terça-feira, 27 de novembro de 2012

Saber pensar sobre problemas morais e políticos

Como pensar correctamente sobre conflitos morais e políticos? Que princípios e métodos nos podem ajudar a sair da mera opinião mais ou menos irreflectida? Como podemos aprender com a história e a filosofia, para analisar proficientemente estas questões e raciocinar melhor sobre elas?

Um aspecto curioso do cientificismo é a ideia de que tudo o que não é ciência não tem qualquer interesse nem valor cognitivo. Logo, é irrelevante o conhecimento da história e da filosofia, porque essas coisas não são científicas. A ironia é que quem assim pensa depois raciocina sobre questões políticas e morais à toa, sem qualquer conhecimento do que distingue um raciocínio plausível nestas áreas de um raciocínio ingénuo.

O primeiro aspecto importante do raciocínio moral e político é que se trata de saber lidar com conflitos de interesses. O segundo é que não há um tribunal de última instância a que possamos recorrer: somos só nós, entre nós, tentando raciocinar da melhor maneira possível sobre os nossos conflitos de interesses.

O que o primeiro aspecto quer dizer é que se não há conflitos inequívocos de interesses nada há para discutir. Uma parte das pseudodiscussões políticas e éticas que ocorrem nos meios de comunicação têm coisa nenhuma por objecto de discussão. O que quero dizer com isto é o seguinte: imagine-se que há pessoas no meu país que querem ter a liberdade para comer pão com caca de cão. Eu acho isso um nojo e se me convidarem para tomar o pequeno-almoço com eles morre-me logo uma tia-avó para eu ter uma boa desculpa para não ir. Mas há aqui algum conflito inequívoco de interesses? Não. Há certamente um conflito vago e irrelevante: eu preferia que não houvesse pessoas destas na minha sociedade. Mas isto é apenas um interesse vago da minha parte. Desde que eu não tenha de conviver com elas e desde que elas não me obriguem a participar dos seus curiosos banquetes e lanches, não há qualquer conflito inequívoco.

Este aspecto está relacionado de perto com o segundo. Dizer que não há um tribunal de última instância para decidir conflitos morais e políticos é uma maneira engraçada de tentar explicar que quando temos um conflito real de interesses temos de levar muito a sério o que as pessoas que estão em conflito connosco realmente pensam. Isto significa que é completamente irrelevante o que nós achamos que elas deviam pensar mas não pensam ou deviam preferir mas não preferem, pois o conflito emerge precisamente do facto de elas pensarem o que pensam e terem as preferências que têm, e não de concordarem comigo. Se concordassem, não haveria qualquer conflito de interesses. Ora, não há maneira alguma de apelar a uma instância superior que ambos possamos reconhecer excepto exactamente os raciocínios que ambos reconhecermos de facto como correctos. É por isso que é irrelevante que eu apele a raciocínios realmente correctos e factos realmente comprováveis quando sei muito bem que os meus opositores rejeitam precisamente tais raciocínios e tais factos. Quando o meu opositor realmente pensa que há extraterrestres no subsolo e resiste a todas as minhas tentativas de lhe demonstrar que não há, tenho de levar muito a sério a sua crença.

Mas, então, há alguma maneira de resolver conflitos de interesses reais e profundos quando as pessoas rejeitam o que me parece óbvio, factual, científico, sensato? Sim, há. Desde que ambas as partes não estejam de má-fé, podem fazer um exercício simples de pensamento ético e político imparcial: o chamado véu da ignorância, usado famosamente por Rawls na sua obra Uma Teoria da Justiça, publicada em 1971 e que eu explico brevemente no meu livro Sete Ideas Filosóficas que Toda a Gente Deveria Conhecer (mas cuja leitura o cientificista rejeita precisamente porque a filosofia não é ciência).

O exercício é o seguinte: eu imagino que vou organizar o enquadramento legal da minha sociedade, sabendo que haverá pessoas como eu — sensatas, lúcidas, bonitas e boas na cama, científicas e informadas, que sempre que vêem uma fotografia de Einstein têm um microorgasmo — mas que também haverá malucos que pensam que há extraterrestres no subsolo e que jamais se deixarão convencer pelas mais sólidas provas científicas de que no subsolo há muita coisa, mas não há extraterrestres. O truque agora é este: eu não sei se serei como sou — sensato, científico e tudo isso — ou um tresloucado. Apenas sei que serei uma dessas pessoas, porque essas pessoas existem na minha sociedade. É este o véu de ignorância: eu ignoro se serei uma pessoa ou outra, mas sei que haverá pessoas dos dois tipos.

Sob este véu da ignorância, como vou ordenar política e juridicamente a minha sociedade? Fazendo este simples exercício torna-se óbvio que não tem qualquer relevância que os tresloucados realmente sejam tresloucados e não tenham razão. Porque eu poderei ser uma dessas pessoas. Assim, a minha preocupação, sob este véu da ignorância, é fazer as coisas de tal maneira que, seja eu um ou outro, me sinta tão bem nessa sociedade quanto possível, sem prejudicar o outro (porque também poderei ser o outro!).

Este tipo de pensamento é muito importante porque quando não se compreende o que está em causa, pensa-se sempre em termos de excluir da sociedade as pessoas que são tão diferentes de nós que nos causa horror que existam. Só que isso é irrelevante. O que conta é que elas realmente existem. Se são sensatas ou tolas é irrelevante.

A segunda coisa que conta, dado aceitarmos plenamente a existência dessas pessoas e o seu direito a existir, é pensar como integrá-las de maneira a que se sintam tão bem quanto possível, sem com isso provocar danos inequívocos a terceiros que não queiram por elas ser prejudicados. Ora, no caso dos extraterrestres, tal como no caso brincalhão do cocó de cão, vê-se logo que não há qualquer conflito inequívoco. O conflito é meramente vago, pois se eu for um dos tolos, é para mim um imenso custo não me ver reconhecido na minha própria sociedade; mas se eu for um sensato, não me custa nada escolher bem os meus amigos e não conviver com os tolos. Não há um conflito inequívoco. Há apenas preconceitos em jogo e luta irracional pelo poder. Nada mais.

Isto é precisamente o que acontece no caso da homeopatia, no caso do ensino do criacionismo aos filhos dos criacionistas, no caso do casamento entre homossexuais e em muitos outros. Em nenhum destes casos há conflitos inequívocos de interesses. De uma parte há apenas um interesse vago em excluir da nossa sociedade pessoas de um certo tipo. Do outro, há uma lesão inequívoca do seu direito a desenvolverem os seus estilos de vida sem prejudicar seja quem for que não queira ser por eles prejudicado. Os homeopatas, tal como os homossexuais casados ou os criacionistas, não interferem de maneira inequívoca na minha vida desde que não me obriguem a usar a homeopatia, não me obriguem a casar com um homem nem a conviver com casais de homossexuais, não me obriguem a ensinar o criacionismo aos meus próprios filhos.

Infelizmente, a maior parte dos debates éticos e políticos populares são pseudodebates. São-no porque, em primeiro lugar, não há conflitos inequívocos de interesses; pelo contrário, há interesses perfeitamente harmonizáveis e coordenáveis. Em segundo lugar, são pseudodebates porque um debate real é uma tentativa imparcial de descobrir a verdade. Estes pseudodebates não são tal coisa. São apenas uma tentativa de empurrar a sociedade na direcção que queremos, direcção essa que envolve a tentativa de destruição dos modos de vida e crenças que não nos agradam. É por isso que algumas pessoas vêem com grande inquietação a legalização da homeopatia ou do criacionismo: porque isso é dar um passo na direcção que eles não querem. O reverso da medalha são as pessoas que não querem os homossexuais casados — isso certamente não os prejudica inequivocamente, mas eles reagem muito intensamente porque sentem que isso empurra a sociedade numa direcção que não querem. Em ambos os casos, há uma ilusão profunda porque em ambos os casos se pensa que se não dermos esse passo as pessoas que gostaríamos que não existissem desaparecem por magia. Mas não desaparecem. Por isso, o melhor é aceitar que realmente existem e dar-lhes as melhores condições que imparcialmente formos capazes de conceber.

