quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR EM PORTUGUÊS

 


Meu capítulo do livro « Em Português: Falar, viver e pensar no século XXI

Coordenação: Fernando Ilharco | Marília dos Santos Lopes | Fernando Chau | Filipe Coelho» 

que saiu na Universidade Católica:

1-      Introdução

O português é a língua não só dos escritores Luís de Camões e Fernando Pessoa, mas também dos cientistas Garcia de Orta e António Egas Moniz, em Portugal. É a língua não só dos escritores Machado de Assis e João Guimarães Rosa, mas também dos cientistas Oswaldo Cruz e César Lattes, no Brasil. É uma língua literária, mas também uma língua de ciência e inovação. E, longe de se encontrar apenas em Portugal – sua origem histórica – e no Brasil – o país com maior o número de falantes – , está espalhada por uma vasta geografia, que inclui Cabo Verde, Guiné – Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor, para não falar de outros sítios com presença histórica Macau (China), Goa (Índia), Batalicoa (Sri Lanka), Malaca (Malásia) e Flores (Indonésia). A língua portuguesa é global por estar presente em quatro continentes (Europa, África, América e Ásia), quer por pessoas que vivem nos países onde nasceram quer por comunidades (portuguesas, brasileiras, cabo-verdianas, etc.) emigradas, espalhadas pelo mundo. Contando com cerca de 258 milhões de falantes (232 milhões como língua materna e 25 milhões como segunda língua), o português é  a sexta língua materna no mundo e a oitava língua no que respeita ao número total de falantes [1-2]. Graças principalmente ao Brasil, mas também a Angola e Moçambique, é a língua mais falada no hemisfério Sul.

Neste artigo começaremos por apresentar o papel de Portugal e da língua portuguesa na emergência da ciência moderna e por salientar um conjunto de obras em português que foram pioneiras na cultura lusa, ao incorporarem conhecimentos de vários ramos da ciência pela primeira vez na língua de Orta e Camões. Depois apresentaremos, de forma sumária, os sistemas científico-tecnológicos nos países de língua oficial portuguesa e o lugar da língua nesses sistemas, enfrentando a clara preponderância do inglês como língua de ciência e tecnologia na contemporaneidade. Por último, partindo da história inicial das universidades no espaço lusófono, descreveremos o sistema de ensino superior nesses países, onde, apesar do uso do inglês nalgumas disciplinas, os conhecimentos são transmitidos principalmente em português. Concluiremos com algumas considerações sobre a evolução futura da língua no quadro dos sistemas de ciência, tecnologia e ensino superior da esfera da lusofonia.

2-      O nascimento da ciência moderna

No que respeita à relação da língua com a ciência, dá-se o caso curioso de um dos primeiros textos científicos em português – o Colóquio dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia [3], um tratado de botânica que apresenta espécies botânicas da Índia e discute as suas propriedades medicinais, escrito pelo médico Garcia de Orta e publicado em Goa em 1563, incluir uma introdução poética de Luís de Camões, que foi o primeiro poema publicado pelo grande vate, quando ainda faltavam nove anos para Os Lusíadas virem a lume. Eis um excerto dessa peça, intitulada «Ao Conde do Redondo, vizo-rei da Índia», com grafia ligeiramente actualizada conforme o estilo adoptado nas Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa [1] [4] (o facto de as alterações serem poucas e pequenas revela a resistência da língua portuguesa à usura do tempo):

Favorecei a antiga
Ciência que já Aquiles estimou;
Olhai que vos obriga,
Verdes que em vosso tempo se mostrou
O fruto daquela Orta onde florecem
Plantas novas, que os doutos não conhecem.

Olhai que em vossos anos
Produze uma Orta insigne varias ervas
Nos campos lusitanos,
As quais, aquelas doutas protervas
Medeia e Circe nunca conheceram,
Posto que as leis da Mágica excederam.

Camões, que se encontrava em Goa na altura da publicação da obra, elogia o seu amigo Orta, afirmando que nem os doutores nem as criaturas com poderes mágicos da Antiguidade Clássica conheciam os poderes das plantas que os portugueses estavam a descobrir naquela parte do mundo. O tratado, escrito em forma de diálogo, alcançou grande repercussão na Europa, graças ao médico e botânico flamengo Charles de l’Écluse, ou Carolus Clusius, que, tendo visto uma cópia em Lisboa, logo tratou de a traduzir para latim, a língua franca da ciência na época [2]. Os Colóquios foram também rapidamente traduzidos para castelhano, para francês, para italiano e, mais tarde, para inglês. O interesse pela obra continua, como mostra o surgimento de traduções recentes em castelhano e em francês [3].

Nesta obra saída no Ultramar, ciência e literatura estavam irmanadas pela língua portuguesa, que então ia ficando madura. Nos séculos XV e XVI deu-se, com os Descobrimentos Marítimos de que os portugueses foram os primeiros protagonistas, a globalização da língua portuguesa, que antes estava confinada ao extremo ocidental da Europa, onde tinha emergido nos séculos XII e XIII com raízes no latim vulgar e intimamente ligada ao galego [5-6]. Foi um extraordinário tempo de descoberta de novos mares e novas terras, de novas plantas e de novos animais e de novos povos e culturas. Foi também um tempo em que a língua incorporou novos termos para designar realidades até então desconhecidas dos ocidentais. E foi ainda um tempo em que a língua contactou línguas indígenas, enriquecendo-se todas elas nesse contacto. Hoje em dia falam-se várias línguas crioulas baseadas no português em África, na Ásia e na América Central: a mistura de línguas originou línguas novas.

A língua portuguesa «descobriu» e «foi descoberta». Não é suficientemente conhecido, merecendo sê-lo mais, que a palavra «descoberta», embora de origem latina (como a maioria dos vocábulos da língua portuguesa), surgiu nas línguas ocidentais pela primeira vez na língua de Camões e Orta. De facto, o historiador inglês David Wootton no seu livro A Invenção da Ciência [7] afirma que a palavra «descoberta» ou «descobrimento» (que significa literalmente destapar, revelar) começou a ser usada na língua lusa em 1484, o que contrasta com a aparição da palavra noutras geografias europeias: o termo inglês discovery só surgiu em 1554. Entre uma data e outra, ela foi usada em italiano por Américo Vespúcio, que aprendeu a navegar com os portugueses, que numa carta a Piero Soderini em 1504 emprega o termo descoperio ao falar do novo mundo, «ao qual os nossos antepassados não faziam uma única menção.» O nome «América» seria dado ao continente que Cristóvão Colombo descobriu em 1492. O termo «descobrimento» apareceu em 1551 no título de um livroa História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses [8], de Fernão Lopes de Castanheda, que foi  logo traduzido nas principais línguas europeias[4]. Em francês a palavra correspondente só apareceria em título de livro em 1553, em inglês em 1563 e em alemão em 1613.

Um marco importante da expansão marítima portuguesa foi a descoberta do Brasil em 1500 a meio da viagem à Índia da armada de Pedro Álvares Cabral, após um grande desvio da rota programada. O território tinha habitantes há muitos anos, tal como as ilhas da América Central onde Colombo tinha chegado.

A atribuição aos portugueses da paternidade da palavra «descoberta» é apenas um dos aspectos da inovação portuguesa no que respeita à mundovisão dos europeus. A Revolução Científica, que teve a sua génese na Europa nos séculos XVI e XVII, foi o período em que nasceu e se desenvolveu o método científico que conduziu à ciência e à civilização hodiernas. Mas, talvez pela preponderância da historiografia anglo-saxónica (a qual, pelo menos em parte, se deve ao domínio mundial da língua inglesa), não é muito conhecido globalmente que os Descobrimentos Portugueses foram o indispensável prelúdio da Revolução Científica. Com efeito, aquela revolução baseia-se na observação, na experimentação e na racionalidade, mas o primado da observação já era muito nítido nas viagens marítimas portuguesas (vejam-se, por exemplo, os versos de Camões n’Os Lusíadas [9] «vi claramente visto, o lume vivo» [5]), assim como a valorização da experiência (veja-se a frase do navegador Duarte Pacheco Pereira no Esmeraldo de Situ Orbis [10] «a experiência, que é a madre das cousas» [6]) e ainda o  raciocínio matemático (usado na determinação das alturas dos astros, uma técnica que exigia tabelas numéricas). O conhecimento dos mares, permitido por inovações como a caravela e o astrolábio náutico, contribuiu decisivamente para que o espírito cientifico se fosse instaurando primeiro na Europa e depois no mundo. A cartografia do mar aberto, realizada sucessivamente no Atlântico, no Índico e no Pacífico, inscreveu novas terras e mares no conhecimento da Humanidade. O planisfério de Cantino, uma cópia de um mapa que estava na Casa da Índia em Lisboa, mostra o mundo tal como era conhecido em 1502: partes da América, como Brasil, já apareciam representadas, embora a América nessa altura ainda não tivesse esse nome.

