segunda-feira, 23 de junho de 2014

ALTERAÇÃO DAS ROCHAS (3)


A distinção entre alteração mecânica e alteração bioquímica reflecte, sobretudo, uma preocupação pedagógica, uma vez que na natureza há sempre associação dos dois processos, dominando um ou outro, isso sim, consoante as condições ambientais.

A alteração mecânica predomina largamente nas zonas climáticas que têm em comum acentuada pobreza de água no estado líquido, quer por extremo calor e secura quer por excesso de frio e, consequentemente, caracterizadas pela quase inexistência de vegetação. A actividade bioquímica é aqui, pois, muito reduzida ou, praticamente, nula. Nas restantes zonas a alteração mecânica é muito menos importante face aos processos químicos ou bioquímicos. A alteração mecânica tem, pois, papel secundário entre a meteorização, dado que ocupa área relativamente pequena no conjunto das terras emersas.

Propícias a este tipo de alteração distinguem-se as regiões áridas quentes e frias, as regiões glaciárias, as periglaciárias e as de alta montanha. Várias acções físicas têm aqui papel preponderante. Uma delas, a primeira a actuar, é a expansão por descompressão que ocorre nas situações em que há subida das rochas, da profundidade para a superfície.

Termoclastia
Duas outras são a dilatação e a retracção dos minerais das rochas por efeito das variações de temperatura ambiente. Nas regiões desérticas, por exemplo, o ar é seco, a variação térmica do dia para a noite pode atingir valores consideráveis e as variações processam-se com grande rapidez. No Sahara, são conhecidas amplitudes diárias da ordem dos 70º C. Nestas condições, as rochas estalam e fragmentam-se continuamente, num processo conhecido por termoclastia [1].

 Uma vez que muitas rochas contêm minerais escuros e minerais claros, portanto, com diferentes graus de absorção da energia radiante do Sol, estes minerais aquecem e dilatam-se de modo diferente, o que conduz à contínua «descolagem», entre si, dos respectivos grãos, que acabam por se desagregar. Por outro lado, devido à pouca condutibilidade térmica das rochas, verifica-se um aquecimento da película externa dos afloramentos rochosos, que contrasta com a temperatura no seu interior.

Tal facto origina um outro tipo de termoclastia, manifestado pela descamação [2] das rochas, tanto mais intensa quanto maiores forem as amplitudes térmicas sofridas.
Descamação
A fragmentação e a desagregação da rocha devido a variações de temperatura, por anisotropia de dilatação, também ocorre a níveis térmicos a que nos habituamos a chamar frios, numa avaliação relativa face à nossa própria temperatura fisiológica. Neste caso, usa-se a expressão crioclastia [3].
Crioclastia
Ainda associada ao frio, a gelivação que abarca não só a crioclastia, mas também a desagregação da rocha por expansão devida à congelação da água existente nos poros e nas fissuras.

Um outro agente de desagregação é a haloclastia, ou seja, a abertura de fendas e interstícios das rochas provocada pela cristalização de sais, quer os contidos na água de impregnação, após evaporação desta, quer os resultantes da hidratação de sais anidros, como é o caso da transformação de anidrite em gesso. 

Mecanismos como os atrás descritos afectam constantemente a coesão da capa superficial das rochas, provocando descamação e/ou desagregação ao nível dos grãos minerais constituintes. A rocha perde, assim, a coerência, embora mantenha a constituição mineralógica e a composição química iniciais.

Notas: 
[1] Expressão composta a partir dos elementos gregos thermos (calor) e klastos (quebrado).
[2] Processo que consiste na separação de placas superficiais, ou escamas, de espessura milimétrica a centimétrica, que acabam por se desprender do afloramento rochoso.
[3] Característica de um meio cujas propriedades físicas variam com a direcção.
[4] A partir do grego kryos (frio, glacial).
A. Galopim de Carvalho

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