Hoje Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal, revelou o que já se sabia: que Nuno Crato, ministro da Educação do seu governo, se quer vir embora, pretensão que o responsável máximo pela governação, pelo menos por enquanto, impediu. Muito provavelmente vai aceder à pretensão do seu ministro após a discussão do Orçamento de Estado, por uma razão marcadamente partidária: o ministro da Educação, com a sua actuação desastrada na educação e na ciência (designadamente a má colocação dos professores e o abate de metade das unidades de investigação), está a fazer perder muitos votos ao PSD e ao CDS. A tentativa de sobrevivência política por mais algum tempo de Passos Coelho irá ditar a sorte do seu ministro mais impopular. Para a sua substituição será provavelmente usada uma solução interna, do tipo da que hoje foi publicitada: o secretário do Ensino Básico e Secundário, autor de um plágio, foi substituído por um ex-adjunto do ministro e burocrata do ministério.
Politicamente é insuportável que Passos Coelho mantenha por muito mais tempo um ministro que, pela monstruosidade da máquina e por manifestos erros próprios, já foi colocado por um jornal económico de referência a par do inefável Mário Nogueira e cuja popularidade está abaixo da do extraordinário Miguel Relvas. Na altura certa, isto é, num dia em que se fale menos do assunto, assistiremos a queda do maior responsável pela baixíssima cotação do governo, tal como alguns "barões" do PSD já preconizaram. O anúncio feito hoje de que houve uma demissão destina-se a preparar deste já a concretização futura da saída. Já não será grande novidade.
Curioso é que quem já fez no seu íntimo a avaliação política do ministro da Educação e Ciência é alguém que, tanto na educação como na ciência, tem muito menos capacidades do que o avaliado. Com efeito, toda a gente sabe que o actual primeiro-ministro tentou fazer um curso de matemática numa universidade pública sem o conseguir e acabou por completar, aos 37 anos, um curso de Economia numa universidade privada. Apesar de todos os seus erros mais recentes, na educação e na ciência, Nuno Crato fez uma licenciatura em economia no ISEG e um doutoramento em matemática aplicada pela Universidade de Delaware. Muita gente pergunta como é que ele se deixou encantar por um primeiro-ministro com tantas limitações. E como é que conseguiu conviver com ele durante tanto tempo.
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2 comentários:
Que a sua suposta demissão iminente não sirva de desculpa, está muito a tempo de parar o processo trágico de avaliação dos centros de investigação, que fará retroceder a ciência feita em portugal muitos anos ee desperdiçar um investimento de milhões de euros, e de resolver como deve ser a questão da colocação de professores.
Aqui, e noutros posts, Carlos Fiolhais confunde capacidade científica ou académica com capacidade política. São coisas muito diferentes. No nosso país ainda sobrevive a ideia arcaica de que para se ser capaz em qualquer coisa se deve ser licenciado e ter um dr. antes do nome. Era a ideia de Relvas.
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