É significativo que o inglês Francis Bacon, primeiro filósofo da ciência moderna (contemporâneo de Galileu Galilei e de Johannes Kepler), tenha colocado no frontispício de um seu livro que visava a reforma do conhecimento aristotélico uma imagem de barcos a passar as portas de Hércules, que marcavam a entrada do Mediterrâneo  [7] [11]. As descobertas da ciência eram afinal descobertas de «mundos novos» tal como as descobertas marítimas, embora tivessem carácter imaterial. Os Descobrimentos, primeiro portugueses e depois espanhóis e de outros povos europeus, foram uma metáfora apropriada para o enorme alargamento dos conhecimentos que foi sendo alcançado pelo uso do método científico. Não à qual chamou «Nova Atlântida», uma civilização que pode ser considerada uma pré-configuração da civilização contemporânea, largamente dominada pela ciência e pelo seu «braço» para resolver muitos problemas da vida humana que é a tecnologia. O seu livro Nova Atlântida saiu em Londres em 1626 [12]. Trata-se de uma utopia, na esteira da Utopia [13], de Thomas More, saída em Lovaina em 1516,  na qual entra o marinheiro português Rafael Hitlodeu.

Talvez o maior cientista português de todos os tempos tenha sido Pedro Nunes, um matemático do século XVI( contemporâneo de Nicolau Copérnico, cuja tese heliocêntrica, publicada em 1543, ele conhecia, embora não a tenha subscrito, dada a cosmovisão reinante em toda a Cristandade) [14]. Apesar de nunca ter navegado, Pedro Nunes, um cristão-novo cujas origens judaicas permaneceram ignotas em vida, foi «cosmógrafo-mor» do rei D. João III e, nessa qualidade, examinador de pilotos. Mas foi, acima de tudo, professor de Matemática na Universidade de Coimbra, que tinha sido fundada em Lisboa em 1290, mas que em 1537 foi transferida para Coimbra (Nunes mudou-se de Lisboa para Coimbra nessa altura).

Nunes escreveu principalmente em latim, a fim de ser lido internacionalmente, mas também o fez em português e em castelhano. A sua obra era conhecida do astrónomo dinamarquês Tycho Brahe, que foi mestre do astrónomo alemão Johannes Kepler. Algumas gravuras de um livro de Brahe[8] representam quadrantes com o nónio de Nunes, um instrumento descrito pela primeira vez pelo sábio português em De Crepusculis (1542) [15] e que serve para medir alturas de astros com maior precisão. Um livro famoso de Kepler, Tabelas Rodolfinas (1623) [16], ostenta o nónio de Nunes logo no frontispício.

O livro de Pedro Nunes Tratado da Sphera (1537) [17], saído em Lisboa, que é uma tradução comentada do Tratado da Esfera do monge do século XIII Johannes de Sacro Bosco, contém duas obras originais sobre navegação, em português. Aí se distinguem pela primeira vez linhas de rumo de círculos máximos, e se estudam as consequências, para a cartografia, da representação dessas linhas por linhas rectas. Tal descrição poderá ter influenciado o globo de 1541 da autoria do cartógrafo flamengo Geraldus Mercator, onde aparecem traçadas linhas de rumo, mais tarde designadas por loxodrómicas. Este tema seria depois tratado com maior profundidade, no livro Opera, [18] escrito por Nunes em latim (Basileia, 1566) e mais tarde republicado, com correcções. Um outro livro de Nunes, o Libro de Algebra (Antuérpia, 1567) [19], foi publicado em castelhano: o autor afirma no prefácio que o escreveu primeiro em português, tendo-o depois traduzido (ele sabia castelhano pois tinha estudado na Universidade de Salamanca). Nunes está hoje imortalizado por ter o seu nome associado a uma cratera na Lua, tal como os navegadores portugueses Vasco da Gama, o descobridor da Índia por mar, e Fernão de Magalhães, o mentor da primeira viagem de circum-navegação.

Nunes foi várias vezes citado por aquele que foi o maior astrónomo entre Copérnico e Galileu, Cristophorus Clavius, jesuíta alemão que, após ter sido estudante de Coimbra durante cinco anos, dirigiu o Colégio Romano, participou na comissão papal para a reforma do calendário de 1582 e confirmou as primeiras observações astronómicas de Galileu, apesar de não ter perfilhado o heliocentrismo. Em Portugal, o novo calendário gregoriano foi descrito em português pelo professor que sucedeu a Nunes em Coimbra, André de Avelar: Chronographia ou reportorio dos tempos: o mais copioso que te agora sayo a luz: conforme a nova reformação do Santo Padre Gregorio XIII [20]. Apesar de Avelar ter procurado evitar conflitos com a Igreja, não conseguiu evitar o seu julgamento pela Inquisição, instituição então omnipresente no país, por suspeitas de judaísmo, e a inclusão do seu livro no Index Prohibitorum.

Outro grande cientista do tempo de Pedro Nunes foi D. João de Castro, vice-rei da India. Foi um fidalgo que beneficiou de lições de Nunes na Corte em Lisboa e que viajou duas vezes à Índia efectuando observações geofísicas (meteorológicas, oceanográficas, magnéticas, geográficas, etc.), pelo que pode ser considerado o primeiro geofísico global. Escreveu várias obras em português [21]: alguns dos seus escritos são uma apologia do método científico quando este ainda estava longe de estar estabelecido.

3- Obras pioneiras da cultura portuguesa

Os escritos em português de Garcia de Orta (um só um livro) e de Pedro Nunes (uma parte pequena da sua produção) foram pioneiros da ciência não só portuguesa como mundial. As Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa [3], em 30 volumes, que já foram referidas, incluíram o Colóquio dos Simples, como o primeiro tratado de botânica, e dois textos de Pedro Nunes, como escritos pioneiros de marinharia. Mas há várias outras obras escritas de raiz em português que foram seleccionadas para essa colecção e apresentadas em versões legíveis para os leitores de hoje, com uma introdução que enquadra os assuntos e algumas notas que facilitam a sua compreensão.

Eis a lista das obras de ciência incluídas nas cerca de 90 Obras Pioneiras [9]:

