sexta-feira, 9 de março de 2012

CAVACO: UM PRESIDENTE AO RALENTI


Sou insuspeito de simpatias por José Sócrates. Mas o assassínio de carácter que o actual Presidente da República lhe está a fazer acusando-o de "falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia” não faz qualquer sentido nesta altura. O Presidente funciona ao "ralenti". Ele teve na devida altura, sentado como está na mesma cadeira do poder, se julgava que o caso era sério, a oportunidade de o reconhecer e dizer a todos nós. Agora, funciona apenas como uma distracção dos nossos reais problemas, acerando a luta política ao apontar um bode expiatório. O que vai ficar na história da democracia é a incapacidade de atenção e actuação atempada do Presidente.

9 comentários:

joão boaventura disse...

Caro Professor

O que Cavaco está a fazer é mais uma tentativa de salvar a face, procurando outros alibis que recomponham a anterior figura do Presidente da República.

Mas, de justificação em justificação, de desculpas em desculpas, o quadro permanece como um balão a encher, ou mais um acontecimento crítico a juntar à crítica crise.

E o pior é que temos de conviver com isso, com um permanente ambiente de permanente manutenção do "Desassossego", de Bernardo Soares:

"Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido de que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos."

Fernando Martins disse...

O que resulta de mais esta gaffe do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, é que a eleição do chefe de estado pelo atual sistema, leva a que a promiscuidade entre partidos e a chefia do estado conduza a trapalhadas como esta (ou como a de Eanes, que patrocinou um partido, o PRD, para se vingar da retirada de poderes com que o PS o brindou, a guerra de Soares presidente a Cavaco Silva primeiro ministro, a queda de um líder do PS, chegada a primeiro ministro de um inapto e a chegada ao poder de Sócrates na magistratura de Sampaio e agora a mais uma trapalhada de Cavaco, depois da guerra dos Açores, das escutas e muitas outras...). Acompanhado por isto, um facto curioso: a Presidência portuguesa custa três vezes mais que a Casa Real Espanhola (sem fazer contas com os ex-presidentes, quatro no ativo, mais as suas comitivas, amigos, choferes, seguranças, secretárias e fundações...).
Há que repensar a função do Chefe de Estado e perguntar aos portugueses se não será melhor voltar a ter um chefe de estado mais barato, verdadeiramente independente dos partidos e possa unir os portugueses e recordar que era isso que os Reis, na Monarquia constitucional eram e faziam...

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Caro Professor Fernando João Fernandes Oliveira Martins;

Não seria preferível ter um país sem amos?

Cordialmente,

José Batista da Ascenção disse...

Peço desculpa, até ao próprio, por referir

algo mais prosaico, e mais preocupante:

Cavaco Silva, para além de uma inépcia de

raiz para a função, estará a ficar senil?

Já o ouvi e duvidei. Mas, sem qualquer

maldade, interrogo-me sobre se não estará

a ficar incapaz.

É que são tamanhas "nabices" que me parece

que qualquer pessoa no cargo não fazia pior.

Fernando Martins disse...

Caro Joaquim: eu sou anarquista, mas enquanto não convencer todos os outros da necessidade de haver não amos nem mestres prefiro ser, duplamente, realista.

José Fontes disse...

Fernando:

As 3 grandes provas da união dos portugueses promovida pelos reis foram a bancarrota de 1892, o regicídio de 1908 e a implantação da República de 1910.
Em 1892, (quase) todos unidos na miséria;
Em 1908, muitos unidos contra a monarquia;
Em 1910, muitos unidos contra a monarquia e em favor da República.

Anónimo disse...

Anarquista?!!!
Consegue-me apresentar um argumento plausível a favor do anarquismo? E como refuta os melhores argumentos contra o anarquismo?

Luís

Fernando Martins disse...

A bancarrota de 1892 teve menos efeitos do que o ultimato britânico; o regicídio só teve apoio nalgumas zonas urbanas de algumas cidades (os republicanos eram uma minoria - tiveram menos votos do que o BE nas penúltimas eleições parlamentares, nas últimas eleições democráticas da monarquia) e só houve 5 de outubro porque o Rei D. Manuel II não estava preparado para reinar e não prosseguiu com os objetivos do pai; em 1910, no 5 de outubro, há fotos que mostram dezenas de lisboatas a festejar enquanto o resto trabalhava e não tinha nada para festejar. Aliás a república, para se impor, reduziu os votantes a menos de metade, proibiu os monárquicos de concorrerem e nem se deu ao trabalho de ir a votos nos círculos eleitorais de lista única (que foram a maioria) na primeira "eleição" republicana.
Conseguiu o apoio no lugares certos - os caciques locais, a tropa e as guardas pretorianas da altura: o exército e a GNR, bem como os restos de células da Carbonária e da Maçonaria (as formigas brancas). A I república foi um exemplo do que é mau governar, de censura, de roubalheira e de asneira (comparada com ela, a classe política do final da monarquia constitucional eram uns santos). O resultado foi o Estado Novo e Salazar, desejados pela maioria da população, com o triste resultado que sabemos. E se Salazar tivesse feito o que prometeu (ou fingiu prometer) aos monárquicos, provavelmente a Monarquia tinha regressado e tinhamos poupado o país ao PREC e às asneiras entre o 11 de março e 25 de novembro (prolongadas com o Conselho da Revolução até aos anos oitenta). Se tem dúvidas, veja o caso espanhol...

Fernando Martins disse...

O anarquismo permite que cada um faça o que lhe apeteça, o que é ótimo. O problema é que enquanto não soubermos respeitar os outros primeiro não pudemos fazer o que nos apetece, pois afeta os outros. Eu, sempre que possível, faço só o que gosto mas sem que isso prejudique os outros - ou, melhor ainda, tento incluir os outros, de forma igualitária, no que faço, inter pares. Sei que a anarquia é uma utopia, mas gosto de utopias - e é pelo sonho é vamos...

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...