segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Da actual Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física à futura Ordem dos Professores de Educação Física (1)

“Enquanto os médicos, em tempos idos,
só tiveram a concorrência dos barbeiros, 
o professor de Educação Física ainda vê 
o seu campo de acção invadido por simples
curiosos com o imprimatur do Estado” 
(Quintino da Costa, 
professor do INEF em início da década de 50). 

Continuo a considerar-me um defensor da criação de uma Ordem dos Professores de Educação Física, conquanto sobre a sua criação, comungue, por analogia, da opinião de Winston Churchill sobre democracia, dizendo ser ela a pior forma de governo exceptuando as outras. Assim, as novas ordens profissionais e antigos sindicatos são uma forma de que tenho receio por não respeitaram alguns as respectivas funções misturando vinho de boa cepa com água de límpida fonte dando aso a uma verdadeira zurrapa!

Mas aqui para evitar disposições legais confusas deverá morar, em sólido e inexpugnável castelo, “o soberaníssimo bom senso” de que nos falava Antero. Situação confusa esta que me traz me à memória o escritor Pio Barojo quando descreve o acontecido com um ministro espanhol que se virava para o seu secretário, advertindo-o; 
“Veja lá senhor Rodriguez se a lei está escrita com a necessária confusão!” Sempre que disserto sobre ordens profissionais encontro fundamento no meu livro “Do Caos `Ordem dos Professores” (edição do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados, Jan. 2004).
Foi ele escrito no tempo em que eu desempenhava funções de presidente da Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados, tendo proposto a criação de vários colégios da especialidade: Letras, Ciências, Educação Física e Desporto, etc. Na altura, deparei-me com vários constrangimentos vindos dos seus opositores sindicais e de um professor de Coimbra que afirmava de cátedra não se enquadrar a profissão docente no âmbito de profissão liberal.

Pouco a pouco, com a minha investigação desde os tempos anteriores ao Estado Novo até aos dias da sua publicação foram caindo folhas outonais dessa crítica (e outras) por perderem o viço de dogma. Mas isto são contas de outro rosário! Sobre a criação de uma Ordem dos Professores de Educação Física, escrevi uma trilogia de artigos publicados com grande destaque no jornal desportivo “Record”: “A (des)Ordem dos Professores de Educação Física” (5. Fev. 1998); “Para um Ordem dos Professores de Educação Física” (20.Dez.1988); e “Ainda a Ordem dos Professores de Educação Física” (30. Dez, 1998). No “Diário de Coimbra” (20.Dez.1988) era escrito em reportagem de um seu jornalista: “Professores querem avançar com projecto de estatutos".

Nesse texto era dado conta de um jantar com participação de duas dezenas de licenciados e bacharéis em Educação Física que, sentindo a necessidade de dar rosto a este grupo, decidiram nomear um presidente, um vice-presidente e um tesoureiro, respectivamente Rui Baptista, José Eduardo Falcão e Adelino Marques. O zénite destas acções em defesa da ordem passou a incidir, outrossim, sobre a criação da Faculdade Educação Física, noticiada, com grande destaque, com o título “Professores querem Ordem e Faculdade” (“Diário de Coimbra”, 8. Nov. 1989).

Esta tomada posição teve grande projecção nas margens do Mondego merecendo uma entrevista do grupo dinamizador na “Rádio Universidade de Coimbra”, em entrevista radiofónica (3. Nov. 1988) e uma detalhada entrevistado no”Diário de Coimbra” (6. Nov. 1989). Extraio da entrevista supracitada uns tantos nacos de suculenta prosa: - “Um grupo de licenciados em EF anunciou em conferência de imprensa o propósito da criação de uma Ordem e a urgência criação da Faculdade de Educação Física na Universidade de Coimbra.” - “A mesa que presidiu ao encontro com os jornalistas era formada pelos professores Adelino Marques, Luís Pires, Câmara Pestana, Rui Baptista, Vitor Azinhaga e António Portas.” - “Rui Baptista, a quem coube o papel de porta-voz do grupo, historiou as tentativas quanto à criação da faculdade, aludindo à primeira comissão que foi nomeada, algum tempo antes de 25 de Abril, para estudar o assunto.”

Retiro um breve historial dessa minha intervenção: Comecei por me referir à primeira comissão nomeada, antes de 25 de Abril., ter sido criado novo grupo seria nomeado, logo a seguir a 25 de Abril, “num voo cego rumo a nada” (Reinaldo Ferreira), seguindo-se-lhe um outro há algum tempo. O trabalho de qualquer deles, no entanto, não teve quaisquer resultados práticos, menos por culpa dos seus membros, mais por responsabilidade de quem quis mais uma faculdade de Educação Física [na altura havia, somente, as faculdades de Lisboa e do Porto] em horizontes longínquos de terras transmontanas.