  • 1 Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Guiné, manuscrito de 1453 publicado em 1841, nos primeiros livros de viagens e descobrimentos.
  • 2     Álvaro Velho, Diário, manuscrito de 1497 publicado em 1938, nos primeiros livros de viagens e descobrimentos.
  • 3    Pero Vaz de Caminha, Carta de Achamento do Brasil, manuscrito de 1506, publicado em 1817, nos primeiros livros de viagens e descobrimentos.
  • 4   João de Lisboa (atribuído), Livro de Marinharia, manuscrito de 1514 publicado em 1982, nos primeiros livros de marinharia.
  • 5    Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, manuscrito de 1506 publicado em 1892, o primeiro livro de geografia.
  • 6  Pedro Nunes, Tratado da Esfera, Lisboa: Germão Galharde, 1537. Inclui os textos Tratado sobre certas dúvidas de navegação e Tratado em defensao da carta de marear com o regimento da altura, nos primeiros livros de marinharia.
  • 7   Fernando de Oliveira, Arte da Guerra do Mar, Coimbra: João Aluerez, 1555, primeira obra de guerra marítima.
  • 8-  -Garcia de Orta, Colóquio dos Simples…, 2 vols., Goa: João de Emden, 1563, primeiro livro de botânica.
  • 9  Duarte Leão, Descrição do Reino de Portugal, Lisboa: Jorge Rodriguez, 1610, primeira geografia de Portugal.
  • 10  D. Caetano de Santo António, Farmacopeia Lusitana, Coimbra: Joam Antunes, 1704, primeiro livro de farmácia (farmacopeia).
  • 11 Manuel Azevedo Fortes, Engenheiro Português, Lisboa: Manoel Fernandes da Costa, 1728-1729, primeiro livro de engenharia.
  • 12  Fr. Diogo de Sant’Iago, Postila Religiosa e Arte de Enfermeiros, Lisboa: Miguel Manescal da Costa, 1741, primeiro escrito de enfermagem.
  • 13  Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar, Valensa (Nápoles): Antonio Balle, 1746, primeiro tratado de pedagogia (incluindo a pedagogia das ciências).
  • 14  Manuel Constâncio, Postila de Anatomia, manuscrito, 1775, primeiro escrito de anatomia.
  • 15 Teodoro de Almeida, Recreação Filosófica, Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1.º vol., 1751 (de um total de 10 vols.), 5.ª edição em 1786, primeiro tratado de física.
  • 16  Vicente Coelho de Seabra Telles, Elementos de Química, 2 vols., Coimbra: Real Oficina da Universidade, 1788 - 1790, primeiro tratado de química.
  • 17  José Bonifácio de Andrada e Silva, Memória sobre a necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal, Lisboa: Tipografia da Academia Real das Ciências, 1815, primeiro tratado de ecologia.
  • 18  Francisco A. Pereira da Costa, Da existência do Homem em Épocas Remotas no Vale do Tejo, Lisboa: Imprensa Nacional, 1865, nos primeiros escritos de arqueologia
  • 19  José Leite de Vasconcelos, Portugal Pré-Histórico, Lisboa: David Corazzi, 1885, nos primeiros escritos de arqueologia.

Note-se que os cinco primeiros são manuscritos (só há mais um, a Postilla de Anatomia, nesta lista), sendo as obras de Pedro Nunes as primeiras a surgirem impressas. Das 13 obras impressas, oito foram publicadas em Lisboa, três em Coimbra e duas fora de Portugal (Goa e Nápoles). Duas delas (de Seabra Telles e Andrada e Silva) são de autores nascidos no Brasil.

Não foi possível incluir nas Obras Pioneiras o primeiro tratado de matemática em português: o Tratado da Pratica D’Arysmetica [22], da autoria de Gaspar Nicolas (Lisboa: Germão Galharde, 1519)[10], considerada a primeira obra da «arte de contar», isto é, de aritmética. Essa obra, cujo propósito original era a instrução de D. Rodrigo, Conde de Tentúgal, teve pelo menos onze edições ao longo de três séculos, entre 1519 e 1716.

De seguida, apresentamos uma súmula de cada um desses autores e títulos:

1-A Crónica de Guiné, do cronista Gomes Eanes de Zurara (1410 - 1474), é o primeiro texto sobre os Descobrimentos Portugueses. Foi escrita no tempo de Infante D. Henrique, o impulsionador dessa epopeia, cujo papel é valorizado, relatando o que se passou entre 1422 e 1448, portanto em vida do autor. Zurara salienta o carácter inovador dos Descobrimentos, o que ressalta do uso repetido da palavra «nunca» e das referências a novidades, algumas delas exótica para os europeus.

2- O Diário, provavelmente de Álvaro Velho, um dos marinheiros de Vasco da Gama, é um relato da viagem da descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Lendo esse escrito, terminado quando a armada no regresso já estava na costa da Guiné, assistimos ao contacto entre europeus e indianos.

3- A Carta de Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha (1450 - 1500), escrivão de Pedro Álvares Cabral, regista o primeiro desembarque oficial dos navegadores portugueses em terras da América do Sul, oferecendo-nos um retrato do encontro entre eles e os indígenas. O autor ficou admirado com a inocência dos índios, apercebendo-se que os europeus tinham chegado a um mundo onde as regras do mundo cristão não tinham validade.

4- O Livro de Marinharia de João de Lisboa deve o seu nome ao facto de o piloto João de Lisboa (c.1470-1525) aparecer no texto. Mas deduz-se que certas partes são posteriores à morte desse piloto. Nesse tempo, o ensino da arte de navegar seguia o modelo medieval dos ofícios: o mestre transmitia os seus conhecimentos práticos ao aprendiz. Os registos de pilotos usados na navegação, que iam sendo copiados e acrescentados, ficaram conhecidos por «Livros de Marinharia». O conjunto de informações desse escrito fornece uma visão muito útil sobre as circunstâncias das viagens e sobre o que os navegadores descobriam.

5- O Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira (1460-1533) é a primeira descrição pormenorizada da costa ocidental africana, incluindo o relato dos contactos com as populações africanas. Descreve as zonas de comércio ao longo da costa, no século XV, e o modo como os navegadores portugueses viam o mundo que acabavam de descobrir. É neste texto que Pacheco Pereira afirma que «a experiência é a madre de todas cousas». Apesar do primado da experiência, permanecem no autor algumas crenças fantásticas.

6- Os Tratado sobre certas dúvidas de navegação e Tratado em defensa da carta de marear com o regimento da altura, do matemático Pedro Nunes (1502-1678), são dois breves textos, já atrás comentados, apensos à tradução para português daquele sábio do Tratado da Esfera de Sacrobosco.

7- A Arte da Guerra do Mar, de Fernando de Oliveira (1507-1581), um autor absolutamente pioneiro em vários aspectos (publicou as primeiras História de Portugal e a Gramática da Linguagem Portuguesa), que foi um professor e piloto muito viajado. A Arte da Guerra do Mar, baseado na sua experiência marítima, é pioneiro no género não só em Portugal como na Europa.

8- O Colóquio dos Simples é obra de Garcia da Orta (1501-1568), médico português, formado em Espanha, que exerceu medicina em Castelo de Vide, Lisboa (onde foi médico do rei e professor na Universidade, e, finalmente, no Hospital de Goa). A farmácia seiscentista assentava nas plantas medicinais. Orta conhecia não só o que os autores clássicos (em particular, o grego Dioscórides) tinham escrito sobre plantas, como também os saberes orientais, com os quais se familiarizou in loco. Os Colóquios, cujo intróito de Camões já foi referido, resultam de um cruzamento de culturas.

9- A Descrição do Reino de Portugal, do cronista régio Duarte Nunes Leão (c. 1530 - 1608), é a primeira geografia de Portugal. Publicada pelo seu sobrinho Gil Nunes do Leão. corresponde na sua forma geral, ao que o tio deixou, quando a acabou de escrever, em 1599, pesem embora as referências a datas posteriores, obviamente acrescentadas. Existe outra edição desta Descrição do Reino de Portugal, para além da original: a de 1785, impressa na oficina de Simão Thaddeo Ferreira, em Lisboa. O texto tem um rico conteúdo não só da geografia como da história  das ideias.

10- A Farmacopeia Lusitana, de D. Caetano de Santo António (c. 1660 - 1739), boticário no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que se mudou  para o Mosteiro de S. Vicente de Fora, Lisboa, pertencente à mesma Ordem. Esta primeira farmacopeia em português teve outras edições: em 1711, 1725 e 1754. A obra, que descreve os métodos para preparar os medicamentos, inventaria um conjunto de drogas e inclui um formulário, tendo inegável utilidade para boticários e médicos. Baseada no sistema galénico, D. Caetano reuniu informações de dezenas de autores.

11- O Engenheiro Português, de Manuel Azevedo Fortes (1660-1749), Cavaleiro da Ordem de Cristo e Engenheiro-mor do reino. Está dividida em dois tratados: o primeiro, contendo gravuras desdobráveis, trata a matemática, abrangendo a geometria prática no papel no terreno, em particular o modo do usar os instrumentos e desenhar plantas militares; o segundo, um tratado de engenharia, compreende a fortificação regular e irregular, o ataque e defensa das praças e, em apêndice, o uso das armas de guerra. É uma obra de referência da engenharia militar portuguesa, que serviu durante muito tempo na instrução em escolas militares.

