segunda-feira, 23 de abril de 2018
Damião de Goes, projecto para Mariano Gago
Texto da fotógrafa Luísa Ferreira, que preparou um belo projecto fotográfico de homenagem a José Mariano Gago em Alenquer (com catálogo):
No início de 2015 José Mariano Gago telefonou-me para combinar uma sessão de retrato e uma ida a Alenquer. O que vamos fazer a Alenquer? A minha referência era o presépio gigante que via da Estrada Nacional a caminho da aldeia dos meus pais quando era pequena. No próprio dia, já dentro do carro, Mariano disse-me o que íamos fazer a Alenquer: fotografar Damião de Goes.
Falou-me ainda de Alhazen, físico e matemático árabe do século XI, que “escreveu o primeiro Tratado decente sobre Óptica. Na Antiguidade supunha-se que a luz saía dos nossos olhos para os objectos. Alhazen fabricou várias cameras obscuras. Depois de deduzir a formação da imagem na retina, descobre que a imagem está invertida, que é o nosso cérebro que a descodifica. A imagem
não é fixa e tem que ver com o movimento sensorial.” (das notas que escrevi do que Mariano me disse)
Passámos algures, para buscar o Zé Carlos. Mariano falou-me mais sobre Damião. O grande humanista português do século XVI nasceu e morreu em Alenquer, depois de ter passado muitos anos fora do país. Foi viver para a corte aos nove anos e o Rei enviou-o para a Europa. Conviveu com Erasmo de Roterdão, entre outros pensadores, comprou e partilhou obras de arte, voltou a Alenquer onde adquiriu uma quinta e sofreu com a Inquisição.
Damião de Goes encomendou um busto funerário, e Mariano queria ver esse rosto. Disse-me que seria o retrato mais verdadeiro. Queria olhá-lo de frente. Queria ler o que ele mandara gravar na pedra, pois Goes escreveu o seu próprio epitáfio e a inscrição para a laje tumular. O busto de Damião de Goes estava partido. Não pudemos ver o que Mariano tanto queria. Vimos um rosto alterado.
Para José Mariano Gago, «fotografia é estar com os outros, mostrar-lhes, ver. A fotografia é VER”, como me respondeu, em Dezembro de 2014, a um inquérito feito no âmbito do meu doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O busto estava muito alto na parede da capela, e não havia escadote disponível. Voltei a Alenquer com o Zé Carlos e um escadote para ficar de frente com Damião de Goes. Mariano queria ter um retrato de Damião de Goes na sua casa e queria também colocar um na Real Academia Belga. Queria ainda organizar um Caderno de Alenquer, com fotografias e legendas, que começou a discutir com a sua filha Catarina.
Ao falar com Karin Wall, sua mulher, sobre a possibilidade de fazer uma exposição para homenagear José Mariano Gago, ela pediu-me que concluísse e desse vida ao Caderno de Alenquer, um trabalho que ficara parado desde a morte de Mariano: após a nossa expedição, eu nada mais fizera que uma primeira versão provisória do Caderno, a pedido dele.
Tentei desenvolver este objecto-livro através de uma narrativa fotográfica em torno de José Mariano Gago e de Damião de Goes, procurando na casa de Mariano, lendo Damião de Goes e estudos sobre ele. Voltei a Alenquer, agora com a Descrição da Cidade de Lisboa de Damião de Goes e com o apoio do historiador Filipe Rogeiro (Karin Wall oferecera-me esse livro na minha primeira visita a sua casa). Na Torre do Tombo, onde Damião fora Guarda-Mor, Silvestre Lacerda facultou-me o acesso
a documentos e a importantes livros daquela época, que fotografei.
Paralelamente fui ao encontro de Mariano a casa da mãe, Maria das Dores, descobri o Humanista jovem que não conhecia. Recolhi ainda algumas fotografias que realizei para Mariano Gago enquanto Ministro da Ciência e Tecnologia e mais tarde MCTES. Este trabalho paralelo será publicado em livro com o título Ao encontro de ZÉ MARIANO.
Os dois projectos cruzam-se na presente exposição.
Luísa Ferreira
Agradecimentos
Agradeço especialmente a Karin Wall a confiança pessoal, a colaboração e o financiamento do projecto. E a Dulce Anahory, por me ter apresentado a José Mariano Gago em 1996. Agradeço também a Catarina Wall Gago e a Maria das Dores Pires Gago.
E agradeço a todos aqueles que me ajudaram na pesquisa histórica e documental, na concepção editorial e na realização gráfica e técnica deste livro, e cujos contributos tão importantes foram para mim: Alberto Caetano, Ana Barata, Ana Paula Dias, Ana Trindade, António Coxito, Bruno Carvalho, Célia Cunha Ferreira, Elina Heikka, Filipe Rogeiro, Horácio Villalobos, Hugo Alexandre, Hugo David, meu filho, Inácio Andaluz, José Carlos Nogueira, José Sousa Machado, Leonel Azevedo, Lourenço Correia de Matos, Luís Carrôlo, Luís Filipe Barreto, Márcia Andrade, Maria Carlos Loureiro, Maria José Miguel, Maria Tavares, Miguel Cunha Ferreira, Nuno Pacheco, Nuno Soares, Olli Jaatinen, Rui Prata, Silvestre Lacerda, Vasco Rosa e Vera Velez. E ainda, relativamente à presente exposição agradeço a Chloé Pais Daquet, Luís Figueiredo, Max Man, Rosário Costa e Rui Costa, um agradecimento muito especial ao meu filho pela ajuda preciosa na instalação das fotografias no Museu, na Igreja da Várzea.
Exposição
Ao encontro de DAMIÃO DE GOES para JOSÉ MARIANO GAGO
Luísa Ferreira
Museu de Damião de Goes e das Vítimas da Inquisição - Igreja de Santa Maria da Várzea, Alenquer
25 de Fevereiro a 30 de Abril de 2018
Todos os dias das 10h às 18h
Livraria Sá da Costa – Galeria, Lisboa, Março de 2017.
Livro
Ao encontro de DAMIÃO DE GOES para JOSÉ MARIANO GAGO
fotografias de Luísa Ferreira, 2015-2017
Edição de autor
300 exemplares, impressos por Digiset.
Depósito Legal 422766/17
ISBN 978-989-20-7387-3
2ª edição
aumentada com texto de Karin Wall,
lido pela autora no dia da inauguração
da exposição e da apresentação do livro
na Livraria Sá da Costa – Galeria,
Lisboa, 10 de Março de 2017.
200 exemplares, impressos por Digiset.
Depósito Legal 429724/17
ISBN 978-989-20-7387-3
www.luisaferreira.com
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