terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

QUESTÕES SOBRE EDUCAÇÃO FÍSICA

“É preciso criar a adoração dos músculos” (João de Almada Negreiros, 1893-1970).

Agradeço e pretendo dar alguma respostas a questões  levantadas  num comentário anónimo insito no meu post aqui publicado:  “”A Educação Física e a Ignorância de Nuno Crato” (10/02/2015 às 16:32).

Eu próprio, que sou do "métier", me interrogo, por vezes,  sobre a crisma da nomenclatura Educação Física  para Motricidade Humana e, com isso dando azo  à criação de uma faculdade da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Motricidade Humana,  que comemora,  com pompa e circunstância  e em herança honrosa, o “75.º Aniversário” da Criação  do Instituto Nacional de Educação Física (23 de Janeiro de 1940), instituto de ensino superior em que se formaram os primeiros professores de Educação Física portugueses.

Vivia-se  então o início de uma década em que a Educação Física englobava a Ginástica (de Pehr Henri Ling, 1776-1830), os Jogos e os Desportos. Recordo que a Ginástica de Ling , adoptada, até certa altura,   oficialmente em Portugal,  teve como origem a Suécia, país escandinavo peocupado um elevado nível de alcoolismo da sua população e, como tal,  procurando na ginástica um forma de o combater.  Aliás,  a  Cinesiterapia, teve, por seu turno, a sua etiologia na ginástica de Ling  destinada   a alcançar  um bom índice postural ou mesmo a corrigir uma má postura dos  alunos em ambiente escolar.

Aqui chegado, num temática polémica, “ipso facto”, que está longe de ser consensual, entendo que a Educação Física deve  ter  o mesmo peso avaliativo que as outras disciplinas (ditas) intelectuais. O próprio Jean-Jacques Rousseau, reconhecia no século  XVIII: “Quereis cultivar a inteligência do vosso aluno? Cultivai as forças que a inteligência vai mobilizar. Exercitai-lhe permanentemente o corpo;  feito homem pelo vigor físico, em breve, o será também pela razão” .

Bem eu sei que esta perspectiva poderá  desagradar  aos progenitores de  gorduchos ou enfezados eusebiozinhos  habituados “a memorizar todas as coisa do saber”,  que se acotevelam para entrar nas faculdades de Medicina preocupados pouco com a sua saúde e mais com proventos profissionais futuros de uma profissão com um estatuto social  e económico  diferente dos outros licenciados universitários por  lidar com a doença e serem a esperança na sua cura!

A avaliação dos alunos na disciplina de Educação Física - sem pôr em causa o  valioso papel educativo do Desporto, enquanto escola de virtudes e de “fair-play”-  em meu entender, deveria ser fundamentada, com maior objectividade,  numa caderneta,  de que constasse uma bateria de testes físicos, facilmente  mensuráveis,  que acompanhasse a evolução do aluno durante o seu percurso escolar. “ Que venham sugestões melhores  e, sobretudo, soluções que levem a malfadada Educação Física a  libertar-se do estigma de parente pobre do sistema educativo português por se tratar de uma questão de inquestionável interesse nacional. 

Aliás,  o próprio  John Kennedy, ao tempo senador dos Estados Unidos, o reconheceu com rara felicidade : “A aptidão física não é apenas uma das mais importantes chaves para se ter um organismo sadio, é a base da actividade intelectual criativa e dinâmica. A relação entre a saúde do corpo e as actividades da mente é subtil e complexa. Ainda falta muito para ser entendida. Os gregos, porém, ensinaram-nos que a inteligência e a habilidade só podem funcionar no auge da sua capacidade se o corpo estiver sadio e forte; que os espíritos fortes e as mentes confiantes geralmente habitam corpos sadios”.