12- A Postila Religiosa e Arte de Enfermeiros, do frade Diogo de Sant’Iago, mestre de noviços no Convento-Hospital de S. João de Deus, na Praça de Elvas, foi um livro essencial ao desempenho da Ordem Hospitaleira nas suas actividades nos Reais Hospitais Militares aquém e além-mar. Entre 1645 e 1834, essa Ordem foi a responsável pela gestão destes edifícios militares, cujo conjunto constituiu a primeira rede de saúde militar do reino. Os conteúdos estão divididos em quatro áreas: apoio religioso, a técnica, a epistemologia e administração dos hospitais.

13- O Verdadeiro Método de Estudar, de Luís António Verney (1713-1792), um autor iluminista que teve formação nos Oratorianos e viveu exilado em Itália (um «estrangeirado», portanto). Pela sua natureza renovadora e pelo impacto que veio a ter nas elites intelectuais no século XVIII, a obra foi um marco da história da cultura portuguesa. Publicada no original anonimamente, promoveu a divulgação das novas formas de pensamento e acção do Século das Luzes. No conjunto de 16 cartas encontram-se várias matérias (gramática; latinidade; línguas; retórica e eloquência; poética; filosofia e lógica; metafísica; física; ética; medicina; jurisprudência; teologia; direito canónico), abordadas de modo a dar conta da evolução histórica e dos métodos de ensino de cada uma. O tom é de crítica acesa do pensamento e método escolásticos, pelo que não admira que tenha despertado viva polémica nas décadas de 1740 e 1750 (ficou conhecida como discussão entre «antigos» e «modernos»).

14- A Postila de Anatomia, do médico Manuel Constâncio (1726-1817), professor de anatomia no Hospital Real de Todos os Santos em Lisboa, uma escola de conhecimentos práticos que incluíam a dissecação de cadáveres humanos. Trata-se de uma sebenta que os seus discípulos escreveram a partir do que ouviam nas aulas. Desta obra, nunca antes impressa, existem dois manuscritos preparados por estudantes: um de 1775, de Emanuel José Guedes, e outro de 1780, de António do Espírito Santo.

15- Recreação Filosófica ou Diálogo sobre a Filosofia Natural, do padre oratoriano Teodoro de Almeida (1722-1804), uma das figuras maiores do Iluminismo português, pelo seu contributo para a renovação da ciência e da cultura científica. A sua visão reformista, bem patente nesta obra de dez tomos, com o primeiro publicado em 1751, animou o ensino moderno das ciências na Casa das Necessidades, em Lisboa. O labor pedagógico e científico de Almeida e seus confrades, entre 1745 e 1760, antecipou a renovação do ensino verificada em Coimbra com a Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra em 1772. Escrita em forma de diálogo, a Recreação pode ser vista não só como um tratado de ciência, mas também como um livro de divulgação científica. Perseguido pelo Marquês de Pombal, Almeida foi obrigado ao exílio em Espanha e França entre 1768 e 1778. Regressado, foi sócio fundador da Real Academia das Ciências de Lisboa, em 1779, que tentou imitar instituições análogas já existentes em capitais europeias, tendo proferido a oração de abertura.

16- Os Elementos de Química, do químico Vicente Coelho de Seabra Telles (1764-1804), natural de Congonhas do Campo (Minas Gerais, Brasil), que frequentou a Universidade de Coimbra, obtendo o grau de bacharel, em 1787. Foi logo contratado pela Faculdade de Filosofia, como Demonstrador de Química. Ainda era estudante quando começou a escrever o primeiro volume desse compêndio de química, dedicado à «Sociedade Literária do Rio de Janeiro, uma Corporação de Patriotas Iluminados», tendo terminado a obra em 1790, com o segundo volume. O tratado aborda as matérias ensinadas nesta disciplina na Europa, no quadro da química que estava a ser criada por Antoine Lavoisier.

17- Memória sobre a Necessidade e Utilidade do Plantio de Novos Bosques em Portugal, do luso-brasileiro (nascido em Santos, Brasil), José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), naturalista e estadista, poeta e soldado, cientista e humanista, diplomata e pensador, que ficou conhecido como «Patriarca da Independência» do Brasil. Encarnou o perfil de um homem das Luzes, no seu trabalho científico-tecnológico e politico. Nesta obra, alerta para a necessidade de uma política de fomento de florestas na metrópole lusitana, de forma a evitar a desertificação. Ao fazê-lo, através da sua compreensão das interacções entre as leis físicas e o agir do homem sobre a «economia geral da Natureza», antecipou o conceito de «ecologia», uma designação do naturalista alemão Ernest Haeckel no século XIX.

18- Da Existência do Homem em épocas Remotas no Vale do Tejo, do geólogo Francisco A. Pereira da Costa (1809-1889). Foi Carlos Ribeiro, diretor da Comissão Geológica de Portugal, quem descobriu os primeiros concheiros mesolíticos nos vales das ribeiras de Magos e de Muge, afluentes do Tejo. Em 1864 procedeu a escavações no concheiro do Cabeço da Arruda, as primeiras realizadas em Portugal de uma estação pré-histórica. Os resultados foram estudados e publicados por Pereira da Costa, logo no ano seguinte, na primeira monografia sobre uma estação pré-histórica nacional. O seu impacto nacional e internacional, pois foi escrita em português e francês, justificou o prosseguimento das escavações, as quais seriam visitadas por participantes do Congresso Internacional de Antropologia e de Arqueologia Pré-Históricas, reunido em Lisboa em 1880.

19- Portugal Pré-Histórico, do arqueólogo e etnólogo José Leite de Vasconcelos (1858 - 1941), que resume, com o intuito de divulgação, o que então se sabia sobre a ocupação pré-histórica do território português. Redigido quando o autor era finalista de Medicina no Porto, já nela surgem várias questões, às quais tentou responder no decurso da sua vida, sobre as origens do povo português. O pensamento científico do autor estava marcado pelo positivismo da época.

4 - Ciência e Tecnologia no espaço de língua portuguesa

A I&D em Portugal

A ciência e a tecnologia conheceram em Portugal, com a acção decidida do físico José Mariano Gago (o primeiro titular, em 1995, da Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje denominado Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), um notável crescimento nos últimos 30 anos [23]. O investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) era, em 1995, de 0,5% (0,4% público e 0,1% privado), em 2009 atingiu 1,6% (0,8% público e 0,8% privado) e, após uma queda acentuada com a intervenção da troika em 2011, chegou-se ao valor mais recente, de 2020, que é 1,6% (0,7% no público e 0,9%  privado), que está muito distante da média europeia, que é 2,2% (0,7% no público e 1,5% no privado)[11] [24].

As actividades de I&D em Portugal são sobretudo conduzidas no quadro de uma rede de unidades de I&D, constituída por 40 Laboratórios Associados e por dezenas de outros centros de investigação, activos nos vários ramos da ciência e das tecnologias, apoiadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, a agência financiadora nacional, na tutela do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A maior parte da I&D em Portugal está ligada ao ensino superior público, nomeadamente nas universidades. Mariano Gago fomentou no final do século XCX  a criação de centros de I&D, os maiores dos quais foram chamados Laboratórios Associados (já havia Laboratórios do Estado, como o Laboratório Nacional de Engenharia Civil – LNEC e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – INSA). Assumindo a figura jurídica de associações privadas sem fins lucrativos, alguns dos mais produtivos situam-se na área das biociências: o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), da Universidade do Porto; o Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), em Oeiras; o Instituto de Medicina Molecular (IMM), da Universidade de Lisboa; o Centro de Inovação em Medicina e Biotecnologia da Universidade de Coimbra. Nas ciências sociais destacam-se o Instituto de Ciências Sociais – ICS, em Lisboa e  o Centro de Estudos Sociais – CES, em Coimbra. Entre os centros de investigação apoiados pelo Estado, está também o Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologia, uma colaboração entre Portugal e Espanha. Entre as maiores instituições privadas estão o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e a Fundação Champalimaud, as duas na área das biociências e medicina. Essas fundações atribuem anualmente prémios internacionais de valor elevado em temas de ciência.

