sábado, 24 de outubro de 2009

Ribossomas… Prémio Nobel da Química


A habitual crónica do bioquimico António Piedade no "Despertar":

É do conhecimento comum que o “manual de instruções” para a construção, funcionamento e manutenção do nosso organismo está codificado na longa molécula de ADN, por sua vez armazenada nos 46 cromossomas herdados dos nossos pais.

Essa informação é necessária para a síntese de milhões de proteínas. Estas possuem inúmeras funções como a estrutural e/ou mecânica, de que são exemplo as fibras musculares, ou a função de fomentar determinadas reacções químicas imprescindíveis à vida num intervalo de tempo compatível com a mesma vida, como sejam as proteínas (que nesta função recebem o cognome de enzimas) que “digerem” os alimentos que ingerimos em nutrientes assimiláveis pelas células, ou as que catalisam a síntese dos constituintes celulares a partir daquela matéria-prima.

Uma questão esteve sempre no pensamento dos cientistas: como é que a informação residente no ADN é utilizada para sintetizar essas proteínas?

A resposta foi sendo dada à medida do avanço biologia molecular e estrutural e foi galardoada com vários prémios Nobel da Fisiologia ou Medicina e da Química (ver http://nobelprize.org/nobel_prizes/) com a confirmação que o ADN é a biomolécula da hereditariedade e a descoberta da sua estrutura em 1953 por Watson, Crick, Wilkins (Nobel 1962) e Franklin, pela elucidação dos mecanismos de síntese do ADN e ARN por Ochoa e Kornberg (Nobel 1958), pela descoberta do código genético (relação entre a sequência de bases no ADN e a correspondente sequência de aminoácidos numa proteína) no início da década de 60 por Niremberg, Khorana e Holley (Nobel de 1968), elemento decisivo para traduzir a linguagem genética para a linguagem proteica. Outro avanço para a resolução deste puzzle foi a elucidação, por François Jacob e Jacques Monod (Nobel de 1965) e por Andrew Fire e Craig Mello (Nobel de 2006) dos mecanismos que permitem regular a leitura e transcrição da informação genética numa “versão”, o ARN mensageiro, que viaja do núcleo (onde estão os cromossomas) para o citoplasma celular. É aqui, junto ao núcleo, que estão presentes milhões de fábricas de tradução e síntese de proteínas: os ribossomas.

Os ribossomas presentes nas nossas células são estruturas compostas por 4 moléculas de ARN e por mais de 50 proteínas associadas numa arquitectura de duas subunidades: uma maior e outra menor. Da interacção dinâmica das duas subunidades e dos seus elementos constituintes faz com que a informação transportada pelo ARN mensageiro seja descodificada ou traduzida na forma de proteínas. A subunidade maior “lê” a mensagem e transmite internamente essa informação, palavra a palavra, para a “secção” de montagem e síntese da proteína nela inscrita, na subunidade menor. O ARN mensageiro atravessa assim as duas subunidades e à medida que é lido, a cadeia proteica correspondente começa a emergir do ribossoma (ver animação: http://pubs.acs.org/cen/multimedia/85/ribosome/translation_bacterial.html).
Para o entendimento dos vários passos envolvidos neste processo é importante saber qual a posição relativa e o qual o papel desempenhado por cada um dos elementos nas duas subunidades do ribossoma. Para isso é decisivo saber a posição relativa no espaço dos milhões de átomos que compõem as moléculas que formam o ribossoma. Esta cartografia atómica é possível utilizando raios X. Esta radiação, ao interagir com um cristal de ribossomas, é reflectida originando padrões geométricos. Qual radiografia, os padrões são analisados segundo a lei de Bragg e, utilizando ferramentas matemáticas que transformam determinadas características dos padrões, em informação posicional dos átomos que lhes deram origem.

Foi este trabalho estrutural sobre o ribossoma que deu agora lugar à atribuição conjunta do prémio Nobel da Química a V. Ramakrishnan, T. A. Steitz e A. E. Yonath. (http://nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/2009/index.html).

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito interessante

AINDA AS TERRAS RARAS

  Por. A. Galopim de Carvalho Em finais do século XVIII, quer para os químicos como para os mineralogistas, os óxidos da maioria dos metais ...