Termino com uma nota. Os males da humanidade resultam em grande parte de atitudes irracionais ou pelo menos irreflectidas. Quando as pessoas prejudicam as outras porque querem empurrar a sociedade numa dada direcção estão a ser tolas porque o objectivo visado é, a médio e longo prazo, acabar com as pessoas de que não gostamos. Não queremos que se ensine criacionismo nas escolas, porque temos a esperança de que assim acabem os criacionistas no futuro. Não queremos o reconhecimento oficial da homeopatia, porque assim temos a esperança de que no futuro não existam pessoas que escolham a homeopatia. Esta atitude é estúpida por duas razões. Em primeiro lugar, porque hoje os criacionistas e os homeopatas existem e não vão mudar de ideias; mesmo que não deixem descendentes depois de terem morrido, nessa altura também nós estaremos mortos, pelo que é irrelevante para nós se nessa altura haverá criacionistas ou não — isso é um problema dos nossos descendentes, e não nosso. Em segundo lugar, porque basta um conhecimento elementar da história da humanidade para compreender que os seres humanos são pródigos a inventar tolices para-religiosas. Por isso, mesmo que consigamos que nas gerações futuras não existam mais pessoas que acreditam numa dada tolice — como não existem ou quase não existem hoje pessoas que acreditam nos efeitos místicos da energia vital da electricidade, como no séc. XIX — outras tolices acabarão por surgir. O gosto pelo numinoso está inscrito nos nossos genes e só alguns de nós se libertam disso, mas não temos mais direito a viver harmoniosamente na nossa própria sociedade do que os outros.

71 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Respeito vossa qualidade, literária. Convenhamos, filosofar faz parte do propósito humano.

Anónimo disse...

O Desidério confunde e mistura muita coisa de uma só vez:

Não pode misturar os homosexuais com a homeopatia e o criacionismo.
No caso dos homosexuais, ao liberalizar a sociedade e dar-lhes todos os direitos por igual, nada de novo ocorre, o legislador só confirma uma realidade que já existia na prática, não é por isso que aumentam os indices de homosexualidade na sociedade nem a sociedade saí prejudicada com isso.

No caso da homeopatia e do criacionismo as coisas não são bem assim, já está a falar de realidades objectivas e não de valores, a homeopatia e o criacionismo são tretas que estão devidamente comprovadas que não funcionam ou que não explicam em nada os fenómenos da realidade.
Ao autorizar e ao legalizar e legislar isto, o que vai acontecer é que a sociedade vai integrar na sua consciencia estas ideias e assumir-las como verdadeiras e vão causar transtorno à sociedade, com o agravamento de doenças e morte porque vao preferiar as MA à medicina tradicional, que não cura mas não evita o agravamento da doença e vai-se provocar ignorancia e menos desenvolvimento com o criacionismo que num futuro sumplantar-ia a astronomia e portugal já de sí pais com elevado indice de desconhecimento cientifico da realidade só veria a sua situação agravada, retrocederiamos à idade média neste aspecto!

Deixa-los com as suas praticas, sim mas até certo ponto, legislar e igualar estas práticas nefastas e aldrabonas com aquilo que funcionada isso não.

O desidério tem que ter cuidado com esta mania das igualdades, é muito socialista, igualar o que é desigual! muito cuidado!

Unknown disse...

Se tinha alguma dúvida, agora tenho a certeza. Para o senhor Desidério Murcho não há qualquer distinção entre valores, conceitos ou ideias. São todas iguais e são todas elas válidas igualmente. Depende única e exclusivamente da perspectiva de quem cada um.

Para que fique claro: Eu não quero que se ensine criacionismo nas escolas não com o desejo que acabem criacionistas no futuro. Não quero porque o criacionismo é uma fantasia que não tem cabimento ao lado de outras disciplinas como a História, a Filosofia e as ciências. É que ao contrário do que o seu texto quer dizer, importo-me realmente com o conhecimento e com a educação dos meus filhos e com a dos filhos dos outros.

Este seu texto é o perfeito exemplo do pensamento relativista e pós-modernista que considera que é tudo opinião e que não há factos e que o criacionismo e a evolução são equiparadas.

Para não falar novamente na falácia de imaginar um argumento que não foi lançado e de bater nele até ao fim.

Anónimo disse...

"que estão devidamente comprovadas que não funcionam": estão comprovadas para quem acredita que estão comprovadas. Mas há muitos para quem isso não está comprovado.

Filipe LF disse...

Parabéns Sr. Desidério,
O modo como expõe a sua opinião é duma clareza a toda a prova.
Não nos devemos esquecer que houve em tempos uma inquisição cujos fins eram "apenas uma tentativa de empurrar a sociedade na direcção que queremos (queria) , direcção essa que envolve (envolvia) a tentativa de destruição dos modos de vida e crenças que não nos agradam (agradavam)." e para chegar a esses fins olhava a meios que hoje chamamos de bárbaros.
Não me vejo mais esclarecido que ninguém para impor os meus pontos de vista seja a quem fôr, independentemente de concordar ou não com as suas opiniões ou atitudes, desde que estas não prejudiquem ou lesem outrem.
"É difícil explicar a alguém quanto isto me basta." dizia Caeiro, mas o Desidério explicou-o muito bem. Bem haja.

José Mesquita disse...

Tudo está na forma como se coloca a questão. "Quer uma torradinha barrada com caca de cão?", provavelmente vai me dizer que não. "Quer uma torradinha barrada com um creme que cura e previne doenças?", provavelmente vai me dizer que sim. A homeopatia não passa disto, de vender caca de cão por creme que cura e previne doenças.
Como distinguimos, então, a caca de cão do creme que realmente cura e previne doenças?
Vivemos numa sociedade baseada na ciência e na tecnologia onde a maior parte dos indivíduos pouco ou nada sabem de ciência ou tecnologia. Apenas a usam sem sentido crítico. Como defenderemos esta imensa maioria onde todos nos incluímos pois, mesma aqueles com alguma cultura científica, não sabem(os) tudo sobre tudo?
O erro é inerente à ciência. É a sua base. Por isso se autocorrige constantemente e, em seu nome, não há inquisições pois não há dogmas. Mas apesar disto, dá-nos uma tremenda segurança. Permite fazer previsões que acertam! Nunca nada antes previu tão bem, melhor que uma simples moeda deitada ao ar...
Apenas estudei a filosofia do ensino secundário. A ideia com que fiquei é a de que os problemas são velhos, os mesmos, só as respostas é que são novas.
Pergunto-me se não estaremos, pela primeira vez de forma tão intensa, perante novos problemas que implicam novas abordagens: como defender as pessoas da má fé e das inverdades vendidas e encapotadas em real conhecimento científico.
Não foi Voltaire que disse que não concordava comigo mas que lutaria para que eu pudesse ter a minha opinião? Fantástico. Mas numa sociedade livre, como posso ser livre se não sei o suficiente para me defender do abuso da liberdade por terceiros?

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno José disse...

Foi pena ter filosofado tão pouco sobre a questão pois infelizmente não conseguiu verificar o quão imoral é ensinar criacionismo ou aceitar a homeopatia. São ambas vigarices e como qualquer vigarice deve ser condenada. Eu numa frase consigo ser mais esclarecedor que vossa ex numa data de parágrafos sem nexo.