Portugal celebrou acordos com várias organizações científicas europeias. Estas incluem a Agência Espacial Europeia (ESA), o Centro Europeu de Investigação Nuclear  (CERN), o Reactor Experimental Termonuclear Internacional (ITER), e o Observatório Europeu do Sul (ESO). O país entrou também em acordos de cooperação com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Boston, Estados Unidos, e outras instituições norte-americanas, a fim de desenvolver a eficácia do ensino superior e da investigação.

Um output do investimento em I&D foi a formação avançada. As universidades conseguiram um forte e rápido crescimento do número de doutorados. Em 1995, formaram 567 novos doutores por ano; em 2009, 1625; e, em 2015, 2969. Hoje são bem mais do que 3000 por ano, continuando a aumentar o número de doutores e, portanto, a percentagem de doutores na população activa em Portugal [25]. A maioria deles são mulheres.

Um outro output do investimento em I&D são as publicações científicas em revistas  internacionais. O incremento do número de artigos publicados em cada ano tem sido impressionante: em 1995, houve 2402 artigos; em 2009, 13 897; e, em 2020, 28 298 [26]. A área com subida mais nítida  tem sido a das ciências da saúde. Estes valores, depois de divididos pelo número de habitantes, podem e devem ser comparados com os internacionais. Portugal está num lugar razoável no panorama europeu, embora longe das posições cimeiras, designadamente se olharmos para a qualidade das publicações, medida pelo número de citações [27]. A empresa Clarivate fornece um ranking anual dos cientistas mais citados: dos mais de  6000 nomes de 2020 do top 1% nas respectivas áreas só 10 são portugueses, menos do que seria de esperar atendendo à dimensão do país (sobressaem nesses 10 as áreas das ciências agrícolas, da química e da engenharia) [28]. Dos cientistas portugueses no estrangeiro, o mais citado e conhecido é o neurologista António Damásio, na Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles, nos Estados Unidos, autor de livros de grande circulação como O Erro de Descartes [29].

Entre os indicadores de output da I&D está o registo de patentes. Nos pedidos de patentes europeias, Portugal está bastante longe dos países mais inovadores: em 2013 as empresas nacionais pediram 1,1 patentes por cem mil habitantes, ao passo que a Irlanda pediu 7,1 e os Países Baixos 15,3 [30].

Apesar de haver algumas empresas que têm a I&D no seu cerne, como na área da saúde a Bial ou a Hovione ou na área da informática a Critical Software, e do esforço de algumas start-ups que empregam doutores, a inovação empresarial é insuficiente em Portugal. O sistema de I&D cresceu muito nas últimos décadas, produzindo recursos humanos qualificados (que têm tido dificuldade em encontrar emprego estável) e conhecimento expresso em artigos científicos, mas a transferência de ciência para a economia continua a ser bastante débil. A I&D no Brasil 

Dando um salto para o outro lado do Atlântico, as actividades de I&D no Brasil também conheceu nas últimas décadas um grande crescimento, sendo produzidas em grande parte nas universidades públicas e numa grande rede de institutos de pesquisa, alguns federais, outros estaduais e outros ainda locais. De facto, o  investimento em I&D é muito maior no Brasil do que em Portugal em valores absolutos. O  Brasil é mesmo o 11.º país do mundo com maior investimento em I&D em valores absolutos, com 38 mil milhões de dólares (números de 2017), que  corresponde a 1,3% do seu PIB [32]. No entanto, o correspondente valor per capita é modesto: 181 dólares (números de 2017). Em comparação, Portugal está em 38.º lugar com 3,6 milhões de dólares, correspondente  também a 1,3% do PIB (números de 2014), o  que dá 348 dólares per capita, quase o dobro do valor do Brasil. Não aparece nenhum outro país de língua oficial portuguesa na lista dos 90 maiores investidores em I&D.

Um dos grandes centros do Brasil é o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que é responsável por vários laboratórios no estado de São Paulo (este estado concentra 70% do investimento em I&D) [33]. No sector universitário destaca-se a Universidade de São Paulo (USP), forte em várias áreas, seguida pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) [34]. De entre as instituições privadas, destaca-se a Fundação Fiocruz, activa na área da saúde com indicadores de excelência [35].

No Brasil existem 138 500 investigadores (números de 2010, o que corresponde a 1,34 por mil activos), um número bastante superior ao de todo o conjunto do mundo lusófono:  em Portugal, são 38 155 (em 2014, correspondente a 7,3 por mil activos, bastante maior do que o Brasil), Angola 1150 (em 2011, 0,14 por mil activos) e Moçambique 912 (em 2010, 0,08 por mil activos) [1]. Tal como em Portugal, o número de doutorados no Brasil tem crescido bastante ao longo das últimas décadas: em 2020 formaram-se cerca de 24 000 novos doutorados em todas as áreas, a maior parte dos quais   mulheres, tal como em Portugal [36].

De acordo com a base de dados Scopus, da Elsevier, em 2016 existiam 599 710 artigos de autores com endereço no Brasil, muitos mais do que os 163 964  artigos com endereço em Portugal [1]. Dos países se expressão portuguesa seguem-se, a grande distância, Moçambique (2238) e Angola (658). Essa base de dados alberga 331 revistas indexadas do Brasil e 35 de Portugal, o que são números modestos comparados com o total. Ainda segundo essa base de dados, o Brasil possuía, em 2020, 89 241 artigos, o que corresponde a 51% da América Latina e a 2,8% da produção mundial. Devido a uma subida muito consistente nos últimos anos, o Brasil ocupa hoje o 14.º lugar do total da produção científica mundial, medida pelo Scopus [13], num ranking encabeçado pela China, pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido [36], com 1 145 853 artigos, o que está grosso modo de acordo com o ranking de investimento em I&D. Em contraste, Portugal está na 30.ª posição, com 373 374 artigos. A mesma base de dados,  permite comparar o número de citações dos artigos produzidos: o Brasil está abaixo (12,8 citações por documento) de Portugal (17,9 citações por documento) em geral  e em praticamente todas as áreas [37].

O Brasil dispõe de tecnologias avançadas com grande impacto no público: possui o maior programa de exploração espacial da América Latina, com recursos avultados para veículos de lançamento (foguetes suborbitais) e satélites [38]. A Agência Espacial Brasileira (AEB) assinou um acordo com a sua congénere norte-americana (a NASA) em 1997, com o objectivo de fornecer componentes para a Estação Espacial Internacional - ISS, o que permitiu ao Brasil treinar seu primeiro astronauta, o coronel Marcos Pontes, que voou em 2006 na Soyuz. Portugal possui desde há pouco tempo uma agência espacial (a Portugal Space) que colabora com a ESA, mas não existe ainda nenhum astronauta português (há planos para desenvolver nos Açores uma base de lançamentos de mini-satélites).

O Brasil tem um programa nuclear para uso civil, ao contrário de Portugal, que desmantelou em 2019 o reactor experimental de Sacavém. O urânio enriquecido na Fábrica de Combustível Nuclear, de Resende, no estado do Rio de Janeiro, é usado na central de Angra dos Reis, no mesmo estado. No domínio da fusão nuclear, o Brasil tem três tokamaks, ligados a universidades. Em contraste, Portugal só tem um tokamak, o ISTTOM, no Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa. O Brasil é um dos três países da América Latina que dispõe de um sincrotrão, um acelerador de electrões para pesquisa em física, química, ciências dos materiais e biologia, o que mais uma vez contrasta com Portugal, que não tem nenhum.

No ranking anual dos cientistas mais citados da Clarivate (lista de 2021), o Brasil tem 10 cientistas  nos mais de 6000 nomes do top 1% dos mais citados nas respectivas áreas, um número igual ao de Portugal (destacam-se nessa lista de nomes brasileiros as ciências agrícolas e as ciências sociais) [28]. É menos do que seria de esperar dado o tamanho do país.

No que respeita a ranking de patentes, a posição do Brasil é modesta no panorama mundial (7271 pedidos de patentes em 2020), tal como a portuguesa (1874 pedidos), se levarmos em conta o tamanho das respectivas populações ou a riqueza do país [39]. Os dois países têm ainda muito a progredir nesse domínio.

