segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Médico e ativista alerta para pseudociência que se faz passar por ciência




Despacho da Lusa saído no DN sobre a inter
venção de Ben Goldacre em Viseu no quadro do Mês da Educação e Ciência da Fundação Francisco Manuel dos Santos:

O médico e ativista britânico Ben Goldacre, alertou hoje para a existência de muitos artigos e publicações pseudocientíficos que se fazem passar por ciência para terem credibilidade.

 Lusa 06 Novembro 2018 —

Ao falar em Viseu, na conferência "Ciência ou pseudociência?", Ben Goldacre considerou que se vive uma fase de transição: antes eram os jornalistas e os editores que divulgavam informações incorretas, agora há "um mundo caótico, com o bom e o mau", devido à Internet.

 Questionado pelo professor catedrático Carlos Fiolhais sobre como saber em que informações se deve confiar, Ben Goldacre respondeu que "não há uma solução", fazendo uma comparação com uma conversa entre duas pessoas, em que uma está a tentar perceber se o que a outra diz é verdade.

 Durante a conferência, o epidemiologista mostrou vários artigos publicados em jornais, como um do Daily Mail com uma listagem de "coisas que podem causar cancro", na qual estavam o divórcio, o wi-fi e o café. Este último voltava a aparecer na lista de "coisas que podem evitar o cancro".

 O académico e autor premiado gracejou que pode haver interesses por detrás destes estudos e deu mais um exemplo com os títulos: "o trabalho doméstico previne o cancro nas mulheres" e "ir às compras pode tornar os homens impotentes". Segundo o investigador da Universidade de Oxford, em ciência não interessam os títulos académicos que as pessoas têm ou dizem que têm, mas sim as provas. A esse propósito, deu o exemplo de uma mulher que dizia ser médica e que dava conselhos de saúde na televisão, quando afinal tinha um curso por correspondência e um certificado da Associação Americana dos Consultores Nutricionais. Ben Goldacre conseguiu este mesmo certificado para a sua gata, tendo para isso apenas de preencher um formulário pela Internet e pagar. "Ela diz coisas como: 'as folhas verdes têm muita clorofila e vão oxigenar-nos o sangue'", contou, questionando como será isso possível, se a clorofila apenas faz oxigénio com a luz do sol e dentro dos intestinos está muito escuro.

 Ben Goldacre mostrou ainda exemplos de gráficos que induzem as pessoas a tirar conclusões erradas e também como é possível adulterar os dados dos estudos, mesmo antes de serem recolhidos. "Há ensaios muito maus, que são encomendados", frisou, acrescentando que há também muitos estudos que nem chegam a ser divulgados, porque os seus resultados não corresponderam ao que era esperado.

 A conferência "Ciência e pseudociência" está integrada no mês da Educação e da Ciência da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

3 comentários:

Rui Baptista disse...

Aliás, a musculação prendia os músculos e fazia mal ao coração com o apoio da "ciência médica". Hoje ela é utilizada na recuperação de cardíacos. O próprio Doutor Kenetth Cooper, com o seu método que atravessou fronteiras e foi uma espécie de bíblia da aptidão física (correr 12 minutos e em função da distância percorrida), foi um apoio fortíssimo para esta falácia que eu desmistifiquei no meu livro, " Os Pesos e halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper" (1973).

Anónimo disse...

Seria preferível, embora mais delicado, comprometedor e provocador falar de "cientistas e pseudocientistas".
Com este título, muitos teriam a tentação de descortinar uns e outros de entre os (seus) conhecidos.
Ninguém tem carteira de cientista, embora haja as de médico, advogado e engenheiro, por exemplo.
Há uma grande confusão entre cientista e académico: o primeiro é um apaixonado, o segundo parece fazer o que pode pela vidinha; quantos videirinhos com currículo científico por esse mundo fora!
Os resultados científicos, aparentemente não são nunca definitivos.
Também se fica com a perceção de que os promotores e fautores destes eventos estão todos do lado certo.

Carlos Fiolhais disse...

Comentário recebido de Rui Baptista:
A frase entre parêntesis do meu comentário anterior está incompleta. Completo-a: correr 12 minutos e em função da distância percorrida classificar a categoria de aptidão do atleta em cinco níveis, muito fraco, fraco, razoável, bom e excelente.

Rui Baptista

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