domingo, 13 de julho de 2014

A ciência há-de ultrapassar tudo isto

Muitas pessoas que estão ligadas à investigação (para manterem a sua saúde mental em níveis aceitáveis) têm-se afastado (se não fisicamente, pois isso custar-lhe-ia o emprego, pelo menos em termos de atitude) das avaliações que se fazem nas universidades e das universidades, de projectos e de centros de investigação, de artigos e de revistas, de cursos e de unidades curriculares (as antigas disciplinas) e sei lá de mais de quê...

Os parâmetros são tantos e tão complexos, as grelhas são tão extensas e difíceis de preencher, o que vale aqui não vale ali, o que vale agora não vale logo... e depois tudo submetido as umas fórmulas de pedra, que dão (só podem dar) uns resultados incompreensíveis.

Esses conceitos a que uma pessoa se afeiçoa e que julga serem já óbvios quando investiga, como a "objectividade", o "rigor", a "clareza"..., levam um pontapé e desaparecem do horizonte... Fica-se sem rede, não se sabe o que pensar e muito menos o que fazer.

Qualquer tentativa de compreensão deste mundo kafkiano em que, num abrir e fechar de olhos, os processos de financiamento e reconhecimento da investigação se tornaram deixa qualquer um à beira da loucura... E, sem nada adiantar porque a confusão em que mergulha distorce as ideias...

Voltas, mais voltas e vai-se sempre dar ao que é óbvio: todo este aparato burocrático "no sense" montado em torno da ciência  (e das artes, da filosofia, das humanidades, em geral... que também se vêem metidas nisto) nada tem a ver com a ciência  (nem com outras áreas de conhecimento). A ciência está a passar um mau bocado e o lugar onde tem tido um acolhimento preferencial, a universidade, também.

Mas, os verdadeiros cientistas (que se distinguem dos operários-industriais de artigos) hão-de saber ultrapassar isto tudo, e a universidade (que se distingue de uma cadeira de montagem fordiana) também. Afinal uma e outra, as mais das vezes juntas, já passaram por coisas bem piores e sobreviveram.

Maria Helena Damião

3 comentários:

Nuno Henrique Franco disse...

É o tipo de pensamento simplista patente neste post que levou à actual situação, em Portugal. Felizmente este blog pode contar com outros contribuidores.

Anónimo disse...

Senhor Franco: Em vez de chamar nomes podia explicar? Por acaso gostava de entender. É que concordo com a autora mas gostava de ouvir argumentos em contrário.

Nuno Henrique Franco disse...

Senhor/senhora Anónimo(a), não chamei nomes a ninguém. Eu não "fulanizo" as questões. Não ataco pessoas, apenas as ideias.

Mas considero que afirmar, sem o fundamentar minimamente que "os verdadeiros cientistas" ("no true scotsman", uma falácia retórica clássica), os tais que "se distinguem dos operários-industriais de artigos", "hão-de saber ultrapassar isto tudo", ao passo que "a universidade (que se distingue de uma cadeira de montagem fordiana) também" é basicamente wishful thinking, mas intelectualmente fraco.

Entendo que uma investigadora sem UM (!!!) artigo que seja numa publicação internacional como primeira autora se sinta ameaçada (ou não, atendendo que tem a sua posição segura) pelos "operários industriais de artigos", que presumo entender serem os colegas que atraem milhões de euros de investimento com os seus estudos publicados em revistas reputadas e com milhares de citações. Até eu que não sou "pedagogo" tenho artigos científicos, com trabalho experimental em pedagogia numa revista da área que, pasme-se, até tem factor de impacto. Mas entendo as limitações da senhora, porque é de uma outra geração, que não teve que se confrontar com o nível actual de exigência para progredir na sua carreira académica. Outros tempos que não voltam mais.

Entendo ainda que, tendo uma posição estável como docente universitária, ache que ela e os seus pares hão de ultrapassar tudo. Pudera, assim também eu.

Também percebo que quem vê universidades apostadas na investigação e inovação sejam "cadeiras [presumo que quisesse dizer "cadeias"] de produção fordianas" não entenda o valor das mesmas para o papel central destas instituições para o progresso científico nacional e para a sua própria sobrevivência.

Percebo, mas tenho pena que este tipo de pensamento simplista, desinformado, preconceituoso e egocêntrico ainda hoje prevaleça nalgumas universidades nacionais, sobretudo as mais antigas, que estão a ser ultrapassadas a grande velocidade pelas mais recentes. Mas pouco a pouco as universidades ver-se-ão livres destes académicos e do seu pensamento retrógrado, para seu próprio bem e da sua própria sobrevivência.

Está melhor assim, senhor anónimo?

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