domingo, 13 de março de 2011
O futuro da exploração espacial
Novo post de António Mota de Aguiar, desta vez não sobre o passado mas o futuro da exploração espacial:
No passado dia 9 de Março aterrou no Centro Espacial Kennedy no Cabo Canaveral (ver aqui), a última experiência espacial da nave Discovery. Provavelmente vai para um museu, onde poderá ser admirada pelos serviços efectuados desde que começou a sua primeira saída espacial em 1984. Os Estados Unidos já se lançaram nos estudos para a construção de um novo substituto, o Crew Exploration Vehicle, batizado com o nome Orion.
Em 2005, o administrador da NASA Michael Griffin defendia no Congresso o cancelamento ou o atraso na execução de certos projectos, como o da investigação biológica no espaço e ainda o cancelamento, pelo menos temporariamente, de um programa sobre tecnologias de sistemas nucleares destinados a fornecer energia a futuras instalações sobre o sol lunar. Defendendo o programa espacial, o administrador da NASA dizia que para os Estados Unidos era essencial seguirem na frente mundial da exploração espacial, conforme anunciado pelo presidente W. Bush em Janeiro de 2004.
Já passaram seis anos. Entretanto chegou uma nova administração à Casa Branca, houve novos cortes no orçamento espacial, mas é sobre o Orion que a América de hoje, coloca a sua esperança de colocar alguns homens na Lua por volta de 2020, e de seguir nos anos seguintes para Marte e outros planetas do sistema solar. Sem dúvida que é uma proeza notável. Mas a aventura americana no espaço estará em sintonia com as necessidades do homem?
Se tudo correr bem, vamos ter alguns homens na Lua, haverá mais e sofisticados contactos com a Estação Espacial Internacional (ISS), mas esta situa-se a cerca de 400 km da Terra. Sendo que a Alfa Centauri está a 4,2 anos-luz do Sol (1 ano luz = 9 460 536 207 068 km.), à velocidade das nossas naves espaciais actuais, de cerca de 60.000 km por hora, levaríamos mais de 40.000 dos nossos anos a lá chegar, e a Alfa Centauri é a estrela mais próxima de nós! Nas condições actuais de vida na Terra, é muito tempo para o ser humano. Dadas estas distâncias, à velocidade a que estamos a avançar no espaço, quando chegaremos a bom porto? E chegar a bom porto é certamente pensar que estamos no possível caminho de salvar a humanidade da sua eventual destruição, seja esta auto-destruição seja proveniente de catástrofes naturais, como a que ocorre neste momento no Japão.
Carl Sagan pensava que o espaço inter-estelar era demasiadamente grande para não ser habitado. Tinha as suas razões para pensar assim. Mas há muita gente que pensa que a vida é uma coisa única no Universo e, se ela desaparecer, não voltará a existir. No Universo onde vivemos, frio e inescrutável e do qual desconhecemos a sua origem, surgiu a nossa espécie que começou a reflectir sobre si própria, sobre o seu entorno. Coisa tão frágil, ameaçada por um rápido crescimento da população mundial num planeta com recursos limitados , sujeita aos perigos calamitosos causados pelo próprio homem e sujeita claro aos fenómenos da natureza.
Assim que, quer a esperança que Carl Sagan tinha em haver outros planetas habitados, isto é, que não seriamos os únicos no Universo, quer a desesperança daqueles que opinam que não há praticamente hipóteses de haver vida em qualquer outro lugar do Universo, todos estamos interessados em pôr em marcha um mecanismo de saída do sistema solar, cujo tempo de vida de 5000 milhões de anos do próprio Sol, põe um limite à nossa própria vida.
Daí que a epopeia norte-americana no espaço (europeia, russa, chinesa, indiana, ou outra qualquer) devia ser uma experiência colectiva, um esforço colectivo da humanidade, do máximo número de países da Terra. Iríamos certamente mais depressa e mais longe. A descoberta do espaço deveria levar toda a humanidade a participar nesse projecto, não à concorrência capitalista desalmada entre poucas nações. Uma parte dos enormes recursos financeiros e humanos hoje dedicados ao armamento deveriam ser desviados para a exploração espacial. Desse modo faríamos certamente progressos mais rápidos que aqueles que estamos a fazer. Para que serve esta exploração espacial actual, a passo de tartaruga? No espaço sideral não haverá luta das espécies, mas luta da sobrevivência da espécie humana.
António Mota de Aguiar
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6 comentários:
Não creio que o tempo de "vida" de 5000 milhões de anos do nosso sol constitua alguma espécie de limite à nossa própria vida, se estivermos a pensar na vida humana, claro. Não sei qual a opinião dos biólogos mais avalizados sobe tal assunto. Mas sei que nenhuma espécie de seres vivos terrestre teve, até ao momento, hipótese de experimentar uma tal longevidade, já que a vida na Terra terá aparecido há cerca de 4000 milhões de anos...
E também se me afigura que, a estar certa a teoria da evolução de Darwin, serão praticamente nulas as probabilidades de qualquer espécie biológica ter uma tão grande durabilidade... Isto não contando com as possibilidades (não desprezáveis) de a própria espécie humana se destruir belicamente ou devido a acidentes por si provocados, sem falar na poluição crescente que parece não sermos capazes de travar...
Outra afirmação que não deixo de comentar é a que refere que "no espaço sideral não haverá luta das espécies, mas luta da sobrevivência da espécie humana": claro que não será fácil, dadas as distâncias e a velocidade a que teriam de ser percorridas, que espécies biológicas de sistemas solares diferentes se pudessem "encontrar" para lutar... Mas, não vindo o mal daí, está eliminado o perigo de os próprios humanos transportarem para o espaço a feroz competição e a guerra que a toda a hora alimentam e protagonizam na "casa-Terra?"
Em resumo: o que devemos procurar com mais afinco: a sustentabilidade na Terra ou o alastrar da acção humana para a Lua, Marte ou algumas luas de Júpiter?
Pobritos de nós: havemos de matar-nos grandiloquentemente.
Tem razão: devemos procurar a sustentabilidade na Terra. Porém, se o homem desviasse os recursos que dedica actualmente ao armamento para a exploração espacial, mudaria de paradigma existencial, e melhoraria certamente a sustentabilidade na Terra.
à velocidade das nossas naves espaciais actuais, de cerca de 60.000 km...tempo não considera tamanho da nave em questão e massa necessária para aceleração e travagem
os 60mil km/hora também poderiam ser superados
desde que haja massa de reacção para acelarações
sucessivas e não apenas uma aceleração inicial após o projéctil sair do campo gravitacional terrestre
o facto de se propulsionarem uns centos ou mesmo uns milhões de tones para o espaço
e uma carga humana insignificante
tal em nada mudaria a sustentabilidade da terra
Caro António Mota de Aguiar
Como eu concordaria consigo se fosse possível... fazer um "Homem novo".
Porém, das tentativas feitas até ao momento não se pode dizer que alguma tenha indubitavelmente resultado...
Caro José Batista da Ascenção,
A UTOPIA! Lá diz o ditado: enquanto há vida há esperança!
O homem é tão homem que pra qualquer coisa que ele faça ,a primeira coisa que vem em sua mente são conquistas através das guerras.A mentalidade do homem e suas ações é que o define mas o dinheiro o limita,o priva de ver e descobrir coisas fascinantes e de trazer o melhor que a tecnologia pode nos proporcionar.
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