Joachim disse...

A tua mania das desigualdades "socialistas" também faz com que um argumento que poderia fazer sentido se torne numa simples patetice.

Leonel Morgado disse...

Caro Desidério, sabe bem que está a fazer apenas um exercício de estilo para defender uma posição. Já que não comungo da sua riqueza na arte do sofisma e do artifício, convido-o a usar essa mesma arte para desmontar a posição que acima armou.

Porque a sua posição é - conscientemente - falsa. Quem usa a homeopatia não o faz por uma questão de opinião: usa-a porque confia nas opiniões que lhe chegam. E se corre bem (cura-se por efeito placebo) mais iludida fica. Até ao dia em que precisava de se curar sem ser por efeito placebo e perde tempo e sofre consequência com a homeopatia. E propaga a ilusão de que não só podemos como devemos ignorar conhecimento científico e regressar ao vale-tudo antigo. Isto afeta-me sim senhor, e não é apenas pela perspetiva limitada que dá acima, de ser um caminho que não quero: não! É porque a propagação de ideias obscurantistas, pseudociência e demais tretas contribui para que amigos meus, filhos meus, descendentes meus - talvez eu próprio, quando a doença não me permita defender-me - sofram desnecessariamente e muito. Porque agarradas a estas ideias de rejeição da ciência como o criacionismo ou a homeopatia vêm atitudes e consequências terríveis. Os antibióticos que não se tomam todos por serem "químicos" e por desconhecimento da evolução se perde a compreensão da gerações de bactérias resistentes; as vacinas que não se tomam por serem fruto de conspirações e levam ao regresso de novas variantes de doenças quase extintas; o desinvestimento em áreas comprovadas por se dar mais valor a alguma treta que consome recursos - sim, porque toda a não rejeição de uma linha implica fatalmente consumir recursos da sociedade nela.
Não posso saber se sou louco: mas devo à sociedade presumir que o não sou e lutar com todas as forças para isso. Os loucos farão o mesmo e o futuro não é de quem não luta, mas sim precisamente de quem luta.

Desidério Murcho disse...

Obrigado, Filipe!

Desidério Murcho disse...

Nenhum dos meus opositores consegue compreender o fundamental do pensamento moral. O que conta não é que seja um facto que a homeopatia faz mal, mas antes que não se consegue persuadir as pessoas de que faz mal. Ora, o pensamento à bruta que vocês defendem é assim: se não conseguimos persuadir as pessoas racional e pacientemente, então que se lixe: vamos obrigá-las a viver segundo o que *nós* sabemos que é verdade e acabou-se a conversa.

Se tentarem fazer o exercício que expliquei pacientemente, o véu da ignorância, verão que a vossa posição é insustentável. A vossa posição não é pensamento moral. É apenas a lei da selva, a lei da força, e não a lei da discussão racional de ideias e da persuasão racional paciente. E eu sei que é mesmo essa a vossa mentalidade, daí a necessidade que senti de esclarecer as pessoas.

Eis mais uma tentativa. Imaginem que estão conversando apenas com uma pessoa. Ela insiste em pensar algo que vocês sabem que é falso. Vocês explicam cuidadosamente, mostram, argumentam. E elas não mudam de ideias. O que fazem a seguir? Mandam-na para a fogueira?

O pensamento moral começa precisamente quanto há conflitos de interesses que não podemos resolver racionalmente de maneira óbvia. Temos então de pensar numa maneira de o resolver com a qual essa pessoa casmurra, por mais casmurra que seja, possa concordar. Ficou agora mais claro?

A vossa resposta salazarista é a oposta da minha. Os leitores que decidam de que lado está o pensamento ponderado e defensor da liberdade e do respeito pelas pessoas.

Rui Gonçalves disse...


- A vossa resposta salazarista é a oposta da minha.

A resposta ser oposta da sua, é claramente óbvio, por todo o conteúdo da mesma(s).

A resposta ser salazarista (!!!) significa o quê?

maria disse...

eu percebi o que quis dizer. no Japão engolem polvinhos vivos ( são muito nutritivos , dizem ) e não sei onde fritam baratas gafanhotos ratos cães e comem-nos . e nutrem-se com sucesso :)
e sem diversidade o mundo não tinha avançado um metro. e não somos tão burros como os cientistas nos pintam , a maior parte sabe distinguir quando a vigarizam : se a homeopatia ( não sei o que é )vinga via pub viral é pq , placebo a mais placebo a menos , algum beneficio retiram dela. azar azarinho para a convencional que perde clientes ?

Anónimo disse...

Pois é Maria, tem toda a razão, a convencional é que perde clientes com a homeopatia e as medicinas alternativas.Mas é só até ao dia em que os alopatas conseguirem controlá-las,como já almejaram fazer, através da Ordem dos Médicos, com a acupunctura. Mais dia, menos dia, quando a crise económica reforçadamente apertar e a ineficácia ou os efeitos secundários da convencional aumentarem de pública exposição, ainda haveremos de ver a Ordem dos Médicos homologar a validade científica das alternativas.É tudo uma questão de cifrões e já faltou mais tempo para os convencionais virarem o bico ao prego.

Anónimo disse...

"Não queremos que se ensine criacionismo nas escolas, porque temos a esperança de que assim acabem os criacionistas no futuro. Não queremos o reconhecimento oficial da homeopatia, porque assim temos a esperança de que no futuro não existam pessoas que escolham a homeopatia"

Desidério Murcho

Eu não quero que se ensine a teoria revisionista sobre o Holocausto Nazi porque não corresponde à verdade histórica.Não quero que se ensine criacionismo nas escolas pela mesma razão que não quero que se ensine que o mundo foi criado por Khrishna,no errado pressuposto que qualquer dessas teses religiosas teria base cientifica. E também não quero que se reconheça oficialmente a validade da homeopatia, a menos que haja fundadas razões para considerá-la cientificamente válida. Mas o mesmo digo também relativamente a todos os produtos ou práticas da medicina alopática que não estejam conformes com as boas práticas clínicas. E ainda não quero que se vendam alimentos que possam afectar seriamente a saúde. Quem quiser comer bosta de cão está no seu pleno direito. Mas, num supermercado, não deve ser vendida bosta de cão disfarçada de manteiga de cacau.Como também não devem ser vendidos medicamentos alopáticos ou não alopáticos que façam mal à saúde. Serei salazarento por causa deste meu entendimento ou só o Desidério Murcho é que se julga detentor do pensamento correctamente iluminado?

Anónimo disse...

O Platão lá almejava uma república mandada pelos filósofos. É ver aqui o resultado. Deus nos livre de gente desta.

Fiquem lá pelas as universidades e congressos e clubes de lunáticos às voltas com as vossas premissas, conceitos e corolários e não se metam em coisas sérias.

Fiquem lá a discutir o ser e o não ser, a coisa e o nada, o sol e a alma, a atmosfera e a depressão, assim essas coisas giras de que vocês gostam de falar.

Sempre que vêm falar de ciência (aliás uma obsessão constante, como uma amante que não corresponde) invariavelmente dizem disparates.

Mas não deixa de ser engraçado ver um Murcho aqui a enterrar-se.

Desidério Murcho disse...

Ditatorial: querer impor aos outros, contra a sua vontade, o que insistimos que é melhor para eles, apesar de eles discordarem.

Desidério Murcho disse...