O Brasil tem tido um grande número de personalidades científicas, embora não tenha havido até hoje nenhum prémio Nobel (nem nas ciências nem noutras áreas). A ciência brasileira é bem representada por nomes como César Lattes (físico brasileiro codescobridor do mesão pi, em 1947), Mário Schenberg (o mais ilustre físico teórico do Brasil), José Leite Lopes (único físico brasileiro detentor do Prémio Kalinga de Divulgação de Ciência da UNESCO), e Artur Ávila (o primeiro latino-americano laureado com a Medalha Fields) [38].

O Brasil também tem tido um grande número de inventores (note-se que a palavra «tecnologia» surgiu na língua portuguesa com José Bonifácio de Andrada e Silva). Destacam-se dois pioneiros mundiais da aviação: Bartolomeu de Gusmão e Santos Dumont) Em 1709, o padre Bartolomeu de Gusmão criou em Lisboa a Passarola, a primeira aeronave a efectuar um voo, embora dentro de portas, na corte do rei D. João V [40]. Outro padre brasileiro, Roberto Landell de Moura, foi pioneiro mundial na transmissão da voz, quando, em 1893 (antes do físico italiano Guglielmo Marconi), transmitiu sua própria voz ao longo de 8 km, em São Paulo, usando equipamentos de rádio próprios e patenteados no Brasil. O aviador Santos Dumont construiu e voou nos primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina, e, em 1906, realizou os primeiros voos de um aparelho mais pesado que o ar. Na área médica, alguns cientistas brasileiros foram responsáveis por notáveis descobertas. Carlos Chagas foi o descobridor da doença de Chagas. Oswaldo Cruz iniciou importantes estudos sobre doenças tropicais, tendo fundado o Instituto Fiocruz. O médico Henrique da Rocha Lima descobriu a bactéria causadora do tifo e o seu colega Maurício Rocha e Silva descobriu a bradicinina, uma hormona usada contra a hipertensão.

O português e a I&D

Apresentados sumariamente os sistemas de I&D no mundo lusófono (situados essencialmente em Portugal e Brasil), interessa indicar o papel da língua na actividade aí desenvolvida. Sendo claro que o português é a principal língua de trabalho, só sendo substituída pelo inglês nos microambientes mais internacionalizados, não é menos certo que a língua dominante de comunicação no mundo da ciência é o inglês. O português continua, porém, a desempenhar um papel insubstituível na esfera das ciências sociais e humanas, naturalmente mais virada para fenómenos e problemas nacionais e regionais. Em Portugal e no Brasil, essa área é, de resto, maioritária nos doutoramentos concedidos hoje em dia. Apesar do domínio do inglês nas publicações científicas, saem numerosos livros e artigos de ciência em português, tendo a língua portuguesa capacidade de incorporar nova nomenclatura científica. Na divulgação pedagógica e científica predomina o português.

O moderno acesso aberto aos artigos científicos tem sido uma das maneiras de assegurar a democratização da ciência. Nesse sector tem sido dada atenção à salvaguarda e à difusão da língua portuguesa, destacando-se algumas iniciativas brasileiras.  O SciELO – Brasil Scientific Electronic Library Online é um repositório científico brasileiro que inclui revistas científicas em acesso aberto do mundo latino-americano: integra 280 revistas científicas do Brasil, mas apenas 6 de Portugal de um total de 1015 (números de 2014). O numero de artigos científicos no SciELO era 235 519 do Brasil e 9560 de Portugal [1]. O repositório da produção científica brasileira  é o OAsisB - Portal Brasileiro de Acesso Aberto à Informação Científica, que regista 158.416 itens (2016), enquanto  em Portugal é o RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal, que contém 315 136 documentos (em 2016) e em Cabo Verde o  Portal do Conhecimento de Cabo Verde, com 2866 documentos.

5- O ensino superior no espaço de língua portuguesa

O ensino superior em Portugal

A universidade, ligada na sua génese à Igreja, é uma das maiores criações da Idade Média. A mais antiga universidade do mundo ocidental foi a de Bolonha, a Alma Mater Studiorum, fundada em 1088. No século XIII, ocorreu uma explosão das universidades, com o surgimento de uma dúzia, entre as quais as de Oxford, Cambridge, Salamanca e Lisboa, fundada em 1 de Março de 1290 e de que a Universidade de Coimbra é hoje herdeira [41]. Foi nessa data que o rei D. Dinis assinou o documento Scientiae thesaurus mirabilis que instituiu a universidade portuguesa, reconhecida pouco depois pelo papa Nicolau IV, que hoje é Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Os primeiros estatutos do chamado Studium Generali foram redigidos em 1309. A Universidade medieval portuguesa foi relativamente pequena: foi mudada para Coimbra logo em 1308. Em 1338 foi transferida de novo para Lisboa, onde permaneceu 16 anos, regressando a seguir a Coimbra. Após nova mudança para Lisboa, em 1377, fixou-se definitivamente a Coimbra em 1537, por ordem de D. João III, fugindo ao bulício da capital. Desempenhou um papel do maior relevo no ensino e na ciência portuguesa, ao longo dos séculos. A única faculdade científica era de início a de Medicina, mas a Reforma Pombalina em 1772 instituiu as Faculdades de Matemática e de Filosofia Natural.

 As Universidades de Lisboa e Porto foram fundadas em 1911 com base em escolas politécnicas e de medicina então existentes. Hoje em dia há, em Portugal, 15 universidades públicas, a seguir indicadas com o seu sítio e ano de fundação (a ordenação segue a ordem cronológica da sua criação): Universidades de Coimbra (1290), de Lisboa e do Porto (1911), de Évora (1973), do Minho, em Braga e Guimarães (1973), Nova de Lisboa (1973), de Aveiro (1973), dos Açores, em Ponta Delgada (1976), do Algarve, em Faro (1976), da Beira Interior, na Covilhã (1986), da Madeira, no Funchal (1988) e Aberta, em Lisboa (1988) [42]. A maior universidade é a de Lisboa, seguida da do Porto e da de Coimbra. A Universidade do Porto é a que tem mais estudantes estrangeiros. A maior parte dos estudantes internacionais em todo o país provém do Brasil.  Há ainda dez universidades privadas. Desde o final dos anos 70 começou a formar-se uma rede de institutos politécnicos, escolas superiores com uma formação mais prática: em 1979, surgiram os de Beja, Coimbra, Santarém, Setúbal e Viseu; em 1980, os de Guarda, Viana do Castelo e Portalegre; em 1982, o de Castelo Branco; em 1983, o de Bragança; em 1985, os de Lisboa e Porto; em 1987, o de Leiria; em 1994, o de Cávado e Ave, em Barcelos; e, em 1996, o de Tomar.

Em 2021, o número de alunos matriculados no ensino superior era de 411.995, um valor que se apresenta mais ou menos estabilizado desde 2002 após um acentuado crescimento [43]. A grande maioria desses alunos (355 139) está no ensino público. Juntando público e privado, existem 261.299 alunos em universidades e 150 696 nos politécnicos.

As universidades portuguesas estão longe do topo do ranking de Xangai das universidades, o melhor no seu género: na lista de 2021, só há três universidades portuguesas nas 500 melhores do mundo, situando-se em lugares modestos: a Universidade de Lisboa está nos lugares 201-300,  ao passo que as Universidades do Porto e do Minho estão nos lugares 301-400 e 401-500, respectivamente [44]. No top 1000 só há mais três universidades nacionais: Coimbra, Nova de Lisboa e Aveiro.

A Universidade de Coimbra foi até 1911, com excepção do período entre 1559 e 1759, quando existiu uma outra universidade em Évora (jesuíta, não tão abrangente como a de Coimbra), a única não só no Portugal europeu, mas também no vasto império português, em contraste com o que se passou no Império espanhol. Algumas da universidades mais antigas do continente americano datam do século XVI: as mais antigas são as universidades de São Domingos (1538), São Marcos, (Peru, 1551), México (1553).

