sexta-feira, 5 de agosto de 2022

RETRATO DO TIRANO

Por Eugénio Lisboa 
É próprio do tirano vir dizer
que a vítima da sua tirania
é que é culpada de cometer
o mal que ele traz à sua agonia.

O tirano tortura porque vê
um inimigo em cada ser humano
e um fautor não sabe bem de quê,
mas que o deixa perfeitamente insano.

O tirano assassina e difama,
com uma convicção digna de loucos
e tece uma inconcebível trama

que à piedade faz ouvidos moucos.
O tirano é insensível à dor
e a sua pátria é só o terror.

Eugénio Lisboa 
_____________________________
NOTA: O século XX foi um tempo de muitos e variados tiranos: de direita e de esquerda, tanto faz. Não há tiranias boas e tiranias más. Todas oprimem igualmente e usando os mesmos métodos. Tanto faz morrer à direita, como à esquerda, tudo é morrer sem culpa, ao arbítrio da paranóia de quem manda. Defender uma tirania de esquerda é tão criminoso como defender uma de direita. Eu às vezes penso que, no fundo, elas são todas de direita. Querem todas o mesmo: o poder indiscriminado e não escrutinado. Este soneto foi escrito a pensar neles, um dos monstruosos flagelos do nosso tempo. Outro flagelo quase igual foi o dos que, de boa consciência, lhes deram cobertura e apoio. Entre Hitler e Staline, entre Pol Pot e Mussolini, entre Cunhal e Salazar, o diabo que escolha. Mas estes que cito não esgotam o baralho. O poder totalitário atrai os energúmenos como o excremento atrai as moscas.

1 comentário:

Albino M. disse...

O Eugénio q tome uns calmantes...
Fazia-lhe bem!
(E a nós também...)

AINDA AS TERRAS RARAS

  Por. A. Galopim de Carvalho Em finais do século XVIII, quer para os químicos como para os mineralogistas, os óxidos da maioria dos metais ...