Claro que é salarazento. Porque ninguém o obriga a consumir homeopatia. Ninguém o obriga a mandar os seus filhos aprender criacionismo. Você quer mandar nos filhos dos outros e nas vidas dos outros. E defende a sua atitude ditatorial exactamente do mesmo modo que todos os ditadores: dizendo que do seu lado tem a verdade e os factos. O que você sempre pensou em toda a sua vida era que os ditadores só eram inaceitáveis porque afinal não tinham realmente a verdade e os factos do seu lado. E agora não compreende que eu lhe diga que eles estariam errados mesmo que realmente tivessem a verdade e os factos do seu lado. Caso tivessem condenado Galileu por declarar a Terra imóvel contra a ortodoxia que afirmava que ela se move a condenação não teria sido menos indefensável por isso -- e isto é o que você jamais conseguirá entender.

Desidério Murcho disse...

O Murcho seria capaz de se enterrar bem fundo no seu anónimo, e aí você sentiria pela primeira vez na sua vida o que é a beatificação por via intravenosa, um desiderato curioso.

Para lá dos insultos, que até têm uma certa graça, sobretudo quando temos a idade mental de 12 anos, qualquer leitor que não esteja de má-fé vê claramente que quem quer mandar nos outros não sou eu, que sou filósofo, mas sim os cientistas. O que eu defendo é precisamente que mandar nos outros é sempre uma má ideia, mesmo que tenhamos do nosso lado a ciência. Portanto, quem é platonista aqui, em matéria de filosofia política, não sou eu: são os partidários da ditadura científica.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

(Comentário editado pela autora)

A questão parece ser clara. O que o Desidério Murcho exalta não é a liberdade, é a anarquia.

Imagino que seja essa indiferença quanto aos temas que se ensinam nas escolas que fará que um dia se deixe de ensinar a História, a biologia ou a matemática. Mas isso já sou eu a dar um salto hipotético. Quero acreditar que existem outras tantas pessoas que optam por não se manter debaixo de um mato de ignorância.

Outra confusão, é achar que é moral ou ético deixar-se as pessoas activamente a prejudicarem a sua saúde e a dos outros sem fazer nada contra isso. É que para o Desidério Murcho é apenas uma questão de nojo. Quase uma questão de estética.

"Mas isto é apenas um interesse vago da minha parte. Desde que eu não tenha de conviver com elas e desde que elas não me obriguem a participar dos seus curiosos banquetes e lanches, não há qualquer conflito inequívoco."

Está explicito aqui o cerne da questão. O Desidério Murcho não quer ser incomodado, a sua opção é a indiferença. Se a caca de cão é potencialmente alimento para doenças e infecções, isso é apenas um interesse vago da parte dele.

"E elas não mudam de ideias. O que fazem a seguir? Mandam-na para a fogueira?"

Só consegue pensar nessa solução? O véu da ignorância não permite mais?
É que eu consigo ver tantas outras, uma delas passa por aquela que está em vigor na maioria dos Estados actuais. Ignora-se que existem ideias como as de achar que a terra é plana ou oca como fantasias que são. Ignoram-se as IDEIAS, mas não as pessoas.

Outra maneira, seria activamente tentar educar as pessosas que caca de cão ou de qualquer outro animal incluindo a do Homem, é perigosa. O que não passa pela cabeça de ninguém minimamente inteligente é que o Estado passe a regulamentar quantos dias após a defecção deverá ser a caca de cão consumida.

Não deixa de ser um insulto à inteligência dos demais - aqueles que estão fora do manto de ignorância - julgar que caímos nas analogias ridículas entre a homossexualidade e comer caca de cão.

E antes que me acuse de estar a cometer uma das falácias que tanto usou, eu explico melhor. Equiparar um comportamento ou uma maneira de ser a algo que é potencialmente perigoso para a saúde - é um insulto. Custa-me a acreditar que não saiba ver a diferença entre legalizar a união entre pessoas o do mesmo sexo, que tem por base direitos fundamentais do ser humano; e a protecção da saúde da população (nomeadamente não pactuar com as escolhas individuais de cada um que poderão ser potencialmente perigosas).

As coisas têm de ser analisadas caso a caso e tendo em conta a particularidade de cada situação. Dá trabalho, implica muito mais reflexão que simplesmente nivelar tudo por igual.

Unknown disse...

Esta é muito boa, Desidério Murcho, pelas reacções ao seu pequeno mtexto, conseguiu perceber que a coisa é muito simples e simplificável:

1- Os que discordam de mim são brutos ("nem conseguem compreender o fundamental do pensamento moral", coisa que eu expliquei de forma tão clara)

2- E também são salazarentos (pois opõem-se ao "pensamento ponderado e defensor da liberdade e do respeito pelas pessoas", claramente anti-salazarista)


Notável

Unknown disse...

Apesar disso, a meu ver, a homeopatia continua a merecer ser infinitamente diluída dentro a "ciência" médica, para que quem pretendesse curar tivesse também essa responsabilidade (e qualquer actividade com essa pretensão, incluindo a bruxaria, devia também responsabilizar os intervenientes, bruxos, magos ou médicos).

Quem pretender dar a comer "pão com caca de cão", também o pode fazer desde que não lhe chame bifana, sandes de atum, ou algo do género.

A liberdade é algo importante e a defender, não da maneira leviana (imponderada e insensata) e com a lógica idiota como pretende o Desiderato Murcho. Nem a liberdade deve ser sacralizada, nem é uma finalidade de coisa nenhuma, como parece querer o Sr. Murcho.

Filipe LF disse...

Talvez se não se "empurrar" constantemente uma discussão para o adjectivo e o insulto se consiga de facto discutir.
1- A questão não tem a ver com a homeopatia no que ela possa ter de nocivo ou vantajoso, mas com a imposição de valores individuais tidos como verdadeiros por uma certa quantidade de gente a uma outra quantidade de gente que se vê assim privada do seu arbítrio de acreditar no que queira.
2- Se não vejamos; somos livres de professar uma fé. Esta profissão de fé não tem que ser explicada cientificamente, no entanto deve estar inserida num quadro de convivência social de modo a não prejudicar aqueles que a não professem ou que porventura professem outra fé.
3-Posto isto, não vejo em que é que a regulamentação de práticas com as quais não concordo, mas que sei que há pessoas que seguem, possa ser prejudicial à sociedade.
Por fim, aceito que discordem em absoluto das ideias que exponho, mas não dos termos em que são expostas, por outras palavras, rebater as ideias com ideias é proveitoso, já rebatê-las com adjectivação e insultos não leva ninguém a lado nenhum.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Enfim todos compreendemos que existem pessoas relativamente às quais discordar delas passa a ser pecado, ou seja não se vai para o inferno, mas ganha-se rapidamente e com pouca ou nenhuma sensatez ou ponderação o epípeto de "salazarista ou salazarento" ou "bruto ou selvagem", isto no caso de essa pessoa ser o sr. Desidério Murcho.

Eu creio que se alguém discordar públicamente de uma pessoa com o quilate do Einstein, isso já dificilmente será qualificável (porque não devem existir palavras para definir essa monstruosidade) e dará direito, no mínimo, a internamento num hospício (para a vida porque se trata indiscutivelmente de um caso perdido) e ostracismo do ser em causa, que perderá o direito a ser qualificado como pessoa.

joão viegas disse...

Ola a todos,

Como ja foi dito, o texto do Desidério peca por assentar no pressuposto de que não existe nenhuma diferença substancial entre "conhecimentos cientificos" avalizados pelo processo cientifico, e "valores" que não se submeteram, nem aceitariam submeter-se, a esse processo.

