O facto de vermos o plágio dessa maneira (como uma tentação, uma grande tentação, uma tentação irresistível) desencadeia, reactivamente, a nossa compreensão pelo plagiador. Esquecemos o que é o plágio - alguém apresentar a obra ou parte da obra de outrem como se fosse sua - e a sua tipificação na lista dos comportamentos académicos mais reprováveis, isto para não falar no enquadramento legal que tem.
Compreendemos a fraqueza humana, aceitamo-la e desculpamo-la. Raras são as excepções em que tal não acontece e as razões muitas vezes não se prendem com o comportamento de plágio mas com outras pouco confessáveis. Esta é a conclusão que tiro de tudo aquilo a que tenho assistido como professora e investigadora em Portugal.
Não, este texto não é para falar do caso de um Secretário de Estado da Educação que "alegadamente" (como é comum os jornalistas dizerem) terá plagiado dois autores, um dos quais é reconhecido especialista em ética e deontologia das profissões da educação. A comunicação social deu destaque ao caso (diversos artigos que lhe são dedicados estão on-line. Por exemplo, aqui), o texto desse Secretário de Estado encontra-se publicado (aqui), os trabalhos do especialista em causa encontram-se também publicados, em papel. A seguir-se o caminho dos tribunais, suponho que os juristas terão os dados à mão. Além disso, o Secretário de Estado da Educação, invocando razões pessoais, demitiu-se de imediato, saiu de cena.
O que me traz ao blogue é outra razão: a tal compreensão. A tal compreensão que se equipara em gravidade ao plágio.
No caso, ela é mesmo muito grave, e isto pelo facto de ser veiculada pela Associação Nacional de Professores. A carga simbólica não poderia ser mais desfavorável a uma classe profissional - os professores - que tem por dever educar no sentido da "honestidade intelectual".
Repare-se: uma associação de professores, com abrangência nacional, falando por todos os seus associados, vem declarar, em comunicado enviado a uma agência de notícias (não foi, portanto, a reacção espontânea e inconsequente de um membro), que a pessoa em causa:
..."é um profundo conhecedor das questões da Educação", "um referencial importante para os professores, mas também para toda a comunidade educativa, independentemente de todos os problemas com que o Ministério da Educação se defronta".Ora, o que é que estes atributos - "profundo conhecedor das questões da Educação, "referencial importante para os professores", etc. - têm a ver com o plágio que eventualmente tenha cometido?
Não estamos na praça pública para acusar ou para defender: a suspeita existe, as devidas instâncias poderão apurar a verdade; quem está convencido da falsidade da suspeita terá de socorrer-se de provas e não deitar mão a elementos marginais que nada contribuem para esclarecer o que quer que seja, antes parecem servir para desviar a atenção de um aspecto para outro ou, até, para desculpar o indesculpável.
Se o leitor estivesse no lugar desse Secretário de Estado não gostaria, certamente, que alguém, sobretudo se fosse professor, enaltecesse o seu carácter ou trabalho, gostaria, sim, que o ajudasse a defender-se de uma acusação concreta.
1 comentário:
Professora Helena Damião, deixe-lá que o senhor João Granjo não copiou grande coisa!!! apenas “roubou” um monte de palavras estéreis e banalidades... aquilo a que se chama um monte de palha só para encher. Se com isso ganhou algum tempo e fez algo mais útil na sua vida (passear com a família, visitar um amigo) fez bem... e para aqueles que assistem, com sonolência, a este tipo de intervenção garanto-lhe que não ficam incomodados, qualquer coisa serve...
Compreenda que as pessoas perdem imenso tempo em congressos e trabalhos pouco produtivos, quando deveriam fazer trabalho mais sério e responsável.
Deve haver milhares de textos estéreis como este de A. Reis Monteiro que não nos levam a lado nenhum, apenas servem para criar “currículo” para o autor, receber o dinheiro pela intervenção no congresso, mostrar o carro, o fato e a gravata...
E com isto pergunto, mas não há textos importantes, daqueles que mostram a qualidade e coragem de intervir, escritos de forma a que o cidadão comum os entenda, e sobre eles possa formar opinião e exigir a actuação conforme o que pense, sem rodeios, sem a confusão e floreado das palavras... escrito sim, mas com palavras francas, honestas e claras?!
Hoje vivemos uma tendência muito perigosa, que é, a de nos quererem fazer crer que tudo é muito complexo, querem nos fazer acreditar a todo o custo que tudo é muito complexo, até a forma como os Bancos roubam o dinheiro que por tão complexo que é não se pode ir lá buscá-lo...
Onde está, em Portugal, a dimensão, do homem e professor, capaz de actuar corajosamente e em antecipação e falar para o comum do cidadão... onde estiveram os Bentos de Jesus Caraça deste país?!
Não era previsível, para pessoas inteligentes, que a politica europeia nos conduziria a uma situação como a que se vive hoje na ciência e noutros sectores da vida social?! Não havia sinais evidentes disso?! Evidentemente que havia mas não houve é coragem para intervir... Porque não houve na Universidade professores, meia dúzia de professores bastaria, com as qualidades do Professor Bento de Jesus Caraça, a sair da sua trincheira?!
Porque se fez tão pouco com tantos milhões e milhões de euros... porque não se denunciou a clientela que não merecia esses milhões?! Porque andaram todos surdos e mudos?! Porque ensinaram nas universidades as virtudes de um sistema organizacional e económico que agora lhes é parasitário?!
Contudo, estamos sempre a tempo de construir algo bom e grandioso.
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