O ensino superior no Brasil

O maior dos países de língua oficial portuguesa é o Brasil. Durante muitos anos os naturais do Brasil e dos outros territórios do antigo império português frequentaram a Universidade de Coimbra, por esta ser única até 1911 (com a excepção já referida de Évora). Em 17 de Dezembro de 1792, foi instalada no Rio de Janeiro, então capital do Estado do Brasil, a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, criada à semelhança da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, fundada pouco antes em Lisboa. É considerada uma precursora do ensino superior militar e de engenharia, tanto no Brasil como no continente americano [45]. No Brasil, a primeira faculdade foi a de Medicina da Bahia estabelecida no Hospital Militar Real, sito no antigo Colégio de Jesuítas, em 1808, pelo Príncipe Regente D. João, mais tarde D. João VI, que chegou com a corte ao Brasil nesse ano. Em 1809 foi criada uma escola médica no Rio de Janeiro. Entre 1808 e 1810, o governo português fundou duas novas escolas militares: a Real Academia Naval e a Real Academia Militar. Em 1827, com o Brasil já independente, foram fundadas as primeiras faculdades de Direito do país, nomeadamente a Faculdade de Direito do Recife e a Faculdade de São Paulo, que se tornaram pólos intelectuais do Império.

As primeiras universidades só surgiram no Brasil no início do século XX. Quando foi criada a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, já havia 20 universidades na América Latina… Em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo (USP), que se tornou o maior centro de investigação nacional. Está nos lugares 101-150 do ranking de Xangai, sendo a melhor universidade do espaço lusófono [44]. Outras universidades de assinalar, porque estão nesse ranking são a Federal de Rio Grande do Sul, a Estadual Paulista (UNESP), a de Campinas (Unicamp), todas elas nos lugares 301-400, e a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nos lugares 401-500. Até ao lugar 1000 aparecem mais 15 universidades brasileiras. Há, portanto 6 universidades portuguesas e 20 brasileiras nas mil melhores universidades do mundo.  Não é muito, atendendo ao número de falantes de português.

Há actualmente 8,6 milhões de estudantes no ensino superior no Brasil [46]. O ensino superior brasileiro, articulado num sistema bem maior e  mais complexo do que o português, compreende universidades, centros universitários, faculdades, institutos e escolas superiores [47]. Das 2608 instituições de educação superior no Brasil, 108 são universidades publicas (das quais 62 federais) e 90 privadas, 11 são centros universitários públicos e 283 privados, e 143  são faculdades públicas e 1933 privadas, existindo ainda outras 40 escolas públicas. Incluindo todas as tipologias, uma percentagem de 88% são privadas e 22% são públicas.

O ensino superior nos outros países de língua portuguesa

Nos outros países de língua portuguesa, o número e desenvolvimento das universidades reflecte o grau de desenvolvimento desses países, que nalguns casos é ainda bastante limitado. Em Cabo Verde há uma universidade pública, a Universidade de Cabo Verde (fundada em 2016), e várias escolas superiores privadas. Na Guiné-Bissau há a Universidade Amílcar Cabral (fundada em 1999) e uma Escola Nacional de Saúde. Em São Tomé e Príncipe há a Universidade de São Tomé (fundada em 2014) e um instituto superior politécnico.

Tanto em Angola como em Moçambique o ensino superior tem crescido muito, existindo um grande potencial de crescimento. Em Angola há 11 universidades públicas [48]. A Universidade de Agostinho Neto, situada em Talatona (perto de Luanda), com origem nos Estudos Gerais fundados em Luanda no período colonial de 1962, é a mais antiga. As mais antigas depois  da Universidade Agostinho Neto são a Universidade José Eduardo dos Santos, no Huambo (2009), a Universidade Katyavala Bwila, em Benguela (2009), a Universidade Kimpa Vita, no Uíge (2009), a Universidade Lueji A'Nkonde, no Dundo (2009), a Universidade Mandume ya Ndemufayo, no Lubango (2009), e  a Universidade 11 de Novembro, em Cabinda (2009). Existem também escolas politécnicas.

Em Moçambique existem 9 universidades públicas [49], das quais as mais antigas são a Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, que é a antiga Universidade de Lourenço Marques (1962), a Universidade de Maputo (1995), a Universidade Lúrio, em Nampula (2006), a Universidade Save, em Chongoene (2007), e a Universidade Zambeze, na Beira (2007).

Em Timor, que não é um país de língua oficial portuguesa, há a Universidade Nacional de Timor Lorasae (2000).

Finalmente, em Macau, na República da China, território onde o português é uma língua minoritária, existem 10 instituições de ensino superior, sendo 4 públicas e 6 privadas: destacam-se as Universidade de Macau e a Universidade Politécnica de Macau. A primeira está nos lugares 401-500 do ranking de Xangai e a segunda nos lugares 601-700 [44].

Com excepção de Macau, o português é a língua dominante em todas as instituições de ensino superior do mundo lusófono. Existe uma associação de Universidades lusófonas.

6- Considerações finais

O crescimento do português no mundo foi mais rápido que o do espanhol e inglês se compararmos o números de falantes actuais com o de 1500: o crescimento foi 1,09% ao ano [1]. Esse número vai continuar a crescer: projecções para 2100 indicam que o maior grupo estará em África, principalmente Angola e Moçambique, com 270 mil milhões de falantes nesse continente, uma vez que as populações de Portugal e Brasil vão diminuir.

Ao longo do presente século, muito pode ser feito para valorizar o papel da língua portuguesa do mundo. O português, nos sistemas de I&D e no ensino superior, vai continuar a ser uma grande língua de criação e transmissão de ciência, naturalmente mais nas ciências sociais e humanas, mas também nas ciências exactas e naturais e nas engenharias. Para o ser mais será preciso alargar o ciberespaço de língua portuguesa, com o crescimento dos repositórios de trabalhos científicos recentes («ciência aberta») e dos repositórios de documentos digitais de todo o tipo que asseguram a preservação do património escrito de ciência e, mais em geral, de cultura. O português é actualmente a quinta língua mais usada na Internet, apesar de ainda haver largo défice de digitalização de documentos que estão no domínio público. Se compararmos os acervos digitais com a totalidade dos acervos existentes em bibliotecas nacionais, regionais e universitárias no espaço de língua portuguesa, concluirmos que a visibilidade no ciberespaço dos seus espólios antigos é ainda bastante limitada. Destacam-se nesta área os trabalhos da Biblioteca Nacional de Portugal [50] e da Universidade de Coimbra [51]. O repositório de fundoi antigo a Universidade de Coimbra – intitulado Alma Mater – inclui um numeroso conjunto de obras científico-técnicas - o Rómulo Digital [52].

A língua portuguesa tem um futuro promissor, mas, para poder tê-lo de modo mais eficiente, seria bom que os países lusófonos acordassem na ampliação dos seus arquivos digitais, se possível de forma cruzada, facilitando a acesso à informação urbi et orbi.

Finalmente, apesar de serem conhecidas as dificuldades de unificação ortográfica da língua portuguesa, afigura-se útil a criação de um vocabulário científico-técnico, com a possível validade nos vários países da lusofonia, que deveria estar acessível na Internet.

 

Bibliografia

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[3] Orta, Garcia. Colóquio dos Simples. FIOLHAIS, Carlos e PAIVA, Jorge (coords.),  In FRANCO, José Eduardo e FIOLHAIS, Carlos (dirs.), Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, vol. 15, Primeiro livro de Botânica. Lisboa: Círculo de Leitores, 2018.

[4] FRANCO, José Eduardo e FIOLHAIS, Carlos (dirs.), Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, 30 vols., Lisboa: Círculo de Leitores, 2017-2019.

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[9] CAMÕES, Luís de, Os Lusíadas. In FRANCO, José Eduardo e FIOLHAIS, Carlos (dirs.), Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, vol. 17, Primeira epopeia (Seabra Pereira, José Carlos, coord.), Lisboa: Círculo de Leitores, 2018.

[10] PEREIRA, Duarte Pacheco, Esmeraldo de Situ Orbis. In FRANCO, José Eduardo e FIOLHAIS, Carlos (dirs.), Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, vol. 17, Primeira obra de geografia. Lisboa: Círculo de Leitores, 2018.

