No dia 14 de dezembro, no Centro Ciência Viva Rómulo (de Carvalho), foi feita uma conferência de Natal que tinha na primeira parte uma homenagem a António Manuel Baptista (1924-2015), com a presença da sua filha mais nova, Cristina Ovídio, e de um seu neto, onde foi passado um curioso filme em que Batista lia alguns dos seus poemas. Mais tarde, na segunda parte, Rui Vieira Nery deu uma conferência sobre música e ciência. Excelentes as duas coisas. Neste pequeno texto, apresento as reflexões que se me levantaram enquanto ouvia as palestras e por várias razões não referi na altura.
O número 27 do poema de Baptista também está associado ao número de anos de vida de vários personagens trágicas do rock (Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain, Amy Winehouse, e vários outros). Imagine-se, foram todos poetas antes dos 27 anos! Curiosamente, Ian Curtis foge ao padrão ao suicidar-se com 23 anos. Na verdade, os padrões estão na nossa cabeça, o que parecendo que não, é fantástico. Rui Vieira Nery falou também disso e de como, quanto mais as músicas seguem padrões científicos (das medievais às dodecafónicas e serialistas, de que ouvimos exemplos) mais se dirigem a especialistas e se afastam do público.
A ciência busca padrões, mas esses padrões quase nunca são óbvios. Outro que encontrei, e tenho-o encontrado muitas vezes, foi com a vida de António Manuel Baptista. Muitas vezes, as pessoas que acabam por ser notáveis ou que revelam ser geniais não seguem um percurso linear. Baptista, num dado momento da sua juventude, quis ir para a marinha, mas chumbou devido a uns problemas nos pulmões (teve mesmo tuberculose uns anos mais tarde, tendo estado três anos no sanatório do Caramulo). Devido a isso tornou-se físico (não sem antes se interessar pela química). Curiosamente, aconteceu algo parecido com Jorge de Sena. Chumbou como oficial de marinha e foi para o Instituto Superior Técnico para ser engenheiro. E quando saiu de Portugal, tornou-se professor de literatura, escritor e crítico. As contrariedades ou os caminhos alternativos permitem percorrer, muitas vezes, percursos mais interessantes e ricos. Baptista tinha alguma relutância em dizer os seus poemas, mas no contacto pessoal e nas prestações audiovisuais era genial. Foi, referindo o que disse Carlos Fiolhais, um personagem da imagem e do som, muito à frente do seu tempo, que pelos seus programas de rádio e televisão cativou muitas pessoas para as ciência e as tecnologias.
Quando uma conferência, conversa, leitura, ou outra coisa qualquer nos conduz a novas coisas, estimula e alimenta o nosso pensamento ou abre horizontes, vale bem o tempo.
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