segunda-feira, 2 de abril de 2018

Vygotsky: "famoso ... antes de ser lido e conhecido" - 2

Texto na sequência de um anterior (aqui).

Lev Vygotsky com a sua filha Guita Vidodskaia
 (imagem recolhida aqui).
Guita Lvovna Vidodskaia (1925-2010), filha de Lev Vygotsky deu, no ano em que faleceu, uma entrevista a Zoia Prestes, investigadora do Centro Universitário de Brasília, que tem traduzido, directamente do russo para português, a obra desse autor. Zoia apresenta assim Guita
"era psicóloga e dedicava-se aos estudos da defectologia. Apesar de desenvolver estudos valiosos sobre a brincadeira infantil e o desenvolvimento atípico (...), nunca defendeu uma tese de doutorado, dedicando-se de corpo e alma à herança acadêmica do pai. Graças a ela e a alguns colaboradores de Vigotski, como Luria e Leontiev, o mundo teve acesso às obras do teórico. Mesmo antes de escrever a biografia do pai em parceria com Tâmara Mikhailovna Lifanova, Guita abriu os arquivos de fotos e documentos para vários estudiosos estrangeiros da obra do psicólogo. A biografia que escreveu saiu apenas em 1996 e é um registro detalhado de toda a trajetória de Vigotski vista pelo olhar dos amigos, colaboradores e inimigos e, também, pelos olhos da filha, que narra histórias emocionantes vividas com o pai.
A quem se interesse o novo olhar sobre a pessoa que foi Vygotsky, sobre a sua obra psicopedagógica e o contexto em que a desenvolveu, e sobre o modo como ela nos tem chegado, talvez goste de ler a entrevista que se encontra aqui.

Maria Helena Damião e Cláudia Chistina Rocha

3 comentários:

Fernando Caldeira disse...

Vygotsky (morreu em 1934 com apenas 34 anos) desenvolveu o seu trabalho e as suas teorias sobre educação na União Soviética, onde acabou, na época de Estaline, por ser banido cerca de 20 anos. E, por essas razões mas não só, demorou algum tempo a ser divulgado e pouco compreendido no ocidente, onde as ideias de Piaget sobre educação eram (e possivelmente ainda são) preponderantes.
Na sua teoria sócio-histórica Vygotsky concebe o desenvolvimento pessoal como uma construção cultural, sendo a relação entre pensamento e linguagem um dos seus aspectos mais importantes. Uma das ideias-chave da sua teoria é a que relaciona a escola, o ensino formal e sistemático, guiado por adultos, com o desenvolvimento das
potencialidades intelectuais do ser humano.

Considerado por alguns como “o Mozart da Psicologia”, defendeu que o professor é (deve ser) um mediador, um guia (e não um “mero facilitador”), da aprendizagem. Para ele o papel do professor é fundamental. Os conceitos do aluno são formados no processo da aprendizagem, em colaboração com o professor. Para isso o professor tem necessidade de intervir, de trabalhar com o aluno, de fornecer informações, de fazer perguntas, de corrigir e levar o aluno a compreender.

Helena Damião disse...

Agradecemos ao leitor Fernando Caldeira o comentário.
Comentário que corrobora aquilo que tem sido estudado em anos mais recentes. Como a sua filha diz e Zoia Prestes (bem como outros investigadores) tem escrito, parte da obra de Vygotsky foi perdida ou sofreu alterações convenientes ao regime. E da parte restante, aquela que nos chegou revela problemas de tradução e também de manipulação, desta vez em função de orientações pedagógicas que se afirmaram a partir dos anos de 1960 (entre nós um pouco mais tarde, a partir dos anos de 1980).
Por exemplo, a palavra "instrução" que Zoia Prestes recuperou, não pertencendo ao vocabulário destas orientações foi omitida. Ora, é uma palavra central no pensamento do autor pelo, que sem ela, todo o seu pensamento é alterado.
Vygotsky, ao deter-se no papel do professor e na relação que este deve estabelecer com o aluno com vista à aprendizagem, (re)cria um entendimento do ensino, distante do "tradicional" (entenda-se focalizado na transmissão, que beneficiaria alguns, mas não todos) e igualmente distante do "construtivista" (entenda-se focalizado na construção que o aluno faz, autonomamente, do seu conhecimento). Nesse sentido, o seu contributo mantém-se válido e deve ser tido em conta por todos aqueles que se interessam pela educação escolar.
Maria Helena Damião e Cláudia Chistina Rocha

Fernando Caldeira disse...

Vygotsky fascinou-me desde que tive o primeiro contacto com a sua obra, particularmente a importância que atribuía à aprendizagem no desenvolvimento da mente. Era uma tradução (brasileira, claro) de “Pensamento e Linguagem”. A primeira tradução portuguesa (creio) só surgiu muito depois, em 2007.
Contudo, duvido que, caso esse primeiro contacto se tivesse dado através das entrevistas à professora Zoia Prestes sugeridas no post, eu pudesse ter sentido alguma curiosidade em conhecer melhor a sua obra e a sua "galáxia de conceitos".

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