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https://en.wikisource.org/wiki/Novum_Organum#/media/File:Instauratio_Magna.jpg

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[14] FIOLHAIS, Carlos, História da Ciência em Portugal, 2.ª edição (revista), Lisboa: Arranha – Céu,s 2014.

[15] NUNES, Pedro,  Obras, vol. II. De Crepusculis, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Academia das Ciências de Lisboa, 2003.

[16] KEPLER, Johannes, Johannes Kepler: Gesammelte Werke. Bd. X: Tabulae Rudolphinae. Bearbeitet von Franz Hammer. München: Beck 1969

[17] NUNES, Pedro, Obras, vol. I, Tratadi da Sphera, Astronomici Introductoiri de Sphaera Epitome, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Academia das Ciências de Lisboa, 2002.

[18]  NUNES, Pedro, Obras, vol. IV, Arte Atque Ratione Nauigandi,  Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Academia das Ciências de Lisboa, 2008.

[19] NUNES, Pedro, Obras, vol. VI, Libro de Algebra en Arithmetica Y Geometria, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Academia das Ciências de Lisboa,  2016.

[20] AVELAR, André de, Chronographia ou reportorio dos tempos o mais copioso que te agora sayo a luz conforme a noua reformação do sancto Papa Gregorio XIII terceira impressão reformado & acrecentado pelo autor.... Lisboa: em casa de Simão Lopez, 1594.

[21] CORTESÃO, Armando e ALBUQUERQUE, Luís de, Obras Completas de D. João de Castro, Coimbra: Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1968-1982, 4 vols. [edição crítica].          

[22]  NICOLAS, Gaspar, Tratado da pratica de Arismetica,  [quinta impressam]. Lisboa : [António Ribeiro?] : a custa de Domingos Míz 1594. Edição em fac-símile: Porto:  Livraria Civilização,  1963, com prefácio de ALBUQUERQUE, Luís de.

[23] FIOLHAIS, Ciência em Portugal, Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2011.

[24] https://www.pordata.pt/Portugal/Despesas+em+actividades+de+investiga%c3%a7%c3%a3o+e+desenvolvimento+(I+D)+em+percentagem+do+PIB+por+sector+de+execu%c3%a7%c3%a3o-1133

[25] https://www.pordata.pt/Portugal/Doutoramentos+realizados+em+Portugal+ou+no+estrangeiro+e+reconhecidos+por+universidades+portuguesas+total+e+por+sexo+(1970+++2015)-237

[26] https://www.pordata.pt/Portugal/Publica%c3%a7%c3%b5es+cient%c3%adficas+n%c3%bamero++publica%c3%a7%c3%b5es+citadas+e+cita%c3%a7%c3%b5es-1996

[27] FERRAND, Nuno (coord.), A Evolução da Ciência em Portugal (1987-2016). Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2019.

[28] https://recognition.webofscience.com/awards/highly-cited/2021/?campaignname=Press_Highly_Cited_Researchers_SAR_Global_2021&campaignid=7014N000001YX46&utm_campaign=Press_Highly_Cited_Researchers_SAR_Global_2021&utm_source=earned_coverage&utm_medium=press

[29] DAMÁSIO, António, O Erro de Descartes : emoção, razão e cérebro humano. Ed. rev. e actualiz. [Lisboa] : Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2011. 

[30] https://www.pordata.pt/Europa/Pedidos+de+patentes+ao+Instituto+Europeu+de+Patentes+(IEP)+por+milh%c3%a3o+de+habitantes-3576

[31] MONIZ,  Egas, A Vida Sexual, 2 vols., Coimbra : França Amado, 1901-1902,

[32]  https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_research_and_development_spending

[33] https://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_Nacional_de_Pesquisa_em_Energia_e_Materiais

[34] https://ruf.folha.uol.com.br/2019/ranking-de-universidades/pesquisa/

[35] https://www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml?https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/06/1463518-fiocruz-embrapa-e-inpe-lideram-pesquisa-no-pais-diz-novo-ranking.shtml

[36] https://www.scimagojr.com/countryrank.php

[37] https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/impacto-cientifico-do-brasil-em-24-areas-em-comparacao-com-portugal/

[38] https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_e_tecnologia_no_Brasil

[39] https://en.wikipedia.org/wiki/World_Intellectual_Property_Indicators

[40] FIOLHAIS, Carlos, Bartolomeu de Gusmão e o seu balão. In FIOLHAIS, Carlos [et al.] – Bartolomeu Lourenço de Gusmão : o padre inventor. Rio de Janeiro : Andre Jakobsson Estúdio, 2011. (Brasiliana da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra , 1) ISBN 9788588742482. p. 15-31. (Disponível em http://hdl.handle.net/10316/40984).

[41] https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_de_Coimbra

[42]  https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_universidades_de_Portugal

[43] https://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+no+ensino+superior+total+e+por+subsistema+de+ensino-1017

[44] https://www.shanghairanking.com/

[45 https://pt.wikipedia.org/wiki/Real_Academia_de_Artilharia,_Fortifica%C3%A7%C3%A3o_e_Desenho

[46] https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/ensino-superior/2020/10/4884088-total-de-alunos-do-nivel-superior-cresce-18--e-so-pelo-ensino-on-line.html

[47]  https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2020/Notas_Estatisticas_Censo_da_Educacao_Superior_2019.pdf

[48] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_institui%C3%A7%C3%B5es_de_ensino_superior_em_Angola

[49] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_institui%C3%A7%C3%B5es_de_ensino_superior_em_Mo%C3%A7ambique

[50] https://bndigital.bnportugal.gov.pt/

[51] https://almamater.uc.pt/

[52] https://am.uc.pt/romulo



[1] As Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, dirigidas por José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais, são um conjunto de quase uma centena de textos  em 30 volumes que o Círculo de Leitores publicou entre 2017 e 2019 sob a égide da Universidade de Coimbra e da Universidade Aberta, com prefácio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

[2] A sua tradução foi publicada em 1567 sob o título de Aromatum et Simplicium aliquot medicamentorum apud Indios nascentium historia, da qual há uma reedição em fac-símile da Junta de Investigações do Ultramar, em 1964.

[3] A primeira tradução em castelhano foi Cristóbal Acosta: Tractado de las drogas y medicinas de las Indias orientales (1578), da qual há uma reedição em fac-símile da Junta de Investigações do Ultramar, em 1964. A primeira tradução, em italiano, saiu em 1576, em francês em 1602 e em inglês em 1913. Edições recentes em castelhano e em francês são de 2018 e de 2004, respectivamente.

[4] A obra saiu primeiro na casa de João de Barreyra e João Aluares, em Coimbra, em 1551, tendo aparecido em tradução francesa em Paris em 1553, em castelhano em Anvers (1554), em italiano em Veneza  (1557) e em inglês, em  Londres  (1582).

[5] Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto V, estância 18.

[6]  A frase aparece no Esmeraldo de Situ Orbis, manuscrito do século XVI: «a experiência, que é madre das cousas, nos desengana e de toda a dúvida nos tira». A expressão surge noutro passo:  «sendo a experiência a madre das cousas, ela ensinou-nos a verdade segura».

[7] O livro de Bacon é o Novum Organum, cuja primeira parte é a Instauratio Magna. O livro nunca chegou a ser completado.

[8] Astronomiae Instauratae Mechanica, apud Levinum Hulsium, 1598. A Biblioteca da Universidade de Coimbra possui uma cópia. https://digitalis-dsp.uc.pt/html/10316.2/35423/P24.html

[9] Optou-se por modernizar a grafia dos títulos.

[10] Sabe-se pouco sobre o autor: terá nascido em Guimarães, possivelmente de origem judaica, e terá ajudado na preparação de tábuas náuticas.

[11] Aponta-se para a meta de 3% em 2030, objectivo da União Europeia para a média dos seus estados-membros. Mas será uma meta difícil de cumprir, a continuar a lenta convergência que se tem visto.

[12] Repartido com o médico suíço Walter Rudolf Hess, que o mereceu por trabalhos de fisiologia do cérebro não relacionados com os Moniz.

[13] Trata-se de uma contagem fraccionada, que atribui quotas de artigos com vários autores de diferentes países.

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