Peca também por assentar numa dicotomia simplista, e errada, entre "respeitar a liberdade individual" e "adoptar regras imperativas". Na verdade, existem muitas situações em que é o facto de não legislar que atenta à liberdade individual, e não o contrario. Por exemplo, a proibição do homicidio é uma norma imperativa, mas a sua vigência é muito mais protectora da liberdade individual (embora a restrinja ligeiramente) do que a situação que existiria se não vigorasse essa norma.

Dito isto, o texto consegue ser muito convincente em dois pontos importantes :

1/ O processo cientifico não assenta primariamente sobre o principio de autoridade (embora não possa totalmente dispensar esse principio, da mesma maneira que a ordem judidica não pode dispensar totalmente o uso da força, muito embora não se resuma a ele).

2/ Muitas vezes, senão mesmo na maioria das vezes, discutimos por paixão, e não com vista a termos uma representação mais clara da realidade. Por exemplo, neste caso concreto, o Desidério estara sinceramente disposto a ouvir argumentos que demonstrem a falacia do seu raciocinio ? Não tenho a certeza...

Boas.

CJT disse...

[off topic, podem apagar após leitura]
saibam que, de cada vez que publicam e apagam um post, este vai desaguar nos leitores de feeds. quer isto dizer que o post "o tempo em geologia" - que parece não ter sido publicado - me apareceu aí uma trintena de vezes, de cada uma das vezes com um "post_id" diferente. isto é digno de nota, especialmente pensando que o autor não queira ver este post publicado. pois bem, foi, e insistentemente.
abraço.

Unknown disse...

Eu cá sinto-me esclarecido, e creio que todo o esforço do sr. Desiderato Murcho já deu os seus frutos, ainda assim agradeço o esforço dos restantes intervenientes na elucidação, esclarecimento e interpretação do pensamento do sr. Murcho, digamos que se se abriu uma nova área na filosofia científica moderna, que se designa "o que interpela o Murcho?" (a informalidade desta designação não pretende atingir o filósofo, que naturalmente merece todo o respeito, mas não é só ele que merece respeito a sua tolice também é igualmente meritória e por isso merece natural destaque. A resposta, para mim é simples (e é a minha própria palermice, que aqui se espreguiça a meio da manhã), mas para cada um dos intervenientes, ainda assim, ela poderá ser diferente, naturalmente que este pequeno comentário apenas foi inserido, no sentido de salvaguardar a liberdade de cada um poder decidir sobre o que terá sido interpelado, uma vez que a liberdade tão cara ao dito Murcho, essa terá de ser salguardada a todo e qualquer custo. E assim me retiro desta discussão idiota.

assinatura (naturalmente ilegível, como convém... )

é que ele à coisas (o melhor é mesmo não dizer mais nada)

Unknown disse...

correcção:

não queria dizer "à coisas", mas antes "há coisas"


pensando bem queria fazer um pedido, por favor ao responsável deste blog, faça com que eu não consiga comentar mais coisa nehuma (para meu bem e o bem dos leitores e frequentadores deste blog, que esses sim merecem todo o meu respeito, mesmo que não concorde com eles na maior parte do tempo e do espaço)

Um belíssimo dia

Rui Gonçalves disse...

Depois de tudo o que foi dito, provavelmente a especialização do Sr. Murcho será a prática do "filosofismo" (para quem não saiba: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, ou outros)

Anónimo disse...

Não consigo ver como se poderá avançar nesta discussão sem balizar melhor o conceito de «liberdade em sociedade».

Pelo que li nos textos, D Murcho considera mais ou menos equivalente «liberdade em sociedade» e «acções que não chateiem terceiros». Eu acho que «liberdade em sociedade» implica «acções que não chateiem terceiros». Quanto à recíproca tenho dúvidas...

Deverá uma sociedade proteger um cidadão de si mesmo? Eu acho que em 99,9% dos casos NÃO! Quero poder beber vinho, fumar, ler TODO O TIPO de livro de astrologia, bater com a minha cabeça na parede, etc. Deverei poder suicidar-me? Muitos são os casos de pessoas que tentaram e estão felizes hoje. Não deverá haver regulamentação? Penso que sim, até porque se for competente mato-me na mesma. E pena de morte? E eutanásia? E publicidade enganosa? O meu direito a ter publicidade sobre coisas que a larguíssima maioria considera nefastas colide com o direito dessa maioria não querer ver os seus filhos a verem a coisa nefasta. Mas se essa coisa nefasta for na televisão podemos mudar de canal. Não é imposta. Mas se for um carro a passar na rua com megafones já é. Há zonas cinzentas! CADA caso é UM CASO. A discussão nunca poderá ser binária como a vejo aqui... É todo um processo dinâmico.

Prezo a liberdade. Acho mesmo que a liberdade tendencialmente dá melhores sociedades do que a educação (caiam todos em cima). Prefiro uma sociedade inculta e livre do que uma ditatorial com pergaminhos culturais. Por uma razão simples, uma sociedade livre permite a excepção (e nós podemos querer ser a excepção). E por permitir essa excepção será sempre culturalmente interessante. Por isso, embora não concordando totalmente com o DMurcho (provavelmente na definição do que é mais ou menos cinzento), concordo numa ideia que ele menciona que considero chave: a colocação no lugar dos outros. Mas a colocação no lugar dos outros tem de ser com a cabeça dos outros e não com a nossa. Também concordo que a definição de zona cinzenta não pode, de forma nenhuma, ser exclusivo da ciência. Caso contrário, Salazar... Devia tentar definir-se melhor «liberdade em sociedade» (que é muito mais difícil de definir do que «liberdade em anarquia»).

A Küttner de Magalhaes disse...

Um dos graves problemas deste nosso tempo é que poucos se dão ao trabalho de pensar, já vem tudo pensado e mastigado por outros!!!!

Logo é mais facil e muito mais perigoso!!!!!

Quanto a Moral como Ética, é muito distante!!!!

Politica é o que não se faz a sério, neste País!!!!!

Rui Gonçalves disse...

Carissimo anónimo!

Diz: "Devia tentar definir-se melhor «liberdade em sociedade» (que é muito mais difícil de definir do que «liberdade em anarquia»)".

Será que pode partilhar com este fórum essa melhor definição?

Anónimo disse...

A idade mental de quem quer enterrar bem fundo no anónimo está bem à vista. Tadinho, murchou-te a máscara.

Anónimo disse...

Claro que é salazarento só na sua mente desviante.Admitir que um supermercado, por exemplo, possa vender caca de cão disfarçada de manteiga de cacau e asseverar que isso é salazarento é mesmo hilariante. Como, do mesmo modo, conceber que, nas escolas, se ensine o criacionismo ou qualquer outra teoria religiosa, com critérios de cientificidade, ao mesmo nível da teoria da evolução darwiniana. Ou aceitar que, nas escolas, se equacione como historicamente válida a tese revisionista do Holocausto, só dá mesmo vontade de rir. Você tem a liberdade de me chamar salazarento, tal como eu tenho a liberdade de pensar que esse seu comentário é uma tremenda bobice e que você nem se apercebe do triste papel que anda aqui a fazer.

Anónimo disse...

Infelizmente não lhe consigo responder pela positiva.

E penso que nenhuma definição será curta e elegante.

Penso que DMurcho a baseia no «desde que o acto não chateie terceiros». Se usarmos essa é curta e elegante (levanta depois o problema sobre o que é chatear terceiros, mas isso é outra conversa).

Eu não tenho tanta certeza nesta equivalência. Será que a liberdade não é compatível com um «desde que não chateie primeiros» em alguns casos?

Mesmo usando a visão de DMurcho, que coisas se legislam, que coisas se proíbem, quem decide o que é ou não chatear terceiros, etc.?

Não o posso ajudar. Tenho dúvidas quanto a uma boa definição. Mas era o queria ver discutido e não uma coisa binária, por vezes totalmente insossa, como, em alguns casos, se vê aqui.

