Posição da Sociedade Portuguesa de Física sobre a Avaliação pela FCT das Unidades de Investigação da área da Física:
"A SPF manifesta grande preocupação com os resultados da 1ª fase do processo de avaliação pela FCT das unidades de investigação na área da Física.
Estes resultados apontam para o não financiamento, ou financiamento a nível residual, de um elevado número de unidades de I&D em Física de reconhecido mérito, com classificações de “Excelente” ou “Muito Bom” em sucessivas avaliações anteriores realizadas por painéis de peritos internacionais.
Embora a SPF compreenda que há evoluções naturais no sistema científico, cabe à SPF alertar que estão a ser eliminadas ou fortemente constrangidas no seu crescimento, a maioria das unidades que se localizam no Centro e no Norte de Portugal que têm contribuído intensamente para o desenvolvimento da Física em Portugal. A exclusão do sistema de financiamento de cientistas com indiscutíveis provas dadas, mensuráveis bibliometricamente e com impacto na formação de novas gerações de físicos e em novos domínios de investigação, evidencia fragilidades no exercício de avaliação realizado. São aparentes várias falhas. As unidades de Física foram avaliadas por um painel generalista para todas as ciências exatas, contando com quatro físicos num total de 11 membros, sendo notória a falta de especialistas em algumas áreas da Física com maior atividade em Portugal. Dado que a investigação atual de topo tem uma natureza altamente especializada e técnica, o rigor que se pretende na avaliação de unidades de investigação só é possível com painéis de avaliação que integrem personalidades com experiência indiscutível no domínio a avaliar.
Por outro lado, comentários apresentados em alguns relatórios de avaliação denotam falta de conhecimento da realidade local, do modo de funcionamento e financiamento das unidades de investigação em Portugal, e têm origem nas limitações intrínsecas a uma avaliação de base estritamente documental. Os resultados desta primeira fase de avaliação são, em muitos casos, incompreensíveis faces aos indicadores de produtividade das unidades que a FCT publicou. Estas fragilidades poderiam ser colmatadas com visitas do painel de avaliação a todas as unidades de investigação. No entanto, não estão previstas visitas para as unidades que não passaram à segunda fase, numa mudança de metodologia em relação a avaliações anteriores.
A investigação em Física feita em Portugal tem uma afirmação internacional crescente e já bem estabelecida, como evidenciado pelo levantamento de 2014 da Direção-Geral de Estatística da Educação e Ciência, intitulado "Produção Científica em Portugal". De acordo com esse estudo, o impacto das publicações científicas produzidas em unidades de investigação ou em universidades em Portugal na área da Física, no período 2008-2012, ultrapassa a média europeia (UE-15) ficando à frente de países como a Espanha, França, Itália e Bélgica. Verifica-se igualmente um aumento sistemático do impacto das publicações em Física, sobretudo desde 2005.
Neste contexto, com a eliminação no sistema científico português de 50% das Unidades de Investigação na área da Física, os investimentos avultados em equipamento e recursos humanos obtidos em concursos competitivos promovidos pela FCT, União Europeia e outras entidades, serão desperdiçados, dada a impossibilidade de manter em funcionamento regular as unidades sem financiamento estratégico. Estão assim em risco a investigação, a atração de jovens para área da Física e das suas aplicações, a formação graduada e pós-graduada numa área de investigação das mais pujantes em Portugal e essencial para o seu desenvolvimento científico, tecnológico e económico.
A SPF propõe e disponibiliza-se para colaborar no sentido de se proceder a uma revisão equilibrada, informada e técnica dos resultados do exercício realizado, de modo a evitar consequências irreparáveis."
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