quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"Julgo que todos saberão o que são as Metas de Aprendizagem"

Retomando no De Rerum Natura a questão da Metas de Aprendizagem, entendidas como instrumento essencial para conduzir o ensino não superior - Educação, Pré-escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário -, transcrevemos o essencial da conferência proferida pela actual Ministra da Educação, em 14 de Setembro passado, para apresentação das que foram elaboradas até ao momento .

"Julgo que todos saberão o que são as Metas de Aprendizagem (…), procuramos fazer uma determinação clara para cada ano e cada disciplina de quais são aprendizagens que devem se adquiridas nesse ano e nessa disciplina. O projecto de Metas de Aprendizagem insere-se numa estratégia global de desenvolvimento do Currículo Nacional que foi delineada pelo Ministério da Educação, a partir de Dezembro de 2009, e que visa esta determinação (...) de referentes de gestão curricular que sejam desenvolvidos ao longo dos vários anos de escolaridade e que funcionem como instrumentos de apoio aos professores, apoio à gestão do currículo, tratando-se de uma estratégia que tem sido seguida em vários países com bastantes sucesso, com resultados efectivos no que respeita à monitorização do trabalho e aos resultados de aprendizagem.

Nós tivemos em conta a experiência e os resultados do trabalho efectuado nesta linha em vários países e também de projectos de investigação sobre este domínio e foi como base nessa informação que decidimos lançar este projecto.

Neste momento já estão realizadas metas correspondentes a cada uma das disciplinas e áreas disciplinares desde o pré-escolar até ao final do 9.º ano do Ensino Básico (…). São nove conjuntos de metas que já estão realizados. Uma outra equipa (…) definiu também metas para a Educação para a Cidadania que serão lançadas com a mesma metodologia (…).

As metas destinam-se (…) em primeiro lugar aos professores, que poderão usá-las para preparar a sua gestão curricular, para preparar as aulas, para orientar e avaliar as aprendizagens dos alunos. Mas destinam-se também aos pais dos alunos, às famílias, para que possam acompanhar mais de perto as aprendizagens dos seus filhos, dos seus educandos. E aos próprios alunos, que ter ali um instrumento no qual podem verificar quais são as (…) aprendizagens que devem focalizar como essenciais em cada ano de escolaridade.

Como disse também, não são documentos normativos, não são prescritivos, mas são referenciais. Pretende-se que o uso que efeito das metas decorra do reconhecimento da sua utilidade, da sua utilidade prática, por parte dos professores em primeiro lugar, mas também por parte dos alunos e das famílias.

A nossa expectativa, Ministério da Educação é fornecer um instrumento de apoio aos docentes que lhe permita focalizar melhor todo o seu trabalho e também permita clarificar os conhecimentos e as competências de base para cada ano e disciplina e ajustar a incidência do ensino e também os instrumentos de avaliação concebidos e usados pelos professores normalmente no seu trabalho da sala de aula, como também os instrumentos de avaliação de aferição, elaborado pelo Gave, e também os exames quando vierem a ser elaborados para o Ensino Secundário.

Finalmente, posso dizer-vos que o fito essencial, o objectivo essencial deste projecto é, no quadro da missão do Ministério da Educação, melhorar a aprendizagem de aprendizagem, melhorar os resultados escolares.

Quanto ao processo de trabalho que foi seguido, o Ministério celebrou um contrato, através da DGIDC, com uma entidade externa, o Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, tendo a coordenação ficado a cargo do Professor Natério Afonso (…). O Instituto de Educação constituiu uma equipa composta por especialistas de várias instituições que foram coordenadas por especialistas nas áreas científicas e didácticas (…).

O projecto foi apresentado em reuniões com associações científicas e associações profissionais, os documentos foram também enviados a estas associações, a quem foi solicitada uma apreciação técnica de pareceres e sugestões e actualmente já recebemos (…) os pareceres das instituições que foram consultadas e a equipa de especialistas encarregue de elaborar o documento final está a ajustá-lo, a aprefeiçoá-lo em função destes pareceres (...).

Eu disse documento final mas este nunca será um documento completamente fechado. As metas de aprendizagem, porque à semelhança de outros países que desenvolvem esta estratégia, é sempre possível ajustar, melhorar e ir mais longe. Portanto, podemos dizer que este é um primeiro passo para uma estratégia que se irá desenvolver em que o documento das metas vai sendo objecto de aperfeiçoamento sucessivo em função não só dos pareceres científicos como sobretudo da monitorização que vai se feita no terreno (…).