Gosto mais destas discussões quando não são jogos de ping-pong emocionais. Falo em abstracto (não me refiro a nenhum comentário particular).

Que definição propõe?

Anónimo disse...

Desidério Murcho já aqui mostrou o que vale. Muito pouco em termos éticos. É só ver a forma pesporrente como se dirige a todos quantos dele divergem. Então este seu pedaço de escrita é bem elucidativo da sua estaleca intelectual:

"1. Sou filósofo"
2.O Murcho seria capaz de se enterrar bem fundo no seu anónimo, e aí você sentiria pela primeira vez na sua vida o que é a beatificação por via intravenosa, um desiderato curioso".

Desidério Murcho disse...

O que eu usei implicitamente não foi uma definição de liberdade. O que usei implicitamente, se usei algo nessa direcção, é um princípio que regula o que é legítimo proibir nos outros. Esse princípio é conhecido em filosofia política como Princípio do Dano, e foi explicitamente formulado por John Stuart Mill num livro chamado Sobre a Liberdade, publicado em 1859. O princípio do dano diz-nos que a única e exclusiva razão que há para impedir alguém de fazer algo é quando isso prejudica inequivocamente terceiros que não querem ser prejudicados (eu estou a tornar o princípio mais sofisticado do que o originalmente proposto por Mill).

Mas do meu ponto de vista este princípio, na melhor das hipóteses, resulta do véu da ignorância, não sendo por isso um princípio primitivo, no qual a opção pela liberdade se baseia. A opção pela liberdade, que os meus opositores rejeitam, resulta directamente, do meu ponto de vista, de uma exigência simples da racionalidade: a imparcialidade. O véu da ignorância apenas torna isso mais nítido, para quem estiver de boa-fé a discutir estas ideias. Popularmente, a exigência de imparcialidade está presente na ideia de que é importante ver as coisas do ponto de vista dos outros, pondo-nos no lugar deles. E é óbvio que quem defende a ditadura da ciência não está a fazer tal coisa e rejeita fazê-lo. Daí que estas pessoas não estejam realmente a conduzir um debate epistemicamente probo sobre o que devemos ou não legislar e como devemos organizar a nossa sociedade: tudo o que estas pessoas estão fazendo é luta simiesca pelo poder, é o poder da força bruta que está em causa, não é a força da razão que está em causa. A razão é prostituída, sendo usada exclusivamente como uma maneira de lançar a poeira, para parecer que não estamos a fazer uma coisa bem primitiva e bem desagradável: tentar foder os outros.

joão viegas disse...

Caro anonimo,

Por vezes, as coisas parecem inalcançaveis, não porque estejam longe, mas porque estão tão perto que ja não as vemos.

O que o meu amigo procura não sera, muito simplesmente, a definição da liberdade politica proclamada a partir do século XVIII com o aparecimento das sociedades liberais ? (Ha muitas variantes, mas veja por exemplo esta : "A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.").

Boas

Desidério Murcho disse...

Caro Vasco

Concorda que as pessoas que fazem e querem fazer homeopatia merecem o nosso respeito e merecem a plena integração na nossa sociedade? Se sim, é só isso que está em causa. Como fazer depois essa integração? Uma coisa que se pode fazer é tornar obrigatório informar as pessoas que recorre à homeopatia que os cientistas consideram que tais terapias não funcionam e muitas vezes prejudicam gravemente as pessoas. Deste modo, salvaguarda-se as pessoas, mas para o fazer não precisamos oprimir quem quer praticar ou recorrer à homeopatia.

Mas devo fazer notar que o caso da homeopatia é irrelevante. É apenas um exemplo. Se concordarmos com o princípio da liberdade (dar a cada um o máximo de liberdade compatível com igual liberdade de todos os outros), torna-se óbvio que grande parte dos debates supostamente políticos são na verdade apenas uma guerra de poder. Trata-se de um grupo de pessoas a querer eliminar outro grupo de pessoas, rejeitando o pensamento imparcial e o debate de ideias. Porque não é o debate de ideias que está em causa. É a luta política no aspecto mais selvagem. A mera luta irracional pelo poder.

Anónimo disse...

Nada como fazer o filósofo perder a cabeça para averiguar o nível da sua argumentação. Ahahahaha

Desidério Murcho disse...

Começando pelo fim, não se trata de nivelar tudo por igual, mas de raciocinar de maneira consequente. Avançamos na compreensão do mundo quando descobrimos leis cada vez mais gerais, que regulam a queda das pedras à nossa volta, mas também o percurso dos distantes corpos celestes acima de nós. Quando pensamento em termos morais e políticos e queremos pensar de maneira epistemicamente proba, temos de pensar cuidadosamente nas justificações usadas. Se usamos uma dada justificação num caso, temos de a usar em qualquer outro caso que seja suficientemente semelhante -- caso contrário seria como dizer que quando me pisam os calos a mim, isso não vale, mas quando sou eu a pisar os calos dos outros, isso vale.

O argumento de que não devemos acolher a homeopatia na nossa sociedade *porque* isso faz mal às pessoas usa esta justificação: faz mal às pessoas. Evidentemente, isto não funciona, porque nesse caso, para sermos coerentes, teríamos de rejeitar as muitas outras coisas que fazem mal às pessoas, como os desportos violentos, a alimentação desregrada, um estilo de vida sedentário e o tabaco, para dar só alguns casos.

Dar aos outros a liberdade de fazer o que consideramos que os prejudica não nos impede de os esclarecer, informar e educar. Mas esclarecer, informar e educar em liberdade é muito diferente de obrigar e impedir.

Não se trata, pois, de promover a ignorância, mas de a respeitar quando existe. E quando existe, a resposta adequada é o esclarecimento educado, e não a força bruta da proibição. E se depois de todos os esforços educativos as pessoas continuarem a querer acreditar que a Terra é plana, quem é você para lhes retirar esse direito? Evidentemente, se for você mesma a ter essa crença, não gostaria de ser proibida de a ter e de a viver à sua maneira.

O que está aqui em causa é exactamente paralelo à rejeição de modos de vida que não compreendemos e que nos causam rejeição. Daí eu ter usado o exemplo do casamento entre homossexuais. E é aqui que se vê o que é pensar à bruta: a sua justificação para a permissibilidade do casamento entre homossexuais é que isso é um direito fundamental. Curioso. O que a faz pensar que ter direito a um estilo de vida que inclui a homeopatia e a medicina chinesa e a acupunctura, mas não a medicina científica, não é um direito fundamental? O que está em causa é precisamente saber se o é ou não, pelo que recorrer a slogans vazios não é particularmente esclarecedor.

Unknown disse...

sim e sim

Desidério Murcho disse...

Admitir a homeopatia não é vender caca de cão no supermercado disfarçado de manteiga de cacau. É vender terapias e comprimidos que os seus praticantes afirmam funcionar e os cientistas afirmam não funcionar. Podemos perfeitamente obrigar os homeopatas a informar claramente as pessoas que os comprimidos que vendem não têm qualquer garantia científica de funcionar, e nem sequer de não prejudicar a saúde. E depois as pessoas escolhem. A analogia correcta é querer proibir a venda de Coca-Cola e outros lixos alimentares no supermercado. O que fazemos não é isso. Permitimos a venda, mas regulamentamo-la, para que o vendedor não possa dizer que aquilo faz crescer os cabelos do peito, por exemplo.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Gostaria de fazer-lhe uma irreductível escala até, vossa racionalidade. Seria possível, sim senhor! E, disistiria por companhia de vossa cacofonia.

Desidério Murcho disse...

