Recebemos do Director da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra este texto, onde se aponta o dedo a mais um ERRO monumental da FCT que, se houvesse seriedade, devia ter consequências numa reavaliação:
Não obstante os indícios que têm
sido apresentados em contrário, a FCT tem mantido a posição de que não existem
quotas no processo de avaliação. Se tal é correto, a decisão por parte dos
painéis de excluir metade das unidades de investigação a concurso baseia-se
estritamente numa avaliação de mérito absoluto, entendendo que estas não
cumprem os critérios de qualidade mínimos que são exigíveis em atividade de
investigação com nível internacional. Numa avaliação deste tipo é normal que
assuma algum relevo a produtividade científica passada, normalizada em função
da dimensão das unidades, o que permite apurar indicadores verdadeiramente
comparativos com padrões internacionais. Embora tardiamente, após a avaliação
preliminar por três referees e a
subsequente fase de rebuttal, a FCT
pareceu caminhar neste sentido ao disponibilizar um estudo bibliométrico
encomendado à Elsevier. Neste estudo constava um fator de normalização
designado por FTE (full time equivalent)
researchers, a partir do qual eram
calculados elementos relevantes como o número médio de publicações e de
citações por investigador, com valores globais e por percentis função da
qualidade das revistas.
Sendo o conceito de FTE intuitivo
e óbvio, foi algo estranho verificar que o cálculo dos valores reportados pela
FCT não era suscetível de ser reproduzido por engenharia inversa, sendo os
valores superiores ao número de membros integrados mas não correspondendo à
soma destes com colaboradores, bolseiros, estudantes de doutoramento ou de
combinações de diferentes grupos. Na impossibilidade de compreender os valores
de FTE, foram pedidos esclarecimentos à FCT, sem resposta imediata, tendo
entretanto sido recebidos os resultados da fase seguinte da avaliação com a
atribuição da classificação final harmonizada pelos painéis de avaliação. Estes
painéis tiveram seguramente acesso ao estudo bibliométrico, pois em muitos
casos nos relatórios das unidades são referidas as taxas de publicação e
citação normalizadas resultantes daquele estudo (ainda que por vezes com
discrepâncias incompreensíveis num processo que se pretende rigoroso). Na
impossibilidade de compreender os dados, a generalidade das unidades não terá
sequer comentado os valores de produção científica que lhe foram atribuídos no rebuttal à proposta de classificação
harmonizada.
Em momento incerto, mas que tudo
indica muito recente e posterior à atribuição das classificações harmonizadas e
ao subsequente rebuttal
das unidades (finais de agosto?), verifica-se que a FCT republicou no seu site
o estudo bibliométrico da Elsevier com correção dos valores de FTE. Esta
correção é igual em praticamente todas as unidades e consiste numa simples
divisão dos valores anteriores por 2. Não sendo percetível a origem do erro na
primeira versão do estudo, é certo que os novos valores são agora consonantes
com o esperado – soma das percentagens de tempo dedicadas à unidade por cada um
dos seus membros integrados. Esta correção, efetuada num momento já adiantado
do processo de avaliação e certamente da responsabilidade da FCT e não da
Elsevier, tem uma consequência dramática nos resultados do estudo
bibliométrico, duplicando a produtividade per
capita das unidades em fatores relevantes como o número de publicações e de
citações!
Num processo de avaliação sem
quotas, certamente que os valores de produtividade corrigidos são um elemento
muito importante que deveria ser de novo reapreciado pelos painéis, uma vez que
colocam a ciência portuguesa num patamar de mérito absoluto muito superior ao
que foi tido em conta na avaliação anteriormente efetuada. Expectavelmente,
decorrerá desta reapreciação uma subida generalizada das classificações das
unidades e uma redução significativa da percentagem das que não tiveram acesso
à segunda fase, sem prejuízo da necessidade de correção de casos específicos de
manifesta subavaliação através de outros mecanismos.
Caso a FCT não entenda proceder a
uma reapreciação da classificação de todas as unidades face a este erro agora
detetado, podemos concluir que o considera irrelevante por afetar todas as
unidades de igual forma, o que constitui indicador de que a avaliação é afinal
de carácter meramente relativo entre as unidades a concurso e como tal
estruturada por quotas definidas à partida.
Luís Neves
Diretor da FCTUC
5 comentários:
Existe um possível factor 2 muito óbvio mas muito susceptível a confusões que provém da maneira como se contam os investigadores que são professores universitários.
Saiu hoje uma notícia na imprensa que talvez merecesse aqui um post?
Li-a hoje num jornal semanário e, a propósito dela, fiz este pequeno comentário que distribui pelos meus amigos.
«Paulo Veríssimo, cientista da computação que dirigia o Laboratório de Sistemas Informáticos de Grande Escala (LaSIGE) na Faculdade de Ciências de Lisboa, unidade de investigação que não passou na 2.ª fase de avaliação da FCT, teve de aproveitar a oportunidade (de emigrar), pois estava a viver acima das suas possibilidades.
Concorreu a uma bolsa de investigação (socialista, certamente) no Luxemburgo e a mesma (desperdício puro) foi-lhe atribuída no valor de 5 milhões de euros, indo criar uma equipa de investigação no Centro Interdisciplinar para a Segurança, Fiabilidade e Confiança (SnT) da Universidade do Luxemburgo.
É o que dá Portugal andar a formar ignorantes numa Escola Pública da brincadeira e depois em universidades de compadrio e vão de escada.
Acabado o dinheiro dos outros (dos nossos impostos e dos empréstimos externos), só lhes resta tentarem a sorte nos países do 3.º mundo.
Foi o que mais este oportunista fez.
E não é que conseguiu uma pipa de massa?
Bem arrependidos vão ficar os luxemburgueses daqui por uns anos.
Nós livramo-nos de mais este chupista que vivia à nossa conta.
Viva o Passos, o Crato, o Miguel Seabra e a FCT.
Portugal vencerá!»
Só a ironia nos pode livrar das úlceras gástricas.
Julgo que o casamento, mesmo que ainda só"de facto", entre uma "Escola Pública de
brincadeira e depois em universidades de compadrio e vão de escada" (penúltima e última linha do 3.º § do seu comentário, meu caro Manuel da Silva) deixa pairar a dúvida do grau de ensino da referida Escola Pública frequentada por mais este "oportunista ou chupista que vivia à nossa custa": escola pública do ensino secundário, do antigo ensino médio ou do ensino politécnico?
Simples curiosidade minha por ter publicado hoje um post, neste blogue, em defesa da escola pública do ensino não superior.
Cumprimentos cordiais,
Senhor R. Baptista:
O meu comentário só é compreensível à luz da minha relutância em ter uma úlcera gástrica, pelo que me socorri da ironia.
Que cada um leia como melhor o entender.
Por aqui me fico.
Senhor M. Silva:
Sou pouco dado em resolver advinhas, salvo esta: "Qual é a coisa qual é ela que é branca por fora e amarela por dentro?"
Dada a fraqueza em confessar esta minha limitação, e esperançoso de não vir a ter uma úlcera gástrica, por aqui me fico porque a saúde psicossomática é um bem precioso!
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