sexta-feira, 26 de agosto de 2022

CENÁRIOS QUE PREPARAM UM MUNDO SEM ESCOLA?

Na estratégia que, desde finais do século passado, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tem usado para "moldar" o futuro do mundo (ver, por exemplo, aqui) e da escolaridade, ocupa lugar de relevo a noção de cenário prospectivo

Em 2001, avançou seis cenários para a educação, que haviam sido delineados por peritos. A discussão que se seguiu teve a participação de multi-stakeholders. A fim de responder de modo mais concreto a desafios globais inesperados, procedeu a uma reorganização em quatro cenários, que apresentou em 2020 e reafirmou em 2022. Destes fiz alusão aqui, aqui e aqui.

Recordemo-los, na forma interrogativa em que são apresentados pela organização:
Cenário 1: Escolaridade alargada. E se cada vez mais jovens continuarem a procurar educação formal? Seria preciso um sistema com escolas robustas e salas de aulas modernizadas com tecnologia digital, onde se podem usar dados refinados capazes de melhorar o planeamento da educação e um ensino mais eficaz. 
Cenário 2: Educação terceirizada. E se os pais e a comunidade local assumissem o papel central na educação? E se os alunos e as famílias pudessem escolher entre uma ampla gama de alternativas de provedores e plataformas, públicas e privadas, online e offline, nas escolas e em casa, em centros comunitários e no local de trabalho? 
Cenário 3: Escolas como centros de aprendizagem. E se a escola se tornasse totalmente diferente? Os alunos tomavam as suas iniciativas e definiam os seus objetivos em conjunto com os seus colegas e professores. Com mais experimentação e colaboração, além das salas de aula, a educação ocorreria numa vasta rede de espaços, envolvendo a comunidade.
Cenário 4. Possibilidade alargada de aprender. E se não existissem mais escolas? A tecnologia dissolve os limites entre a educação, o trabalho e o lazer, possibilitando a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar, com base na curiosidade e na necessidade de conectar os alunos.
Captando bem estes "desafios", alguns deles contraditórios, Pedro Salgueiro, que é professor, escreveu um texto de feição futurista, com o título Um mundo sem Escola, que publicou, neste mês, no Ponto SJ.
 


Aqui reproduzo um extracto desse texto que nos remete para... um delírio? Tornar-se ele realidade? Queremos que se torne realidade? Estará já em curso? Iremos a tempo de o reverter? Vale a pena pensar nisto...
"... A Escola terminou completamente em 2040. Depois de décadas de reflexão e muita, muita tinta e discussões públicas, os governos mundiais foram concluindo que a Escola já não servia para este tempo. De ano para ano, o número de professores era cada vez menor, o desinteresse e a indisciplina atingiam níveis impressionantes, tinta e mais tinta, críticas e mais críticas… e uma galopante consciência coletiva difícil de descrever, mas que claramente via na escola uma instituição obsoleta, pelo menos nos países ditos ocidentais.
Alguns países foram reduzindo gradualmente a atividade das escolas ao longo dos anos. No início da década de 30 a maioria das escolas começou a funcionar só da parte da manhã, depois passaram a ser só utilizadas para as disciplinas científicas que necessitavam de laboratórios e outros equipamentos. Até que, em 2037, a Finlândia decretou o encerramento das suas escolas. No ano seguinte, seguiram-se países como a França, os EUA e a Alemanha, entre outros. Em junho de 2040 terminou a atividade da última escola no nosso país..."

4 comentários:

Rui Ferreira disse...

Cada um é livre de dizer o disparate que entender.
Se se achar evoluído, o autor sempre se poderá questionar como é que a escola obsoleta lhe deu tamanha clarividência.
O artigo faz lembrar a profecia "a 2000 chegarás, de 2000 não passarás".

Anónimo disse...

Bastam as designações oficiais EB 1, 2, 3 + S + JI, frias e secas, das escolas atuais, que vieram substituir os nomes Escola Primária, Escola do Ciclo Preparatório, Liceu, Escola Industrial e Comercial e Creche, para podermos diagnosticar, à primeira vista, que o sistema de ensino, em Portugal, sofre de alguma grave maleita.
Por mais camadas sucessivas de hipocrisia verborreica com que as autoridades nacionais e internacionais procuram esconder o seu objetivo real de destruição do ensino escolar público, vem sempre ao de cima, para quem está no terreno da educação, o princípio absurdo dos mandantes de que quanto pior melhor, ou seja, de que quanto menos, em quantidade e qualidade, os professores ensinarem, melhores serão as aprendizagens dos alunos. Nos nossos recintos escolares, sente-se no ar uma tensão crescente entre as correntes antagónicas da escola e da anti-escola que, fazendo o paralelo com a aniquilação de um eletrão e de um positrão (anti-eletrão) quando estas duas partículas colidem, não augura nada de bom para os nossos mega-agrupamentos e escolas EB 1, 2 ,3 + S +JI + etc.

Helena Damião disse...

Caro Rui Ferreira, talvez não me tenha explicado bem. O autor, num registo irónico, compõe, a partir dos elementos mais marcantes da "narrativa" para a educação do século XXI, uma história. Ligando esses elementos, dá-nos uma visão integrada do que será uma sociedade sem escola. Penso que isso pode acontecer. Pode acontecer para a maior parte das crianças e jovens a excepção será uma minoria altamente privilegiada, que continuará em escolas de elite. Mas também penso que está nas nossas mãos permitir que tal aconteça. O debate acerca do enorme perigo que estes cenários representam tem de se tornar (mais) aberto aos educadores, de modo mais restrito, e à sociedade, de modo mais alargado. Desse debate decorrerá o futuro da escola. A OCDE joga com uns dados (que, pela sofisticação, parecem mais eficazes do que realmente são), quem se preocupa com a educação escolar joga com outros. É esse confronto que precisamos de continuar a fazer. Cumprimentos, MHDamião

Rui Ferreira disse...

É o que faz ler a correr... daí as minhas desculpas.
Li, comentei e mergulhei nas águas mornas do mediterrâneo.

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