sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O CAVALO E O EXEMPLO DINAMARQUÊS


Outro post do Prof. Arnaldo Dias da Silva, professor jubilado da UTAD - Universidade de Trás os Montes e Alto Douro da área das Ciências Agrárias, que tão pouca atenção têm recebido entre nós (na foto um cavalo lusitano):

Sempre gostei muito de cavalos – são animais encantadores! Quem teve oportunidade de ver cavalos a correr livremente ao vento, aos pulos, alegres, em manada, numa planície sem fim, dificilmente esquecerá tal cenário.

Tenho muita pena de não saber montar! As Terras da Maia ou do Ave onde nasci e onde actualmente vivo não são terras de cavalos. Muitas pessoas dessas terras, como eu, apesar disso, gostam daqueles “bichos”.

Assim, despertou-me alguma curiosidade ler as notícias sobre o interesse do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar em construir um hospital veterinário orientado para cavalos algures bem perto do Porto, entre as Guardeiras e a estação do Metro de Pedras Rubras. Podia ler-se notícia em vários jornais há poucos dias.  

O ICBAS é uma entidade pública, como todos sabemos. Procura obter financiamento para a construção de um hospital veterinário – dificilmente poderia ou deveria seguir outro caminho, parece-me, na hora que atravessamos.

Ou muito me engano ou irá bater à porta do QREN - liderado pela CCRN - Comissão de Coordenação da Região Norte – que facultará fundos muito disputados pelos municípios. A CCRN, naturalmente, disputa estes preciosos fundos - públicos, que todos teremos todos de pagar,  convirá não esquecer.

Depois se verá.... - vamos aguardar. Costuma dizer o povo e assumem-no muitos políticos, que enquanto o pau vai e vem, folgam as costas... Mais tarde, nós ou outros depois de nós, vão ter de se desenrascar.

Que importância (económica) actualmente tem a criação do cavalo para as gentes da Maia? E que importância pode vir a ter no futuro próximo? Seguramente que tem, terá alguma, mas não devo errar se disser que ela é e será despicienda. E o cavalo para recreio ou competição? Será talvez mais importante,  mas pouco mais; dependerá, sobretudo, do poder de compra das populações.

E o cavalo é importante para a economia deste país? É e muito! Outros, mais habilitados que eu, poderão confirmar. Da tauromaquia e dos desportos hípicos, nada sei. Sou frequentador sempre que posso, mas raramente. Na Coudelaria de Alter do Chão, havia (ainda há?) belos exemplares de éguas e cavalos lusitanos.  Uma colega da UTAD teve a amabilidade de me informar que a piscina de Alter está “às moscas”!  Coitada, acabou por ter o mesmo destino que uma linda piscina para cavalos inaugurada com pompa e circunstância no consulado de José Sócrates na UTAD há bem poucos anos, evento sublinhado pelo relinchar de uma bela égua nas cavalariças... Assisti a esta cena.

Mas o titulo deste crónica não sugeria outro assunto? De facto assim era. Tardiamente, aqui vai. Recebi hoje a Newsletter de Outubro da Universidade de Agricultura da Dinamarca (Aarhus).  Nela surge destacado um contrato no valor de 62,5 milhões de coroas dinamarquesas, que vai ser assinado no próximo mês entre o gigante sueco-dinamarquês da indústria dos lacticínios (ARLA) e a Universidade local. 

O contrato prevê a duração de 5 anos. A universidade pretende formar 40 PhD e pós-doutorados.  Ambos vão estudar efeitos nutricionais e na saúde do humano provocada por dietas que contenham produtos lácteos.

A  Universidade do Porto (UP) fica no Porto e em Vairão, cerca de 25 km a norte do Porto. A UTAD fica e m Vila Real, a 120 de distância do Porto.  Fazem aquilo que que sabemos. A LACTOGAL e AGROS, ficam em freguesias de Vila Conde, a 20-30 km do Porto. São as maiores organizações de lacticínios portuguesas, ou seja, dedicam-se, genericamente, à recolha , à transformação e comercialização do leite de vaca. São importantes organizações cooperativas da lavoura do Norte de Portugal.  

Hoje, Portugal já é – felizmente - autónomo no leite em natureza. Importa ainda, sobretudo, alguns iogurtes e queijos. Enquanto isso, o ICBAS – que integra a UP - anuncia a construção de um hospital veterinário para grandes animais – cavalos, sobretudo. A Universidade de Agricultura de Aarhus, Dinamarca – país na vanguarda europeia e mundial dos lacticínios - celebra contrato com a indústria de lacticínios (cooperativa e não-cooperativa associada à cooperativa) para  para  novos desafios alimentares. Portugal está como está. 

Alguma vai mal e, muito provavelmente, não será no reino da Dinamarca...                                    
 Arnaldo Dias da Silva

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