Você pensa realmente que todas as pessoas que discordam de si é porque são vigaristas? Não consegue compreender que uma pessoa possa genuinamente acreditar em Deus? Tem de ser vigarista quem não acredita no mesmo que você? E vigarista em que sentido? Quer enganar alguém? Mas o que é enganar alguém? Não é certamente dizer-lhe o que nós mesmos consideramos que é verdadeiro ainda que, sem que o saibamos, seja falso. Quando você afirma em boa-fé que a Maria está na praia, porque está convencido disso, mas ela afinal foi ao cinema, você está a mentir e a ser um vigarista? Ou está apenas enganado?

O que nos une é isto: você pensa que eu sou uma besta e eu também penso que você é uma besta. O que nos separa é isto: eu quero que você tenha toda a liberdade para o pensar. Você, se puder, manda-me para a fogueira.

Unknown disse...

Continua a argumentar contra um argumento que eu não utilizei. Que é o da proibição da homeopatia ou qualquer outra terapia não convencional.

Continua a insistir que estou a defender que as opções que as pessoas fazem não devem ser respeitadas.

Continua a dizer que a minha resposta à ignorância e daqueles que defendem que o Estado não deveria pactuar com pseudomedicinas é a força bruta, as fogueiras e a inquisição.

Não vou voltar a repetir o que já disse mais de uma vez. Lute à vontade contra os seus espantalhos.

Melhores cumprimentos

Nuno Maria disse...

Desidério Murcho é adepto de uma filosofia curiosa: tudo à balda e fé em Deus. A isso chama ele " viver harmoniosamente em sociedade".

Rui Gonçalves disse...

Estava eu convencido que a prática de boa "cidadania" levaria a que todos os comentadores e sobretudo autores de "posts" aqui publicados
tivessem em linha de conta aquilo que é solicitado pelos autores deste blog, nomeadamente:

2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico.

Mas não, essa regra é desprezada, e pior ainda por autor que pseudo defende, o respeito e a liberdade. Nesse caso o que dizer disto:


"A razão é prostituída, sendo usada exclusivamente como uma maneira de lançar a poeira, para parecer que não estamos a fazer uma coisa bem primitiva e bem desagradável: tentar foder os outros.

Sr. D. Murcho (filosofo de má formação e educação) afinal de que lado é que está o seu citado salazarismo?

Por favor contenha-se.



Anónimo disse...

Andava Desidério em seu quintal
Meditando nas murchas partes.
Pois não havia em Portugal
Tão flácidos estandartes.

Como fazer para passar
Tanta murcheza no cio?
Já a Desidéria a divulgar
Que o homem está por um fio.

Mas vai dom Desidério
E descobre a solução
Compra pílulas mistério
De homeopático tesão.

Ai de quem diga mal
De tão sábia decisão.
Leva com a desideral
Reguada na palma da mão.

Liberdade! Liberdade!
Clama o grande sofista.
Afinal tudo era da idade
De tão fanado artista.

Cláudia da Silva Tomazi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Ricardo Soares disse...

No jogo, na guerra, na política, na economia, nos universos financeiros, no mercado..., o interesse submete tudo, ou quase tudo, e até as alianças e os aliados dependem e obedecem em função de alguma estratégia, ou plano. Convenço-me de que não há alianças nem aliados sem razões de ordem estratégica. É "vital" saber exatamente quem são (ou devem ser tidos como tais) os adversários e quem são (ou devem ser tratados como tais) os aliados. Torna-se tanto mais necessário prever e antecipar as decisões e a conduta de uns e de outros, quanto mais vantagem se quiser extrair da possibilidade de as contrariar e de as frustrar. O interesse em manipular, por exemplo, o mercado bolsista, é de tal ordem que é imperioso tentar manipular os manipuladores e os que tentam manipular estes e assim sucessivamente. A perversão faz de tal modo parte da "realidade" humana, que me parece impossível, não só, conceber aquela sem esta, como também, esta sem aquela. E interrogo-me se não é normalmente assumido que, quem é perverso para combater a perversão, tem cem anos de perdão.Eu preferia que as coisas não fossem assim e não acredito que tenham de ser como são.

E acrescento: o que é a liberdade para a minha vontade?, o dever é o quê?, que representa para mim o dever-ser e o ser? A quê e a quem me subordino e obedeço? A razão há-de ser capaz de alcançar respostas? Há mais racionalidade em perguntar do que em responder? Ou vice-versa? Quem engana quem? E quem se engana si mesmo? E porquê?

José Mesquita disse...

Eis a força da razão:
Facto 1 - As moléculas existem.
Facto 2 - Qualquer diluição para lá do número de Avogadro faz com que deixe de existir determinada molécula diluída.
Facto 3 - A água não tem memória.
Conclusão - medicamentos homeopáticos não têm qualquer acção no que se propõem fazer.
Podemos conjecturar e filosofar muito mas, não interessa o que pensa. A natureza é o que é e não o que quer que ela seja.
Sobre isto não há qualquer ignorância. É este pouco conhecimento que nos permite filosofar. Estamos, e está vivo, por este pouco conhecimento. E qualquer ideia é feito por seres vivos, não mortos...
"...a única e exclusiva razão que há para impedir alguém de fazer algo é quando isso prejudica inequivocamente terceiros que não querem ser prejudicados..." e é isso que realmente acontece quando se permite a homeopatia legalizada. Alguém está a ser assaltado na sua carteira, e na sua saúde, quando consome homeopatia pois acredita que, como lhe dizem, isso funciona.

Anónimo disse...

Ó José Mesquita, não vale a pena. O Desidério agora vai-lhe responder que as pessoas devem ter todo o direito e a liberdade de serem assaltadas e roubadas e prejudicadas.

Com esta gente não vale a pena argumentar. Leia As Nuvens, de Aristófanes, e aí logo vê que, em Filosofia, é possível tudo provar e o seu contrário.

Anónimo disse...

Convém talvez acrescentar que a tal inquisição era produto de outro pensamento que não a ciência a que agora alguns insistem em querer associar na promoção deste ideário pós-modernista. De forma tão expressiva e evidente que fica a perceção de algum complexo de inferioridade. Ninguém na Filosofia deveria ter esse complexo. Nem considerar-se um ostracizado da ciência.

jps

Anónimo disse...

Quem mandava para a fogueira eram aqueles que queriam erradicar o conhecimento científico. Não o contrário. Não tarda nada começam a inverter os papéis...
E uma coisa é uma pessoa acreditar genuinamente num Deus qualquer, outra é acreditar em criacionismos. A primeira não conduz necessariamente à segunda - embora no mundo da ficção tudo seja possível.
E também não é a promover o obscurantismo, sob a égide do pensamento pós-modernista, que vamos tornar a sociedade mais livre... bem pelo contrário.
Isto é que são verdadeiros truques de feira.

Bule Voador

Filipe LF disse...

Agradeço a observação jps, mas utilizei a inquisição como exemplo daquilo em que se pode tornar a atitude descrita no texto; longe de mim comparar a inquisição à ciência. Nem pretendo associar a ciência a coisa nenhuma, muito menos promover um "ideário pós-modernista". Só não me julgo iluminado ao ponto de impor a quem quer que seja crenças certas ou erradas. Do mesmo modo, no caso da homeopatia, não vejo motivos para decretar a sua extinção, apenas preferia que esta ocorresse naturalmente pela formação e educação da sociedade.
O mesmo poderia dizer da astrologia, uma actividade muito mais antiga e desconfio que com muito mais "crentes".
Bem haja

Anónimo disse...

