terça-feira, 30 de abril de 2024

EMPIRISMO NO PENSAMENTO DE ARISTÓTELES E NO DE ROGER BACON, MUITOS SÉCULOS DEPOIS.

Por A. Galopim de Carvalho
 
Se, numa aula de filosofia, o professor começar por dizer que a palavra empirismo tem raiz no grego “empeirikós” e que significa experiência, está praticamente tudo explicado. Assim, um tema que quem não sabe julga difícil de abarcar, torna-se tão simples como uma conversa em torno da cozinha, por exemplo. Empirismo, na filosofia de Aristóteles, é, pois, a linha de pensamento segundo a qual todo o conhecimento deve ser baseado na observação do mundo e não na intuição ou na fé. 
 
"Não existe nada na mente que não tenha passado pelos sentidos", afirmou este que foi o fundador do Liceu de Atenas, no século IV a. C. Esta linha opõe-se ao Inatismo de Platão, conhecido como corrente do pensamento que acredita e defende que o conhecimento de um indivíduo é uma característica que nasce com ele ou, dizendo por outras palavras, que lhe é inato. Não obstante ter sido seu discípulo, Aristóteles contrariou esta concepção do mestre. 

Quase 17 centúrias depois, o inglês Roger Bacon (1214-1294), filósofo e alquimista, alargou o pensamento de Aristóteles introduzindo a variante experimental, no sentido de trabalho de laboratório. 
 
O Empirismo deste frade inglês, conhecido como "Doctor Mirabilis" (Doutor Admirável em latim), alude, entre outras, às experiências que, séculos depois, continuam a ser feitas nos laboratórios do presente, estando, portanto, na base do método experimental. É hoje um dado assente que só os resultados experimentais permitem a indução em ciência. 
 
Base ou fundamento do método científico, o Empirismo ensina que todas as hipóteses e teorias devem ser testadas por dados experimentais.

Diferente do conhecimento científico (baseado em factos verificáveis e comprovados pela experimentação), o conhecimento empírico, no sentido que hoje vulgarmente se lhe dá, é o que se adquire na nossa vivência diária, aprendendo superficial e acriticamente, através dos sentidos, fazendo, errando e corrigindo. É, em suma, o da experiência pessoal. Não obstante não ser considerado de nível científico, o conhecimento empírico, nesta óptica, foi a base de toda a sabedoria que, ao longo de séculos, conduziu a humanidade até o surgimento da ciência e continua a conduzir todos os milhões de homens e mulheres que, vivendo à margem da ciência, beneficiam de tudo o que ela produziu e produz em termos de tecnologia.

No caso da culinária, por exemplo, o conhecimento é essencialmente empírico, não devendo, todavia, esquecer-se que os electrodomésticos e outros equipamentos ao dispor, assentam em conhecimentos verdadeiramente científicos e que, cada vez mais, a ciência, nomeadamente a bioquímica, tem vindo a introduzir ensinamentos importantes no que respeita a dieta alimentar.

Na imagem: Roger Bacon no seu laboratório. Pintura de Ernest Board (1877-1934) 
 
A. Galopim de Carvalho

6 comentários:

Anónimo disse...

1 - As mulheres têm menos dentes do que os homens;
2 - As moscas têm oito patas;
3 - Quando se pontapeia uma bola, ela segue uma linha reta, e depois cai a pique.
Pronto, está bem!, Aristóteles não observava: só propunha a observação; o aristotelismo foi criado por outros que não Aristóteles.
Nós(?), os velhos, ouvimos falar de Aristóteles, um pilar (oculto) da igreja por mais de mil anos.
Os novos(?) terão ouvido falar de Aristóteles?

Anónimo disse...

Peço perdão, no comentário das 9 h 49 falta uma linha:


Exemplos de observações de Aristóteles:

1 - As mulheres têm menos dentes do que os homens;
2 - As moscas têm oito patas;
3 - Quando se pontapeia uma bola, ela segue uma linha reta, e depois cai a pique.
Pronto, está bem!, Aristóteles não observava: só propunha a observação; o aristotelismo foi criado por outros que não Aristóteles.
Nós(?), os velhos, ouvimos falar de Aristóteles, um pilar (oculto) da igreja por mais de mil anos.
Os novos(?) terão ouvido falar de Aristóteles?

tempus fugit à pressa disse...

quem teve filosofia no 10º 11º ano ouviu falar de aristóteles, isto é os jovens com 60 ou menos anos

tempus fugit à pressa disse...

agora desde ouvir falar e conhecer as obras de aristóteles vai um grande passo

Anónimo disse...

Aparentemente, os "novos" já só conheceram aristóteles, não Aristóteles.

Carlos Ricardo Soares disse...

O nosso conhecimento é um sistema de indícios e de presunções que vai de primeiras evidências ao sucessivo reforço e confirmação, ou infirmação, das hipóteses que temos em mente. É como se andássemos sempre a reboque do facto, do que aconteceu, da tal peça que falta no puzzle, por mais que ela ainda não exista. Conceber a realidade como um puzzle é julgar com base em provas "desenhadas" por nós próprios. Mas a realidade pode e deve ser encarada e entendida, mais como um sistema dinâmico de peças de "lego".

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