segunda-feira, 7 de março de 2011

Ainda outro poema de Manuel da Fonseca


O "Quarto" Poema da Infância de Manuel da Fonseca (na fotografia; nascido em Santiago do Cacém a 15 de Outubro de 1911 e falecido em Lisboa a 11 de Março de 1993) fica muito bem depois do "Segundo" (o "Terceiro" que me perdoe por ter sido saltado):

Depois

vinha o luar pela rua fora;
e nem o jogo das cinco pedrinhas nos interessava.
Seria de cansados de correr
ou cansados do luar?
Ficávamos sentados no chão.
Imóveis.
Só as famílias puxavam cadeiras para as portas.
E conversavam coisas antigas e misteriosas.
E nós sentados no chão.
Cansados.
Dizia o avô: - quando eu era novo...
E o avô era novo
e tinha um cavalo que corria, corria...
Quem levantou a cortina da janela
quando o avô passava em frente de certa casa?
E o luar na rua
e no teu rosto de menina deslumbrada.
Quem pôs o luar no fundo dos teus olhos?
Imóveis no chão, e com uma vontade nem sei de quê.
Decerto
foi numa noite dessas
que eu pus os dedos sobre o teu peito
e senti os teus seios nascerem debaixo das minhas mãos!

Nunca mais jogámos o jogo das cinco pedrinhas!...

Manuel da Fonseca

8 comentários:

Anónimo disse...

Independendentemente do seu alinhamento literário, assumidamente neo-realista, eis um belo trecho de prosa poética... arremedando o verso, que só por si não constitui... Poesia, embora seja o seu suporte natural! JCN

José Batista da Ascenção disse...

Sim, estas coisas são o que cada homem poderia escrever, se tivesse qualidade literária suficiente. Sobretudo na adolescência... Poesia, poesia, também a vejo (sinto) como outra coisa. Sei lá...
Por isso, prefiro de longe o Manuel da Fonseca de "Seara de Vento", de "O Fogo e as Cinzas", de "Cerromaior"...
O desenho de uma personagem como Amanda Carrusca, não me parece ao alcance de escritores menores...

Anónimo disse...

Creio não andarmos longe da verdade, caro Dr. José Batista da Ascenção, admitindo que Manuel da Fonseca é mais poeta quando escreve em prosa do que tangendo a lira! Que longe dos versos anda por vezes a Poesia! JCN

José Batista da Ascenção disse...

É como diz, e muito bem dito, meu caro Professor.
E no entanto, se me desculpa, reforço: quão longe da Poesia "militam" tantos e tantos versos! Será a Poesia que lhes foge ou "eles" que, procurando-a, a afugentam irremediavelmente?
Mas reconheço, naturalmente, aos autores (todo) o direito de se sentirem inspirados e aos apreciadores o de se sentirem satisfeitos.
Só escrevo isto por entender que os gostos se discutem.
E os meus são apenas os meus.

Anónimo disse...

Líndíssimo!
HR

Maria do Céu Guerra disse...

O Manuel da Fonseca é porque foi um grandecissimo escritor.Ele era enorme a contar estórias a escrever contos e romances e a escrever poesia.Vocês conhecem o poema Mataram a Tuna..? Grande poema e o poema dos funcionários da Camara Municipal.Ele era capaz de descobrir a poesia que nós não vemos e dar-no-la de presente.No dia 17 de Maio na Barraca vai haver uma leitura colectiva da Seara de Vento.Vamos todos ? É às sete horas. maria silva

Anónimo disse...

alguem me podia ajudar com a uma interpretaçao deste poema?

Anónimo disse...

alguem me pode indicar alguma informação sobre este poema?

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...