Ao mesmo tempo que se publicarão as metas são também disponibilizados exemplos de actividades que permitem atingir essas metas, de actividades de ensino e de aprendizagem e também exemplos de estratégias de avaliação que permitem verificar se os desempenhos dos alunos realmente correspondem aquilo que são as metas que se visam. Esses exemplos vão ser também ser elaborados pelas equipas de especialistas coordenadas pelo professor Natércio Afonso (…).

Em simultâneo, será realizado um processo de monitorização focado em escolas, em dez agrupamentos, que nós iremos seleccionar em função (...) de consulta para verificar quais são os agrupamentos que estão interessandos em participar mais de perto em serem acompanhados na utilização destas metas e na sequência desse convite público será montado um dispositivo de acompanhamento.

Naturalmente que tentar-se-á abranger um leque de agrupamentos que abranja vários tipos de situações e na sequência desse trabalho voltarão a ser introduzidos ajustamentos nas Metas e de acordo com a programação do próximo ano, o projecto desenvolve um segunda fase que consiste, por uma lado, no ajustamento das metas que já estão elaboradas e, por outro lado, na definição de metas para o Ensino Secundário, [onde] estão já identificadas doze áreas curriculares que também serão objecto deste trabalho de definição de metas."

11 comentários:

joão boaventura disse...

Um filósofo, além de uma boa biblioteca, necessita igualmente de uma boa cozinha.

Assim também os professores, além das boas metas de aprendizagem, necessitam de uma boa cozinha.

Isto para dizer que o filósofo, para filosofar, necessita de, além dos meios para alimentar o cérebro, o sossego de espírito.

Assim também os professores, para apreender as metas da aprendizagem e ensinar, necessita do sossego de espírito para que a máquina do ensino deslize como um barco em águas calmas.

As metas da aprendizagem, em meio turbulento, com um futuro negro à frente, não há sossego de espírito nem segurança para tirar das metas da aprendizagem as utilidades que comportam.

Com crianças a frequentarem as cantinas aos sábados e domingos porque à família falecem os meios, as metas de aprendizagem vieram fora da época da apanha.

Quando o futuro escurece, quem pode enxergar as metas de aprendizagem ? Desde Dezembro de 2009 o Ministério apresenta-as como o oásis útil, necessário e atempado.

As metas constituem o passatempo do Ministério da Educação, para esquecer o essencial, e esconder os verdadeiros problemas da Educação.

É uma arma política, em que os políticos se comprazem. É como as Novas Oportunidades, para esconder os verdadeiros problemas da Educação.

É o que se faz num Estado falido.

Anónimo disse...

Pelo sim pelo não, vou-me ficando pela cozinha da "Meta dos leitões"... enquanto, a exemplo do Estado, não se encontra em falência! JCN

joão boaventura disse...

Vivemos no mundo do faz-de-conta, ou no da "Alice no país das maravilhas".

Ignoro qual o pathos deste governo porque vive no mundo ilusório da magia, onde tudo o que é real desaparece por encantamento, paga-se, e em sua substituição fazem-se ruídos par atrair os incautos e distraídos do Reino Perdido transformado em Circo de Fantasia Nunca Vistas:

Um estardalhaço que atordoou o mundo escolar foi o da artista Maria de Lurdes Rodrigues: conseguiu que o ensino desse uma cambalhota de tal forma que ninguém sabia o que é que estava a acontecer;

Havendo necessidade de esquecer este fracasso circense, outro artista se aprontou a chamar sobre si a atenção do povo, foi o palhaço vestido de Centros de Novas Oportunidades que maravilharam os cientistas da magia:

- alunos cábulas num abrir e fechar de olhos de repente apanharam-se com o 9.º ano e outros com o 12.º ano, entraram nas universidades e deixaram os catedráticos maravilhados;

- desempregados sem habilitações, adquiriram por alquimia a arte da informática, de bater pregos sem entalar um dedo, e de outras artes malabares, e entraram imediatamente num emprego e deixaram estarrecidos os funcionários do Ministério do Trabalho, e a taxa do desemprego a descer no INE. O milagre dos pães era um arremedo. E as pessoas do povo, maravilhadas com tanta magia, perguntavam entre si, porque razão não aplicaram estes números mágicos há mais tempo.

Como estes truques artísticos foram descobertos havia necessidade de distrair o povo com um número novo que atraísse as atenções para esquecer as anteriores. Como as capacidades inventivas pareciam esgotadas, finalmente, um artista conseguiu criar um número novo: Metas de Aprendizagem.

Assim, de invento em invento, para esquecer o invento anterior e seus fracassos, o Reino está a esgotar os recursos mágicos, e os espectáculos deixaram de maravilhar.

Esta é a história do Reino que vivia da magia.

Fartinho da Silva disse...

Se os dirigentes políticos tivessem que responder em Tribunal por todos os disparates por si criados e assinados, talvez o país evitasse o default.

