Crânio 17 de Sima de los Huesos em Atapuerca
Mais uma vez Atapuerca está na ribalta, desta vez não por
causa duma nova descoberta mas sim pela análise de toda uma série de crânios
que têm vindo a ser descobertos na Sima de los Huesos um autêntico tesouro,
aparentemente inesgotável, de fósseis humanos. A página que desta vez é escrita
sobre a evolução humana tem a ver com a origem dos neandertais, os nossos
primos hominíneos mais próximos, com quem coexistimos até há 30 mil anos. O
homem de Neandertal nasceu na Europa e, até aqui, acreditava-se que os Homo
heidelbergensis (de Heidelberg onde foi descoberto o 1º fóssil desta espécie,
em 1907) estariam na sua origem.
Ora, a possibilidade de analisar um conjunto de 17 crânios com
cerca de 430 mil anos (pleno Pleistocénio Médio) provenientes dum único local é
ímpar.
A análise feita pela
célebre equipa espanhola liderada por J.L. Arsuaga (Universidade Complutense,
Madrid e Centro de Evolução Humana), agora publicada na revista Science, é exaustiva e foca-se sobretudo em
caracteres não métricos do crânio apesar de também incluir algumas
características métricas. Os resultados permitiram algumas conclusões
importantes das quais destaco o facto destes fósseis da Sima, Atapuerca, não
serem mais considerados como membros da espécie Homo heidelbergensis. Esta
categoria taxonómica fica com fosseis como Arago (França) e Ceprano (Itália), e
Mauer (Heidelberg) também do Pleistoceno Médio.
Coexistiram, assim, várias linhagens evolutivas no
Pleistoceno Médio entre as quais a dos hominíneos da Sima de los Huesos que
seriam os mais próximos filogeneticamente dos neandertais. Outra conclusão é
que estes hominíneos também não são considerados neandertais, não obstante as
apomorfias.
Cautelosamente, a categoria taxonómica dos fósseis da Sima
fica em aberto. Cada vez mais, há evidências a favor de várias linhas
evolutivas das quais só algumas terão conseguido seguir em frente. Curiosamente,
este estudo vem ao encontro dos resultados preliminares da análise do ADN
mitocondrial dos fósseis da Sima (Dezembro de 2013) que sugeriu que estes
hominíneos estivessem mais próximos dos denisovianos (espécie contemporânea dos
neandertais conhecida através de dados genéticos) do que dos neandertais. Merece
destaque igualmente o facto da nova datação, resultante da aplicação de várias
técnicas, tornar estes fosseis como os mais antigos (credivelmente datados) de
hominíneos com características derivadas não partilhadas pelos ancestral comum
(apomorfias).
Finalmente enfatizo o facto deste estudo permitir afirmar que
foram as características faciais que primeiro evoluíram, ou seja, nem todas as particularidades
cranianas mudaram ao mesmo tempo, o que é designado por evolução em mosaico.
Este é um dado novo também sobre a evolução dos neandertais.
Eugénia Cunha (Departamento Ciências da Vida/Universidade de
Coimbra)
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