Quid Novis):
"A actual ministra da educação, Maria de Lurdes R. Rodrigues, deveria ler o livro (bem como toda a gente ligada à área da educação, e não só) da autoria de Miguel Real, enviado há pouco tempo para os escaparates das livrarias do país. Porque nessa obra, e segundo a bitola do autor, é retratada:
1 -"Uma mulher seca, que nunca conheceu o amor, de passado trágico e futuro marcado pelo desejo de auto-afirmação;
2 - Uma mulher de mentalidade despótica, adversa à espiritualidade dos valores, crente de que a única dimensão do bem reside na sua utilidade social;
3 - Uma mulher cuja especialização académica consiste na manipulação de estatísticas, moldando a realidade à medida dos seus interesses;
4 - Uma mulher que usa o trabalho, não como forma de realização, mas como modo de exaltação do poder próprio, criando, não o respeito, mas o medo em redor;
5 - Uma mulher ensimesmada, arrogante (...) que ama a solidão e despreza os homens;
6 - Uma mulher autoritária e severa consigo própria, imune ao princípio da tolerância ;
7 - Uma mulher que ambiciona ser ministra. Sê-lo-á?"
Quase que consegue, mas não chega a atingir o desiderato devido a um volte-face imprevisível e inimaginável. Ao contrário de Lurdes Rodrigues, que chegou a ser ministra (ainda o é por enquanto) e não terá rigorosamente nada a ver com o romance ficcional de Miguel Real, como é óbvio. A verdade seja dita. Apesar desta irrefragável realidade, no livro de Miguel Real, na página 128, intrigantemente, pode ler-se:
"Tenho quatro anos para fazer boa figura, pôr a escola portuguesa na Europa, onde ninguém reprova e todos caminham para um mínimo de cultura geral, mais não é preciso, chega, para o vulgo suburbano basta, a pesquisa na Internet preenche as falhas educativas, gerando uma ilusão de sabedoria para o novo habitante urbano, moldado pelo facilitismo e pela vulgaridade (...), é preciso revolucionar o ensino, dar ao povo o que o povo quer, um nico de cultura, um nico de ciência, umas palavritas de inglês, muita informática, chega, basta, um canalizador ou uma recepcionista de balcão não precisa de mais, é preciso harmonizar o ensino com o povo bárbaro que temos (...) facilitar a vida aos mais novos, empurrando-os para a passagem de ano, todos os anos, criar uma segunda oportunidade aos mais velhos, fazer equivaler a experiência de vida destes aos graus de ensino, basta um dossier com toda a informação, mais uma entrevista, pronto, todo o povo passa a ter o 12.º ano, ficam resolvidos os problemas da formação, acabar com o abandono escolar anulando os programas difíceis, no final dos meus quatro anos as estatísticas na educação têm de ser iguais às da Alemanha (...); a todos farei ver que sem mim o povo não teria o que passará a ter, domínio da informática, conhecimentos de inglês, agilidade mental para se safar na vida, para que precisa o povo de saber os sonetos do Antero ou a prosa do Eça?"...
Depois de se ler isto - e muito mais haveria para mostrar -, onde acaba a ficção e começa a realidade? Duma coisa poderemos estar certos, a senhora que é retratada por Miguel Real nada tem a ver com a talentosa e conspícua ministra da Educação do governo patriótico de Portugal..."
António Cândido Miguéis
Lisboa
terça-feira, 11 de agosto de 2009
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2 comentários:
Li o livro e sou professora. Ao contrário do que talvez esperassem, considero-o infame.
Independentemente da justeza de alguns comentários, que Miguel Real pode emitir a seu bel-prazer (e de pleno direito) no programa "Um certo olhar", esta não-ficção a fingir que é ficção parece ter como objectivo último o lucro fácil.
Fico, pois, muito feliz pelo facto de o livro não ter sido comprado, mas emprestado.
Gostaria que os professores portugueses soubessem "separar as águas" e manifestassem o seu descontentamento com frontalidade e lisura.
Assim, não.
Isabel Correia (Braga)
Texto repugnante. infame!
António Aguiar
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