Dado que gerou alguma controvérsia a referência que Rui Baptista fez aqui ao seu antigo professor de História no liceu Passos Manuel, José Hermano Saraiva, recebemos do nosso habitual colaborador um acrescento:
“Este mundo é duro: haverá sempre inquisidores e fogueiras” (António José Saraiva, 1963).
Embora correndo o risco de a deslustrar com a opacidade do verbo desta minha breve introdução, entendo que o meu post anterior, “Memórias das minhas aulas de História” (12 de Outubro de 2009), deve ser complementado com uma carta que recebi do Prof. José Hermano Saraiva a 29 de Setembro de 2005. Uma carta decerto merecedora de divulgação pela sua inegável qualidade literária e pela penetrante ironia de fino aço de Toledo que por ela perpassa.
Sem delongas, transcrevo-a como o fiz, depois de devidamente autorizado, na altura em que se desenrolaram os acontecimentos que motivaram o meu post anterior:
“Recebi a sua carta com o recorte do 'Diário de Coimbra'.
Agradeço-lhe muito as suas palavras amigas que usa a meu respeito. Não sabia do artigo em causa, mas não me surpreende. Conheço a pessoa e sei que não fez aquilo por mal. É apenas incapaz de fazer melhor Fiquei particularmente enternecido com a recordação dos tempos da minha juventude em que com tanto entusiasmo tentava iniciar os meus jovens amigos na inteligência da História.
Quero ainda dizer-lhe que concordo inteiramente com o seu ‘P.S.’[1]. Como advogado defendi muitas dezenas de presos políticos no Tribunal Plenário de Lisboa. A discordância vi-a na frase ‘não haver machado que corte a raiz ao pensamento’. Infelizmente há. As fogueiras da Inquisição ainda hoje fazem sentir o seu efeito exterminador, e a prova é que em 1974 as cinzas reacenderam-se e provocaram um novo ‘auto de fé’. Passados 30 anos ainda há quem ache isso bem.
Não julgue que estou com isto a censurar os pontos de vista do meu colega e autor da carta. Desde os astrónomos gregos, sabemos que o mundo é redondo e o círculo tem 360 graus. Os meus antípodas têm tanto direito de pensar como eu”.
(in Rui Baptista, “O Leito de Procusta – Crónicas sobre o Sistema Educativo”, Lisboa, 2005, p. 103).
Aqui chegado, declaro, por meu turno, como escreveu Jacques Leclerc, que “não foi meu propósito favorecer quem quer que fosse , mas sim, e unicamente, expor as coisas que aconteceram” .
NOTA:
[1] Dizia o meu P.S.: “Para evitar especulações de deturpação de intenções, desde já declaro que abomino qualquer tipo de prisões por motivos políticos, que não atentem contra a vida de pessoas inocentes, ou de mordaça de regimes totalitários à liberdade de expressão, que acaba por não vingar porque, no dizer poético de Carlos de Oliveira, ‘não há machado que corte a raiz ao pensamento’ ”.
Rui Baptista
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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