O livro é de 2004 e saiu em Portugal em 2008, mas só agora, em 2012, o pude ler. Isso não tem qualquer importância porquanto se trata de um livro sem data, do passado para o futuro.
É um livro sobre livros, mas não sobre quaisquer uns: é sobre uma mão cheia daqueles que marcam a ocidentalidade, mais precisamente sobre símbolos em que se detém o nosso olhar para o mundo e que o direccionam, que orientam a maneira como pensamos e nos pensamos no recanto da individualidade.
Um livro “para leitores comuns” sobre livros, ou melhor, sobre pessoas, algumas desconhecidas, que têm escrito de modo “sapiencial” (página 16), porque reúnem sabedoria, ensaiam-na, firmam-na e transmitem-na: “O ensaio pertence a Montaigne, a epopeia a Homero e o romance para sempre a Cervantes” (página 111).
Quem escreveu esse livro foi Harold Bloom quando convalescente duma doença que quase o matou, o que faz toda a diferença na pena recta, objectiva, deste leitor, crítico literário e professor em Yale.
Trata-se, pois, dum testemunho, à beira do pessoal, sobre o absolutamente essencial entre o essencial, sobre a palavra que deve ficar no fim duma vida de leituras, que confessadamente se orientou por três critérios: “o fulgor estético, a força intelectual e a sabedoria” (página 15).
É preciso (talvez) ter lido os livros de que Bloom fala para se perceber exactamente do que fala, mas, percebendo-se a leitura flui, mostrando linhas de sabedoria que conhecemos ao ponto de orientarem a nossa vida, sem termos consciência de que as conhecemos. Logo, é um livro que ilumina.
Sendo um livro sobre livros onde está sabedoria seria de pensar que Bloom subliminar ou explicitamente recomendando a leitura, num tempo em que todos a recomendam e para todos os males. Não é o caso, escreveu ele: "Eu penso que lemos para reparar a nossa solidão, embora no plano pragmático quanto melhor lermos, mais solitários nos tornamos. Não posso considerar a leitura um vício, mas a leitura também não é uma virtude (página 95).
Referência completa:
- Bloom, H. (2008). Onde está a sabedoria? Lisboa: Relógio D´Água.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
1 comentário:
Li o livro, concordo em ser interessante, mas um pouco injusto da proposta pautando no sentido de que a sabedoria não é por si só, já que sábio o é, por compartilhar pois do contrário perder-se-á o sentido do saber. Ao mesmo tempo que invoca a interrogação, "Onde encontrar a sabedoria?" (título na versão brasileira) ora, se saio a procurar distancio...e o que interessa do saber é a unidade, penso eu, sei lá.
Enviar um comentário