segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

"IN MEMORIAM" DO ORTOPEDISTA MR. DAVID ROUX



Meu artigo de opinião  publicado hoje in Diário as Beiras:

A minha odisseia, como da maioria dos portugueses que se viram impelidos a regressar, depois de 25 de Abril, a este pequeno  torrão de terra, em citação de Pessoa, “onde a terra acaba e o mar começa”, não me permitiu explicar a minha decisão em vir para Portugal, em vez de rumar à África do Sul, a uma personagem de elevadíssima craveira profissional e humanista a quem muito  fiquei  a dever em gratidão, e tal como eu, mas em circunstâncias diferentes, muitos cidadãos de Lourenço Marques que a ele recorriam em consultas ou operações do foro da Ortopedia. Refiro-me a Mr. David Roux de quem tive a triste notícia do seu falecimento (em 1987), através de um documento biográfico, emanado do “Royal College of Surgeons of England”, que traduzo:
“David Roux graduou-se na Universidade de Pretória em 1949 e pouco tempo depois começou a sua formação  em ortopedia, trabalhando principalmente no Hospital Geral debaixo da orientação dos Professores J M Edelstein e G T du Toit. Fez uma breve visita a Londres em 1955 em que passou do inicio ao final do FRCS em apena poucos meses.
Posteriormente passou um ano no Hospital de Cirurgia Especial em Nova Iorque onde trabalhou para o Dr. John Cobb cujo principal interesse era em escoliose e deformidades neuofibromatoses da coluna. No seu regresso à África do Sul criou a primeira unidade de escolioses no Transval onde se deparou com problemas motivados por tuberculose, poliomielite e anormalidades congénitas. O seu trabalho foi lendário mas ainda encontrou tempo para a pesquisa e ensino. Como cirurgião, apesar de da ausência do seu dedo médio da mão, foi o mais dextro, exacto e preciso técnico”.
(Por julgar ser do desconhecimento de grande parte dos leitores, abro um parêntese  para esclarecer que os médicos cirurgiões, membros do prestigiadíssimo “Royal College of Surgeons of England”, não enjeitando a sua herança de barbeiros-cirurgiões, com raízes na Idade Média,  utilizam o tratamento de “mister” em vez de “doctor”).
Como referi no início do meu artigo, perante a perigosa situação que se vivia em Moçambique, no período transição para a respectiva independência, por tencionar rumar para a África  do Sul, passou-me Mr. David Roux  um  certificado (1974) de que cito este pequeno excerto: “Tive uma relação profissional com  ele durante sete anos, através de doentes que lhe enviei para Lourenço Marques. Prestou um excelente serviço e se quiser emigrar para a África do Sul teria prazer em endossar as suas qualidades como um benefício para a África do Sul e em particular para o campo de ginástica correctiva.”.
No meu regresso a Portugal, em concurso púbico  para a leccionar a disciplina de Recuperação e Terapia pelo Movimento, do ISEF da Universidade do Porto, fiquei classificado em 1.º lugar, tendo sido contratado, por despacho do Secretário do Estado do Ensino Superior e Investigação de 21 de Março de 1976.
É, pois, diante da memória de um ser de eleição daqueles que perpassam em nossas vidas, e que pela sua grandeza nos fazem sentir importantes por orbitarmos profissionalmente à sua volta, que eu escrevo este singelo, mas muito sentido texto e me curvo respeitosamente em homenagem póstuma a um cirurgião de inexcedível competência profissional e rigoroso cumprimento do “Juramento de Hipócrates”.  Repouse em paz, meu nobre, meu querido e muito saudoso Amigo, Mr. David Roux.

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