A sua posição está clara. A minha também. Eu defendo que é completamente absurdo admitir-se que, nas escolas, se ensine criacionismo enquanto teoria supostamente " teológico-científca", de concepção da origem do Universo. Como também se me afigura absurdo que, numa disciplina de História, por exemplo, se ensine que o Holocausto possa ser visto à luz de uma inane teoria revisionista e branqueadora dos crimes nazis. Também defendo que, numa sociedade civilizada, é intolerável que possam ser vendidos medicamentos, alopáticos ou homeopáticos, que façam mal à saúde. Você, a todas essas questões, respondeu que o meu entendimento é salazarento. É a sua liberdade de me catalogar como lhe aprouver. A minha, reside na liberdade de afirmar que todo o seu pedante discurso é uma enorme bobice, para não forçar ainda mais a adjectivação.

Desidério Murcho disse...

O que há de errado em mandar para a fogueira é o mandar para a fogueira, tanto faz se é para erradicar o conhecimento científico ou se é para erradicar a homeopatia.

Desidério Murcho disse...

O problema é que você não tem argumentos plausíveis a favor da sua opinião. E eu tenho. Na verdade, você não está sequer interessado em discutir a questão: só está interessado em fazer força para um lado, como explico no fim do meu artigo. Pois se estivesse interessado na discussão teria de mostrar o que há de errado nos meus argumentos. O que significaria ter de começar por formulá-los correctamente.

Faço mais uma tentativa que será gorada: imagine que é você que gosta de fazer algo que os cientistas afirmam fazer-lhe mal. Quer, nesse caso, ser proibido de fazer o que gosta de fazer e que não prejudica seja quem for de modo inequívoco a não ser você mesmo? Outro exemplo: imagine que você é criacionista; acha normal que você não possa decidir se os seus filhos serão educados segundo as suas crenças, sendo obrigado a ver os seus filhos serem educados contra a suas próprias crenças?

Desidério Murcho disse...

A homeopatia só prejudica quem voluntariamente a escolhe, tal e qual como o tabaco. Se você concorda com o enquadramento legal do tabaco, não vejo como discorda do enquadramento legal da homeopatia.

Anónimo disse...

Não é por você repetir argumentos falaciosos " ad nauseam" que passa a ter razão. Já contra-argumentei tudo o que tinha para rebater e não me vou repetir. Quanto a essa tirada de você ter argumentos plausíveis a favor da sua opinião e eu não, respondo-lhe dizendo que " presunção e água benta cada qual toma a que quer"...

Anónimo disse...

Em complemento do meu comentário anterior, limito-me apenas a acrescentar o seguinte:

Só se eu fosse muito tolo é que poderia admitir que nas escolas do meu país, só porque há uns gajos que são adeptos de tese teológica do Criacionismo, o ensino oficial tivesse que contemplar todas as hipóteses sobre a origem do universo, mesmo as mais disparatadas ou sem com qualquer base científica. Agora, se você quer ir por caminho, de defender verdadeiras bobices, continue, incorra no ridículo todas as vezes que lhe apetecer.

Unknown disse...

http://comcept.org/2012/11/29/dom-quixote-e-o-gigante-do-cientismo

Anónimo disse...

"tal e qual como o tabaco"?! Isto é uma falácia.

Alguém acredita que o tabaco resolve algum problema de saúde? Já o mesmo não se passa com outras crenças absurdas, porque demonstradamente sem fundamento, como a homeopatia.

A homeopatia é fé («uma crença com elevado grau de convicção na verdade de uma afirmação, sem razões que estabeleçam a verdade dessa convicção» http://dererummundi.blogspot.pt/2007/04/o-que-f.html). Logo, a nova legislação irá dar enquadramento legal à cura pela fé. Já agora aproveite-se e crie-se também legislação para dar enquadramento legal à beatificação e canonização dos charlatães que passam a ser reconhecidos com força de lei.

A única semelhança com o tabaco poderá eventualmente ser o próprio processo de tentativa de desacreditação da ciência que afirma que a homeopatia é uma fraude e, no contexto da saúde, perigosa, como aconteceu no passado com a questão do tabaco.

Podem fazer-se todos os truques próprios da arte de prestidigitador da verborreia. Não vejo como esta exploração da ignorância e obscurantismo possa resultar numa sociedade mais justa e livre.

Bule Voador

João disse...

http://cronicadaciencia.blogspot.pt/2012/11/drama-e-argumentos-homeopaticos.html

Pepe7 disse...

Se o percebi Desidério, o que tu pretendes é que a Homeopatia, independentemente dos seus efeitos ou da sua natureza, seja vigiada e regularizada pelo estado.

Por exemplo, serias a favor que em cada medicamento homeopático se colocasse um aviso qualquer a dizer que a eficácia médica do produto não está comprovada cientificamente ? Um pouco à semelhança do que acontece com os maços de tabaco legalmente comercializados ?

João disse...

Pedro Ferreira:

Eu aceitaria isso. E muitos ceticos também. O problema é que sabemos com um elevado grau de confiança que não é esse o significado de regular neste contexto.

Sampaio deixou a porta aberta ao dizer que tinhamos de aceitar outras filosofias. A coisa tem estado no entanto em banho maria, não sei porque, talvez algum juiz mais lucido que alguns dos defensores das outras filosofias e agora um grupo de associados dessas coisas conseguiu por o processo em andamento.

Para isso contribui uma enorme popularidade, infiltração do meio académico (não são nada gozados, os outros é que ficam mal vistos porque têm, "a mente fechada") e goza da falta de aprendizagem critica da população. Evidencia anedotica, ensaios sem ocultação e de numeros pequenos, cherry picking, etc são os argumentos que formam a onda destas coisas.

As ordens deste pais e de outros estão minadas destas coisas. Outra coisa que ajuda é o medo dos médicos de se começar a fazer uma caça à má pratica como resposta. Mas isso eles nunca vão confessar. E eu não posso provar, é só para pensarem nisso.

Unknown disse...

Só uma questão aos detractores da homeopatia:

Apesar de não saber nada de nada sobre homeopatia, verifiquei que aparentemente se trata de uma terapêutica cuja popularidade tem crescido nos últimos anos, quiçá por um marketing agressivo ou por as pessoas que a seguiram terem ficado satisfeitas pelos resultados e a recomendaram a outros. Pergunto-me a mim mesmo, e a vocês que são bem mais educados que eu neste assunto, qual será o problema de médicos (certificados para o efeito) poderem seguir essas técnicas e recomendá-las aos seus pacientes (uns e outros decididamente voluntários e crentes na eficácia dessa terapêutica), assim todos os participantes seriam responsabilizados pelas suas acções (uns como médicos e outros como doentes), na pior das hipóteses a coisa não tinha resultado nenhum (a não ser o efeito placebo, que de resto também é considerado pela medicina convencional). Ao fim e ao cabo também a medica tradicional teve um percurso semelhante, começou por ser conhecimento puramente empírico e posteriormente os assuntos foram sendo calma e lentamente estudados e, hoje em dia deve ter-se uma explicação razoável ("quasi-científica") sobre as varias técnicas e fármacos que a medicina tradicional utiliza.

Eu pergunto isto, porque o grande número de pessoas que acha essa terapêutica adequada para o uso no tratemento de doenças, não são todos tolos ou desonestos (eu recuso-me a acreditar nisto), alguma coisa dentro daquilo que parece um absurdo parece satisfazer as pessoas. Talvez existam coisas que ainda não conseguem compreender e explicar satisfatoriamente, mas será licito abandonar praticas que mostrem bons resultados, apenas porque não se encontram explicações razoáveis, não me parece, aliás creio que grande parte do percurso efectuado na medicina se baseou na constatação da eficácia de procedimentos.

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