Anónimo disse...

O mais certo... seria darem-se por inimputáveis! JCN

José Batista da Ascenção disse...

Metas. Especialistas. Ajustes. Documentos nunca completamente fechados.
Que há-de a gente dizer?
E valeria a pena dizer o que quer que fosse?
Portugal é como é e para quem é.
Suportemos pois, o sítio e os frequentadores.

joão boaventura disse...

Caro Fartinho da Silva

Os deputados da Monarquia Constitucional propuseram a medida, mas com a boca pequena - sabe como é - assim a modos de quem está a informar que os políticos são pessoas sérias, tão sérias que até estão a pensar contra eles.

Os efeitos são benéficos e úteis: até dá gosto ser vassalo e ter governo. Posto este boato a circular, os deputados nunca mais pensaram no caso. O recado principal foi dado.

É como a badalação das metas de aprendizagem, que é uma forma de dizer, como o orçamento do Estado: como agora estão preenchidas todas as condições para que as escolas funcionem a 100% (orçamento aprovado na generalidade), na vamos começar a divagar sobre coisas, na especialidade, que podem ajudar os professores a tirar mais rendimento dos alunos. Primeiro sinal político: o Ministério finalmente vai começar a pensar em nós. e nós acreditamos.

Caro Fartinho da Silva, o nosso primeiro ministro deixou-se influencias pelas Conversas em Família de Marcelo Caetano, as quais se justificavam porque:

“nem sempre a circunstâncias proporcionam ao Chefe do Governo oportunidade para, num discurso, esclarecer o seu pensamento ou elucidar o público sobre problemas correntes ou objectivos a atingir. Mas os actuais meios de comunicação permitem conversar directamente com as pessoas, sem formalismos, sem solenidades, sempre que seja julgado oportuno ou necessário."

Não me lembro se estas Conversas em Família, eram semanais ou mensais ou ocasionais, mas o nosso primeiro ministro ultrapassou a barreira do som porque as transformou em "Conversas a Toda a Hora", por tudo e por nada, com a diferença de que Marcelo Caetano foi o fundador do moderno Direito Administrativo Português e influenciou gerações de juristas sobre a forma de pensar uma Administração Pública legal e sujeita ao contencioso, enquanto o actual primeiro ministro foi o afundador da educação, da justiça e da economia nacional.

No outro lado da lusitaneidade temos a outra face da moeda, que dá pelo nome de Comédia Fascista, esgotando a loquacidade proverbial nacional, em despique com o outro lado.

Aí temos os dois lados do euro português, estampando os protótipos lusos que esperam por D. Sebastião a cantar:

Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Caro Fartinho da Silva, infelizmente é este o nosso mundo. Os egrégios avós estão a guiar-nos à derrota.

Anónimo disse...

Então, se um aluno falhar pelo menos uma das metas a uma disciplina, deve ter nível negativo a essa disciplina?
Porque será que me parece que não vai ser nada disto que se vai acontecer?
Será porque já vi este filme, com outros protagonistas, com um enredo ligeiramente diferente, é certo, mas no fim de contas, vai dar tudo ao mesmo?
Não era isto que era urgente para a escola.
O que continua a ser urgente é que volte a haver paz, sossego e tranquilidade dentro dos muros da escola e falta tanto para lá chegar...
Pais, eduquem os vossos filhos!
Não exijam da escola o impossível!

Anónimo disse...

AAAGHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!
Salve-se quem puder destes discursos delirantes em clivagem com o mundo real!
Não se aguenta mais!

M.I.L.-Lisboa

Fartinho da Silva disse...

Caro João Boaventura,

Excelente texto o seu e que tanto acrescenta a este final de ciclo português. Pena foi que tanta gente com responsabilidades tivesse permitido que chegássemos tão depressa ao tal maldito ponto matemático - o ponto de descontinuidade...

E o assustador é estarmos todos a perceber que não temos massa crítica para assumir este ponto de descontinuidade, o pragmatismo para estudar a construção de um novo regime mais próximo das pessoas e que liberte a criatividade de cada cidadão para a construção de um país melhor, a coragem de enfrentar a oligarquia presente e evitar uma cada vez mais provável cleptocracia generalizada. Este regime está morto há já algum tempo, cheira cada vez pior e os responsáveis por ele estão unicamente preocupados em encontrar novos perfumes para disfarçar o cheiro nauseabundo do regime em decomposição acelerada para evitar uma reacção das massas que ponha em causa a sua vidinha... Parece que o final da Monarquia e da 1ª República não nos ensinou nada de coisa nenhuma...

Anónimo disse...

Lá ensinar... ensinou; nós é que não aprendemos a lição! JCN

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