Publiquei vários textos neste blogue sobre essa ideia peregrina que é a contextualização das aprendizagens dos alunos.
Trata-se de uma ideia que se faz passar por pedagógica, apesar de não se encontrar para ela confirmação empírica: não, os alunos não aprendem mais nem melhor se partirmos, se nos situarmos e, sobretudo, se não sairmos daquilo que é a sua vida pessoal e do que a rodeia.
Se esta ideia, que assume contornos de convicção inabalável, começou a manifestar-se através da solicitação de aspectos da vida pública dos alunos, depressa passou para o domínio do privado e do íntimo.
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Em documentos curriculares, em manuais escolares, em actividades avulsas, em fichas de avaliação, tudo o que se possa imaginar que pertence a este domínio é solicitado à criança: que partilhe com os pares acontecimentos marcantes da família, o que faz com ela no fim-de-semana, como é o seu corpo, que tipo de alimentação e higiene tem, que sistematize a sua árvore genealógica com fotografias...
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Enfim, nos últimos anos a exposição da criança tem sido uma regra que se tem intensificado: o que faz ou deixa de fazer, o que pensa ou deixa de pensar, o que sente ou deixa de sentir, é escalpelizado até ao osso, e em diversas frentes.
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Regra que começa a associar-se a outra que se me afigura ainda mais grave: a exposição da opinião acerca do modo de estar e de ser de pessoas que lhe são próximas. A criança, além ser conduzida a falar de si em plena sala de aula, passa a ser conduzida a falar também dos outros. Isto, ao que parece, sem restrições de qualquer tipo. Mais: fala com a legitimidade que a sala de aula autoriza e com a infinita liberdade de expressão não filtrada pelo senso e sensibilidade que só com o tempo e a educação se conseguem.
Percebi esta última regra quando vi diversas actividades que consistem no seguinte: as crianças pedem informações a familiares, de preferência pais; essas informações são apresentadas em sala de aula e discutidas por todos, sendo que, nessa discussão, cabe a possibilidade de concordarem ou discordarem dos familiares; a que se segue a categorização, não das opiniões dos familiares, mas dos próprios familiares (por exemplo, face a um certo assunto são "conservadores" ou "abertos"?). Isto tudo com a recomendação ao educador ou professor para que adopte uma atitude de "neutralidade absoluta".
Trata-se de uma regra que parece transcender os muros da escola e do sistema educativo, que parece estar inflitrada na sociedade, que, nessa medida, não a estranha, antes a corrobora, a reforça... Percebo, com grande estranheza, que até mesmo certos intelectuais a aceitam e desenvolvem.
Refiro-me, em concreto, a power-point usado no 1.º Ciclo para comemorar o Dia do Pai retirado de um livro da autoria duma escritora para a infância.
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O livro é uma sequência de "estereótipos de pais" (que, na verdade, são mais caricaturas), como se pode ver na primeira figura, sendo, no final, a criança convidada a descrever o seu pai, ou o estereóptipo (caricatura) em que o seu pai encaixa, como se pode ver na segunda figura.
terça-feira, 22 de março de 2011
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1 comentário:
E assim se recria a nova Mocidade Portuguesa. Ensinar está a ser cada vez mais, derrubar crenças, pensamentos e estereotipar ideias convenientes ou politicamente correctas.
E claro, afastando os pais dos filhos.
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