 E por favor, não me venham com a desculpa esfarrapada de que há alunos que não têm habilidade para a disciplina de Educação Física. Outros há que dizem não terem vocação, por exemplo, para a Matemática, facto que não invalida que sejam avaliados nesta disciplina e a respectiva classificação  conte para o acesso aos cursos universitários mais disputados. Ou seja, é tudo uma questão de bons e salutares hábitos!  



2 comentários:

Anónimo disse...

"não me venham com a desculpa esfarrapada de que há alunos que não têm habilidade para a disciplina de Educação Física"

O Sr. Rui Baptista obviamente nunca teve a experiência de ser a rapariga mais pequena da turma, com fraca capacidade de coordenação, obrigada a jogar futebol, básquete, andebol, vóleibol, sempre em grupos mistos. A minha experiência da chamada "Educação Física" foi das mais dolorosas e humilhantes da minha vida.
Colocada a jogar numa posição defensiva, o meu principal objectivo era fazer de conta que tentava defender, enquanto saía o mais depressa possível da frente, principalmente quando o atacante era um rapaz, mais velho, mais agressivo, e muito maior que eu (ou seja quase sempre). Ainda assim, o pior bullying nunca veio dos meus colegas, mas sim de uma professora de educação física, que achava engraçado gozar com a minha falta de jeito à frente dos meus colegas. Os outros professores de educação física que tive eram mais compreensivos, mas ainda assim tinham que seguir o programa, e se o programa diz que agora se joga básquete, e agora joga-se andebol, etc, era isso que tínhamos que fazer. A maioria das minhas colegas (e muitos dos rapazes) também detestavam os jogos que éramos obrigados a jogar, mas mesmo pedindo por favor só na última aula de todo o liceu (!) é que nos deixaram jogar badmington, por exemplo. Também gostei dos lançamentos do peso, dardo, etc, mas só nos deixaram experimentar uma vez.
Durante todo o tempo em que andei no liceu detestei o desporto, e se me dissessem que anos mais tarde ia descobrir que afinal gosto de actividade física, gosto de correr, gosto de nadar, gosto de fazer treino com pesos e ver o que o meu corpo consegue fazer, diria que estavam a brincar. Só anos depois da traumatizante educação física ter terminado é que me senti com coragem para experimentar ir ao ginásio, e gostei.
Não sei porque será necessário obrigar as pessoas a praticar anos seguidos desportos que detestam e nos quais são incompetentes, em vez de encorajar as pessoas a encontrar um desporto de que gostam e que possam praticar em exclusividade a partir daí. Não é assim que se faz noutros países? Não é assim que se encontram os atletas com talento? Eu também acho que não é verdade que haja pessoas que não têm habilidade para nenhum desporto, mas muito poucos têm habilidade para todos os desportos. Eu não tinha habilidade para nenhum dos que tive que praticar, à excepção da natação. Porque é que no ano seguinte tive que voltar a jogar básquete, futebol, etc, se o que eu gostava era de nadar?
Tal como a educação física é ensinada hoje em dia, ainda bem que a nota não contava para nada, senão eu não tinha conseguido entrar no meu curso de opção (não, não era medicina, mas não é só para entrar em medicina que é preciso boas notas).
Hoje em dia gosto muito de praticar exercício físico, mas não foi graças à educação física; bem pelo contrário. Acho que a educação física podia realmente ser uma disciplina importante, podia realmente criar bons hábitos de actividade física, mas não é isso que acontece hoje em dia.

Anónima sem jeito para jogar à bola

Rui Baptista disse...

O se comentário emite opiniões sobre a sua má experiência no que tange à Educação Física escolar. O que não invalida, porém, que mantenha, sem alterar sequer uma vírgula, a parte final do meu post: E por favor, não me venham com a desculpa esfarrapada de que há alunos que não têm habilidade para a disciplina de Educação Física. Outros há que dizem não terem vocação, por exemplo, para a Matemática, facto que não invalida que sejam avaliados nesta disciplina e a respectiva classificação conte para o acesso aos cursos universitários mais disputados. Ou seja, é tudo uma questão de bons e salutares hábitos!

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