domingo, 6 de março de 2011

BIG BANG (as)Sexual



1º Texto, de uma série, publicado primeiramente no astroPT.

A vida eclodiu replicante no planeta, sem tons de azul, há cerca de quatro mil milhões de anos.

Biomoléculas contendo simultaneamente informação e “habilidade” autocatalítica de se replicarem, no interior de bolhas primevas delimitadas por películas lipídicas, deram a toada constante para o mote replicativo assexuado na biosfera.

Desses tempos apreciamos a fidelidade na cópia eficiente e exacta da informação mais ajustada ao envolvente, capaz de garantir uma explosão exponencial de clones colonizadores da imensa solução aquosa que envolvia e arrefecia suavemente os resquícios da acreção planetária.

Ainda não encontramos fósseis terrestres desses primeiros tempos. Por isso são úteis quaisquer fósseis extraterrestres que corroborem esta hipótese e emprestem substância científica à ficção.

A replicação assexuada populou o planeta de seres unicelulares em suspensão aquosa. Cada novo átomo incorporado acrescentava excitação à duplicação até ao ajuste da estabilidade conforme à fidelidade original.

Chuvas de elementos “supernovos”, jorrados por explosões, canto do cisne de supernovas distantes, causariam convulsões assexuadas muito excitantes para as bolhas replicantes.

Sob agitação constante em banho-maria a vida terá evoluído de excitação em excitação, molecular e elementar, sempre com rima presa na assexualidade de uma exuberante mitose.

Pelo menos e tanto quanto sabemos durante uns dois mil milhões de anos, a vida pendulou assim até à incorporação, não de moléculas e elementos, mas de outras “bolhas replicantes”, num exercício deambulante de predação indiferenciada.

E, numa relação atrevida, uma bolha incorpora outra bolha até um resultado estável. A tendência entrópica controla-se num erotismo que dissolve o paradigma procariótico de um único ambiente interino.


Num espasmo vesicular, a vida abraça-se em novos compartimentos intracelulares num prenúncio de vésperas eucarióticas.

António Piedade

(continua)

2 comentários:

Anónimo disse...

Nos domínios da ciência
um pouco de fantasia
confere à nossa existência
um sopro de poesia!

JCN

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Houvera de energia o calor,
um elemento e via elemento
da força e atracção o for
faz-se maioral, emplemento.

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