segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

SETE JOVENS APOSTAS PARA A PRÓXIMA DÉCADA


O DN perguntou-me eu escolhi, na ciência, Sofia Caria (38 anos), a trabalhar no Reino Unido para uma empresa multinacional na área da farmácia depois de ter trabalhado em Portugal, França e Austrália : ela vê com raios X a interacção molécula-proteína.

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/28-dez-2019/sete-apostas-para-a-proxima-decada-11650031.html?target=conteudo_fechado



Quando me perguntaram por um cientista promissor, consultei o gps.pt, GPS – Global Portuguese Scientists, a rede de cientistas portugueses no mundo, que engloba os cientistas com percurso internacional. Muitos casos de excelência podem aí ser encontrados, mas fiquei impressionado pelo longo e amplo percurso internacional da Sofia Caria, que não conheço pessoalmente. Actualmente, apesar de só ter 38 anos, já é cientista senior na empresa multinacional Evotec, no seu ramo britânico, depois de ter estado a trabalhar na investigação básica no sincrotão australiano e antes disso numa universidade australiana. Antes esteve em França, totalizando 14 anos de carreira científica internacional, após formação inicial na Universidade Nova de Lisboa. O trabalho dela é muito interessante: usa métodos físicos (cristalografia de raios X muito intensos) para conhecer a estrutura de proteínas ligadas a moléculas. Esta é uma nova forma de investigação de medicamentos,  o chamado “design racional de medicamentos”. Ver como é que uma  molécula – o princípio de um fármaco – “encaixa” numa proteína representa um enorme potencial para a inovação farmacêutica e médica. O sistema biológico molécula-proteína pode ser comparado a uma chave na fechadura: temos de encontrar a chave certa para uma dada fechadura. A Sofia é uma cientista experiente a trabalhar para a indústria de ponta, aplicando aquilo que aprendeu em investigação fundamental.  Ela tenta ajudar os químicos a encontrar ou melhorar um medicamento a partir do conhecimento da forma da proteína.

Queria com a sua escolha chamar a atenção para o facto de a ciência em Portugal ter de se ligar mais à economia. Tem de crescer com maior conexão à indústria. No GPS encontram-se cientistas nacionais com elevada competência que não encontraram lugares em Portugal à altura das suas qualificações. Constituem grandes esperanças para o nosso futuro. Acontece que são muito raros entre nós os casos  de inovação empresarial como os que se desenvolvem em empresas  internacionais de base científica como a Evotec. A ciência em Portugal cresceu enormemente em Portugal nas últimas décadas, mas ainda investimos muito pouco em ciência. A fim de crescer ainda mais, para além de investir bastante mais nas universidades e institutos de investigação, tem de imitar as dinâmicas que ocorrem lá fora de cruzamento fértil entre a ciência e a indústria. A ciência pode dar-nos mais vida, mas para isso é preciso que demos “mais vida” à ciência.

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