Tempos depois, foi nomeado um novo grupo de trabalhos que terminou há poucos meses as suas funções. Dele faziam parte dois doutorados em Educação Física, Olímpio Bento (Universidade de Porto) e Jorge Crespo (Universidade Técnica de Lisboa) que entregaram, à reitoria da Universidade de Coimbra, um plano de licenciatura. Era dado um passo em frente, não tão largo como o desejado, finalmente! Entretanto, alertava eu para a situação de estarmos em Novembro, a uns tantos meses da abertura do ano lectivo de 90/91, e ainda não se encontrar publicado a legislação que a devia instituir.

A notícia que dava conta desta reunião punha em realce “a presença, na conferência de imprensa, do catedrático Teixeira Dias, candidato a reitor, que, na recente apresentação do seu programa de acção, tinha enfatizado a necessidade de ciar “rapidamente a Faculdade de Educação Física de Coimbra”. Finalmente, em 94 é criada na Universidade de Coimbra, adstrita à respectiva Reitoria, a licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física que passou a faculdade no ano a seguir. Sobre esta licenciatura génese da futura Faculdade de Educação Física, teci as seguintes considerações” (“Correio da Manhã”, 16.Dez. 1994): “Tudo leva a crer que a criação desta licenciatura, em vez da muito ambicionada Faculdade se fica a dever ao facto de ser preferível um parto prematuro a um maior arrastamento de um processo que podia levar a um parto teratológico de que a Universidade de Coimbra não desejaria a progénie.

Seja como for, Infelizmente, nas Comemorações de mais um centenário da vetusta Academia Coimbrã, a mais antiga de Portugal e uma das mais velhas da Europa, não esteve presente a sua oitava Faculdade, seiva de uma pujante e remoçada Universidade. Entretanto num horizonte que as nossas mãos já alcançam, segundo fonte oficial, a Universidade de Coimbra passará a contar em breve com a oitava Faculdade – a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pelo espinhoso processo de reconhecimento da academia também passou a FMH (UTL). Mas para a constituição de uma Ordem não chega a nobreza do "objeto de estudo", por muita saúde que ele capitalize e muitas medalhas conquiste. As ordens em Portugal para sobreviver precisam, infelizmente, de gordura: "estatuto", "privilégios", "moralismo", "inconsciência de classe", etc.
Paulo Costa

Rui Baptista disse...

Tanto breve quanto possível, publicarei uma resposta ao seu comentário que agradeço.

Rui Baptista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Baptista disse...

Transcrevo 3 comentários publicados a este meu artigo no meu Facebook:
Adelino Marques É bom ver pessoas que continuam a lutar no que acreditam e não esquecem algumas pessoas que partilham as mesmas ideias.

Rui Baptista Um homem só pouco consegue. É como D. Quixote a lutar contra moinhos de vento. Por vezes, essa tem sido a minha sina quando defronto governantes em que a palavra Democracia serve de pano às maiores opressões sobre o desprotegido cidadão. É, portanto, com amizade reconhecida que saúdo todos os Colegas que me acompanharam na dignificação do nosso múnus profissional com destaque para o meu Colega e Amigo Adelino Marques em cuja garagem nasceu o embrião dessa luta em se cumpriu um dos objectivos da nossa luta: a criação da Faculdade de Coimbra. O parto da Ordem há de nascer nem que seja a ferros, com a preciosa ajuda do último Congresso na Figueira da Foz. Coo diz o povo na sua enorme sabedoria: :"A esperança é a última coisa a morrer". Com os balões de oxigénio da "Praia da Claridade" aqui está ela remoçada para um luta de que sairá vencedora"

Rui Baptista Na oitava linha do meu comentário onde escrevi "em se cumpriu", rectifico para "em que se cumpriu". Outras atrevidas gralhas pousaram em galhos da minha prosa, Peço ao leitores que as chumbem (mesmo numa altura em que se fala acabar com os chumbos dos alunos) com as suas carabinas de pressão de ar! Continuo a escrever sob a tutela do Antigo Acordo Ortográfico, não é em vão que se diz que os velhos são teimosos Eu, embora na juventude dos meus 88 anos de idade, digo "urbi et orbi" que sou teimoso!
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